OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 5 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (PARTE FINAL)

"(...) Queremos sempre saber o que fazer com a negatividade e com certas emoções perturbadoras. Na amplitude da meditação, você pode observar seus pensamentos e emoções com um atitude sem nenhum viés. Quando a sua atitude muda, muda junto toda a atmosfera de sua mente e muda até mesmo a própria natureza de seus pensamentos e emoções. Quando você se torna mais agradável, eles também se tornam; se não tem dificuldades com eles, eles não terão dificuldades com você também. 

Assim, não importa que pensamentos e emoções apareçam, permita que eles venham e assentem, como as ondas do oceano. Não importa o que se perceba pensando, deixe esse pensamento surgir e assentar, sem interferência. Não se apegue a ele, não o alimente, não lhe preste demasiada atenção; não se agarre a ele e não tente dar-lhe solidez. Nem siga ou convide os pensamentos; seja como o oceano olhando para suas próprias ondas ou o céu que do alto observa as nuvens que passam por ele.

Muito cedo descobrirá que os pensamentos são como o vento; eles vêm e vão. O segredo não é 'pensar' sobre os pensamentos, mas deixar que eles fluam através da mente enquanto você a mantém livre de pensamentos supervenientes. 

Na mente ordinária percebemos a corrente de pensamentos como se fosse contínua; mas não é bem isso o que acontece. Você descobrirá por si mesmo que há um intervalo entre cada pensamento. Quando o pensamento passado já passou e o futuro pensamento ainda não chegou, você encontrará sempre uma brecha na qual Rigpa, a natureza da mente, se revela. O trabalho de meditação, assim, consiste em tornar mais lentos os pensamentos; a fim de tornar aquele intervalo mais e mais evidente.

Meu mestre teve um estudante chamado Apa Pant, um destacado diplomata e autor indiano que serviu como embaixador da Índia em várias capitais ao redor do mundo. Ele foi até representante do governo da Índia no Tibete, em Lhasa, e noutro momento no Sikkim. Era praticante de meditação e de ioga, e cada vez que via meu mestre perguntava-lhe 'como meditar'. Seguia uma tradição oriental em que o estudante continua interrogando o mestre com uma pergunta simples e básica, repetidamente.

Apa Pant me contou essa história. Um dia nosso mestre Jamyang Khyentse estava observando uma 'Dança do Lama' em frente do palácio-templo em Gangtok, capital do Sikki, e ria-se das cabriolas do atsara. o palhaço que representa divertimentos leves entre as danças. Apa Pant continuava assediando nosso mestre, e desta vez, quando este respondeu, deixou claro que seria a resposta final e definitiva: 'Veja, é isso aqui quando o pensamento passado acaba e o futuro ainda não começou, não há um intervalo?'

- 'Sim', disse Apa Pant.
-Pois é, prolongue-o: isso é meditação.'"  

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 107/108)
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terça-feira, 3 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (1ª PARTE)

"Quando as pessoas começam a meditar, sempre dizem que seus pensamentos estão desenfreados e tornam-se mais agitados do que nunca. Mas eu as tranquilizo dizendo que esse é um bom sinal. Longe de significar que seus pensamentos estão muito agitados, isso mostra que você ficou mais tranquilo e está finalmente cônscio do quão ruidosos seus pensamentos sempre foram. Não se desencoraje ou desista. O que quer que surja, apenas mantenha-se presente e continue voltando-se para a sua respiração, mesmo no meio da maior confusão.

Nas antigas instruções de meditação, dizia-se que de início os pensamentos chegarão um sobre o outro, ininterruptos, como uma cascata na montanha escarpada. Aos poucos, à medida que se aperfeiçoa a meditação, eles se tornam como a água numa garganta estreita, depois como um grande rio correndo vagaroso para o mar, e por fim a mente se torna um oceano plácido e imóvel, agitado apenas pelo marulho ou onda ocasional. 

