OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A MORTE DO MEDO

"Do que sentimos medo? É mesmo medo o que sentem os animais quando ameaçados? Ou é uma reação pós-ansiedade, receio do desconhecido ou reação a algum trauma? Existem muitas formas de manifestar o medo; poderíamos citar uma dezenas delas. A ignorância gera medo, assim como as histórias que acabaram em infortúnio. Mas uma coisa é certa: em todos os casos de medo, enquanto eles existem, decerto nada ainda ocorreu. 

A morte é um dos grandes motivos por trás do medo, como também o nosso futuro instável. Há o medo do sofrimento, da dor física, do descaso - e o medo de ser esquecido, que é uma consequência da morte. Não queremos ser esquecidos, pois quem é esquecido morre para a existência. Algumas etnias indígenas, como a dos índios xavante, evitam falar sobre quem morreu, queimam todos os bens de quem se vai, raspam a cabeça em luto e prosseguem com a vida. O legado não fica no nome, mas na continuidade pelos herdeiros, a tradição, a alma, ou o verdadeiro eu, que se transforma em um antepassado, um espírito conselheiro que se manifesta pelas forças da natureza e pelos sonhos.

Na maioria das culturas existe algum tipo de pós-vida, uma morada espiritual, paraíso, totalidade, umbral, inferno, xeol, tártaro, trevas ou castigo. Existe algum tipo de julgamento da alma ou uma consequência dos atos em vida. Mesmo entre os ateus há a crença na dissolução completa da consciência, ou seja, alguma coisa se extingue. Chamemos ou não de alma, o ser corpóreo é veículo de uma inexplicável existência consciente. As religiões, em grande parte, realizam cultos para os mortos, os antepassados, cultos sobre a transição da consciência e reverências à memória, que é uma forma de identificar a personalidade de quem partiu.

O apego a quem amamos gera sofrimento, pela dor da partida ou pelo nosso próprio ego, que não quer sofrer com a ausência. Temos medo do que virá, e, por isso, permanecemos em um sofrer alimentado pela memória e pelo inconformismo, e nos esforçamos para continuar com a verdade inevitável. Não somos educados para morrer ou conhecer a finitude, nem para lidar com o nosso próprio fim. Por isso também os sábios, os santos e as religiões nos falam da importância da alma, ou de quem realmente somos. Não somos um corpo tendo uma vida espiritual; somos um espírito tendo uma vida material - essa máxima pode mudar todo o entendimento, as possibilidades e a perspectiva da vida. 

É imprescindível buscar o significado da vida em face da consciência, das possibilidade de compreender a morte não mais como o fim, mas como uma mudança de paradigma. Os estudos sobre a consciência argumentam que a morte é apenas uma mudança de realidade eletromagnética. Pessoas que tiveram experiências de morte clínica e retornaram relatam fatos semelhantes: encontro com consciências luminosas, personalidades divinas que os questionam sobre o significado de suas vidas. Como consequência, essas pessoas mudaram completamente sua vida, procurando dar um significado mais elevado a suas relações, transformando suas perspectivas e dando fim ao medo.

De certa forma, muitos de nós já vivem no esquecimento, perdendo-se na autocomiseração, ignorando o verdadeiro eu, que não é nosso ego ou a imagem com a qual nos identificamos. Poderia-se até dizer que existe uma forma de morte em vida. Tememos coisas que são transitórias: o que temos, o que poderíamos ter ou o que podemos vir a perder. Em todas as situações, o universo de possibilidade que criamos está em nossa mente, e é em nossa mente que tudo acontece (e talvez parte do que ocorre após a existência material). (...)

A morte do medo em face da vida acontece quando o altruísmo, a benevolência e a preocupação com o próximo se evidenciam como prática contínua de nosso despertar. É claro que outros tipos de medo, como aquele que nos protege quando estamos em perigo, ou o que nos previne contra acidentes, são mais uma forma de bom senso, um tipo de firewall em nosso programa humano. Um despertar da ignorância sobre a jornada da vida, por meio da aceitação pacífica e não passiva de nossas experiências, pode realmente ser uma experiência transcendental e luminosa. Não deixaríamos todos os medos de lado ainda que fôssemos iluminados, mas o produto de nossas ações já não seria a finitude do ser, e sim o despertar do eu. 

Como mostra o Budismo, a morte é uma consequência natural que faz parte das possibilidades de libertação da consciência, o fim dos ciclos de encarnação, que requer de nós, em vida, o despertar, o entendimento, a prática das virtudes que nos liberam do apego e do sofrimento. A bondade é o manto que encobre a mente com a insensatez dos que entram no fogo para salvar a vida de um simples animal e que saem sem sequer uma queimadura, pois não é a razão que está no comando, mas a alma, governando a vontade; 'e, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?' (1 Coríntios 15:54,55.)

O destemor requer de nós a vontade e a atitude de enxergar o lado de dentro antes do lado de fora, de atravessar o rio ou a rua, de falar sem receio de não ser aceito. Esse receio gera desconforto emocional, o que acontece entre os jovens dos dias de hoje, que se abrigam entre os que se sentem da mesma forma, com movimentos que neutralizam a alma com rótulos, ao invés de libertá-la. Em grande parte das vezes, vencer o medo não tem muito a ver com o entusiasmo ou coragem, mas com vencer a si mesmo. 

