Certo dia,
alguns dos discípulos se acercaram do Mestre, quando estava em oração, e tão
enlevados ficaram, que lhe pediram:
- Senhor,
ensina-nos a orar, assim como João ensinou a seus discípulos:
Respondeu-lhes
Jesus:
- Quando
orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha a nós o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos
céus; o pão nosso de cada dia nos dá hoje, perdoa-nos as nossas dívidas, assim
como também nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal.
***
‘Orar’ quer
dizer literalmente ‘abrir a boca’ (do latim os,
oris, boca). A verdadeira oração é
uma atitude da alma, um abrimento do espírito humano rumo ao espírito divino.
Por vezes, esta permanente atitude interior pode manifestar-se em transitórios
atos exteriores; mas o principal é a atitude interna. Neste sentido, diz o
Mestre: ‘Orai sempre, e nunca deixeis de orar’. Neste sentido diz ele: ‘Pedi e
recebereis; procurai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á’.
A oração não
tem por fim pedir algo a Deus, ou lembrar a Deus que nos falta isto ou aquilo,
porquanto ‘vosso Pai celeste sabe que de tudo isto haveis mister’. A finalidade
da oração é crear no homem um estado de receptividade própria em face de Deus,
para que lhe possa acontecer o que lhe deve acontecer.
A natureza
extra-hominal está em permanente atitude de receptividade automática e
inconsciente, e por isso não lhe falta nada. O homem, dotado de consciência e
livre-arbítrio, deve crear em si, livre e conscientemente, essa atitude
propícia de recebimento.
Para Jesus, o ‘Pai
está em nós’, e o ‘reino de Deus está no homem’.
A oração é um
despertamento do Pai no homem, uma realização de Deus no homem, uma
conscientização da presença de Deus no homem.”