Às vezes as pessoas pensam que quando meditam não deveria haver pensamentos ou emoções de espécie alguma; e quando surgem pensamentos e emoções, elas se aborrecem e se exasperam consigo mesmas, achando que fracassaram. Nada pode estar mais distante da verdade. Há um ditado tibetano que diz: 'É querer demais pedir carne sem osso, e chá sem folhas'. Enquanto houver mente, haverá pensamentos e emoções. 

Tal como o oceano tem ondas e o sol tem raios, a radiância própria da mente são seus pensamentos e emoções. O oceano tem ondas, mas não é particularmente perturbado por elas. As ondas são a natureza mesma do oceano, As ondas aparecem, mas para onde vão? De volta ao oceano. E de onde vêm? Do oceano. Do mesmo modo, pensamentos e emoções são a radiância e a expressão da verdadeira natureza da mente. Eles surgem na mente, mas onde se dissolvem? Na própria mente. O que quer que apareça, não o encare como um problema particular, se você não reage de maneira impulsiva, se sabe ser apenas paciente, isso assentará novamente em sua natureza essencial. 

Quando você tiver essa compreensão, os pensamentos que emergem apenas intensificarão sua prática. Mas, quando você não compreende o que eles intrinsecamente são - a radiância da natureza de sua mente -, seus pensamentos se tornam sementes de confusão. Assim, tenha uma atitude aberta, ampla e compassiva em relação a seus pensamentos e emoções, porque de fato eles são sua família, a família da sua mente. Diante deles, pense no que costumava dizer Dudjom Rinpoche: 'Seja como um velho sábio vendo uma criança brincar'" ... continua.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 106/107)
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quinta-feira, 28 de abril de 2022

A MENTE EM MEDITAÇÃO

"O que, então, devemos 'fazer' com a mente em meditação? Absolutamente nada. Deixá-la como está. Um mestre descreveu a meditação como 'a mente suspensa no espaço, em lugar nenhum'.

O ditado é famoso: 'Se a mente não é fabricada, aparece espontaneamente imbuída de uma felicidade sublime, assim como a água que se mostra naturalmente transparente e límpida quando não é agitada'. Com frequência comparo a mente em meditação com um jarro de água barrenta: quanto menos interferência ou agitação tiver, mais as partículas de terra se depositam no fundo, permitindo que a claridade natural da água transpareça. A própria natureza da mente é tal que, se você a deixa em seu estado inalterado e natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que é bem-aventurança e claridade. 

Tome cuidado, portanto, para não impor nem cobrar nada à mente. Ao meditar, não deve haver qualquer esforço na direção do controle, nem empenho em ser pacífico. Não seja solene demais nem se sinta como se estivesse tomando parte num ritual especial; deixe de lado até a ideia de que está meditando. Seu corpo e a sua respiração devem ser entregues a si mesmos. Pense em si próprio como o céu, sustentando todo o universo." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 104/105)
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terça-feira, 26 de abril de 2022

A PRÁTICA DA PRESENÇA MENTAL

"A meditação consiste em trazer a mente para casa, e isso se conquista primeiramente através da prática da presença mental.

Uma vez uma mulher veio até o Buda e lhe perguntou como meditar. Buda lhe disse para ficar consciente de cada movimento de suas mãos enquanto tirava água do poço, sabendo que se ela fizesse isso logo entraria naquele estado de atenção e calma cheia de espaço que é a meditação.

A prática da presença mental, de trazer de volta para casa a mente dispersa e assim colocar em foco diferentes aspectos do nosso ser, é chamada 'Permanência Serena'. A Permanência Serena realiza três coisas. Primeira, todos os fragmentados aspectos de nós mesmos, que estavam em guerra, assentam-se, dissolvem-se e tornam-se amigos. Aí começamos a nos compreender melhor e às vezes até a ter vislumbres da radiância de nossa natureza fundamental.

Segundo, a prática da presença mental dissolve nossa negatividade, agressividade e as emoções turbulentas que podem ter reunido poder ao longo de muitas vidas. Mais do que suprimir emoções ou ser complacente com elas, aqui é importante vê-las, bem como os pensamentos que há na sua mente e qualquer coisa que apareça, com aceitação e generosidade tão amplas e abertas quanto possível. Os mestres tibetanos dizem que essa sábia generosidade tem o sabor do espaço ilimitado, tão caloroso e aconchegante que você se sente envolvido e protegido por ela como por uma manta de raios de sol. 

Gradualmente, ficando aberto e atento e usando uma das técnicas que explicarei depois para concentrar mais e mais sua mente, sua negatividade aos poucos se dissolve. Começa a se sentir bem em seu ser, ou como dizem os franceses, être bien dans notre peau (sentir-se bem na sua pele). Disto vem descontração e profundo bem-estar. Penso nessa prática como a mais efetiva forma de terapia ou autocura.

Terceira, essa prática descerra e revela o seu Bom Coração essencial, porque dissolve e remove a crueldade e a destrutividade que há em você. Só nos tornamos de fato úteis aos outros quando removemos a destrutividade em nós. Pela prática, assim tirando de nós a crueldade e a destrutividade permitimos que o nosso autêntico Bom Coração, essa bondade e gentileza fundamentais que são a nossa verdadeira natureza, resplandeça e se torne o clima caloroso no qual florescerá nosso verdadeiro ser. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 91/92)
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quinta-feira, 21 de abril de 2022

O VALOR DAS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES AO CAMINHO

"A vida dedicada ao Caminho é para poucos e, de fato, para muito poucos. Muitos são atraídos por ela como mariposas ao redor de uma vela, mas muito poucos suportam o 'calor', ou seja, o estresse, as renúncias e as disciplinas implícitas e, em particular, a incerteza da realização. Mesmo assim, a tentativa deles é útil; pois ela marca a entrada numa fase na qual, finalmente, o Caminho será procurado, encontrado e trilhado em um estágio posterior. Tais aspirantes... podem estar sofrendo de uma sensação de fracasso e derrota. Na verdade, eles não foram derrotados, nem falharam, pois o tempo deles ainda não chegou e os rigores do Caminho não são para eles... Nesses casos, os Egos fizeram o melhor possível, progresso foi feito e elos formados, que serão todos úteis e darão frutos mais tarde. 

A esperança de uma rota mais fácil é muito atraente e sua escolha não é anormal nem deve ser condenada. O mundo perde um ajudante e a Fraternidade perde um recruta, o que é lamentável, mas é melhor que a pessoa seja sincera.

Aqueles que não têm dentro de si total coragem e domínio próprio e que ainda não sentiram o chamado às alturas, não se tornarão alpinistas de sucesso. É melhor para eles ficarem em terreno plano e praticar no sopé da montanha, sendo perfeitamente correto e justificável para eles, ou na verdade, muito sábio. Mas, lembre-se, eles não alcançarão o cume da Kailasa e Daqueles que nela habitam. Que eles sigam um caminho que deve ser 'natural' e, portanto, verdadeiro e estudem psicologia, particularmente a psicologia da intuição. Mas a isso pode ser acrescentado: embora um certo grau de percepção intuitiva possa, porventura, ser desenvolvido sem treinamento e domínio da mente, eventualmente esse treinamento terá que ser realizado e aquele domínio atingido. Caso contrário, os frutos da intuição não podem ser totalmente compreendidos, nem, por essa razão, definidos e compartilhados. Em outras palavras, em sua ascensão, nenhum homem pode ignorar a mente.

Não se pode tornar proficiente em nenhuma ciência sem obedecer às regras e dominar as leis por meio de trabalho árduo. Isto é especialmente verdade para a maior de todas as ciências, a da vida mais elevada e sua realização antes da prova."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 60/61)
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