'E disse ao homem: eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.' (Jó 28:28.) É preciso entendimento e sabedoria; nem todo medo ou temor representa pânico, mas uma forma de respeito ou reverência, como neste trecho de poema: 'Eu respeito aquilo que temo; a grande montanha, o mar e a morte, a vida, o silêncio de Deus e minha verdadeira face longe do espelho e do jogo da sorte.'"

(Maurício de Andrade - A morte do medo - Revista Sophia, Ano 14, nº 63 - p. 8/11)


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A ESCALADA DA EVOLUÇÃO

"A escalada de uma montanha pode ser usada como uma metáfora para analisar a jornada da nossa alma. Existe a possibilidade de verticalidade em nossas vidas, com muitos níveis de realidade que são apreensíveis para nós apenas nos estados mais elevados de consciência. Da mesma forma, quando subimos uma montanha, a paisagem que se revela à nossa visão muda ao atingirmos os níveis mais elevados. O importante é empreender a verdadeira subida, em vez de se engajar em discussões a respeito das paisagens, conforme foram descritas por aqueles que empreenderam a escalada antes de nós.  

O pico de qualquer montanha que valha a pena ser escalada é invisível. Isso se deve às limitações do nosso aparato de percepção. Qualquer descrição do pico só pode ser compreendida no nível mental onde estamos agora. Enquanto esse nível de mente estiver ocupado com conhecimento, que inclui o desejo implícito ou explícito de controlar, a argumentação inteligente pode surgir, mas não a submissão à verdade. É necessário não apenas se livrar do conhecimento, que é sempre do passado, mas também do conhecedor, que separa a si mesmo daquilo que deve ser conhecido. Além disso, é também necessário livrar-se da necessidade de conhecer, que traz em si uma tendência inevitável para o controle e manipulação.

Porém, a base da montanha que vale a pena ser escalada é visível. É ali onde podemos encontrar muita orientação dos sábios e das escrituras, de modo que possamos fazer esforços na direção correta.

No entanto, a jornada é o empreendimento mais significativo, não o aprendizado das escrituras, nem a tentativa de vencer as discussões a respeito de como é o topo. No Bhagavad Gita, Krishna oferece um bom lembrete: o yogue busca refúgio em bhuddi (plena atenção) e adquire cada vez mais estabilidade de atenção, que não é perturbada pelo que teólogos, filósofos e cientistas disseram ou irão dizer. 

O significado da jornada não é ir a algum lugar, mas passar por uma transformação interior do corpo, mente e coração, de modo que nossas percepções se tornem cada vez mais puras e que vejamos o modo como é, não o modo como imaginamos que deveria ser. Mais do que qualquer coisa, o empreendimento dessa jornada de transformação requer de nossa parte o entendimento de que precisamos de uma transformação radical do nosso ser. Até que vejamos o que realmente somos, não poderemos apreciar a necessidade de transformação. Quando começamos a ver a nós mesmos com clareza e imparcialidade, passamos a entender a necessidade da transformação, porque vemos que nossa percepção da realidade é muitíssimo colorida pelo medo, pela autoimportância e pelas forças de recompensa e punição. Então sentimos que precisamos empreender a jornada e que ela vai requerer uma considerável quantidade de disciplina, sacrifício e trabalho duro. 

Somos naturalmente atraídos para o pico da montanha. É uma necessidade de nossa alma. Assim como a única propriedade de uma bússola é apontar para o polo norte magnético, a alma possui apenas uma propriedade: apontar para o real. Mas, do mesmo modo como a bússola pode ser confundida por fortes tempestades magnéticas em sua vizinhança, nossa alma pode ser confundida por fortes tempestades emocionais, a maior delas de medo e ambição. Assim, periodicamente voltamos nosso olhar em direção ao topo, pois é aquilo que nos atrai, aquilo é o nosso Krishna (da raiz karshati, atrair), mas precisamos nos preocupar com o próximo passo. Existem muitas armadilhas, fendas e obstáculos, e podemos cair, nos ferir ou ficar encurralados.

Não há garantias. Sábios e escrituras podem ser úteis, mas a jornada é sempre um voo do solitário para o Solitário. O melhor auxílio é o de companheiros buscadores que sejam de confiança, e daqueles que amam e apoiam não o que somos, mas aquilo que somos convocados a ser."

(Ravi Ravindra - A Escalada da Evolução - Revista Sophia, Ano 14, nº 63 - p. 5/6)


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO

"O relacionamento é inevitavelmente doloroso, o que é mostrado na nossa existência cotidiana. Se no relacionamento não houver tensão, ele deixa de ser um relacionamento e se torna apenas um confortável estado de latência, um entorpecente - o que a maioria das pessoas quer e prefere. O conflito se dá entre esse desejo de conforto e o factual, entre a ilusão e a realidade. Se você reconhece a ilusão, então pode, colocando-a de lado, dar sua atenção ao entendimento do relacionamento. Mas se busca segurança no relacionamento, ele se torna um investimento no conforto, na ilusão - e a grandeza do relacionamento é sua própria insegurança. Se sua busca for por segurança no relacionamento, você está impedindo sua função, que é provocar suas próprias ações e infortúnios peculiares. 

Certamente, a função do relacionamento é revelar o estado de bem-estar da pessoa. O relacionamento é um processo de autorrevelação, de autoconhecimento. Essa autorrevelação é dolorosa e exige constante ajustamento, flexibilidade do pensamento e da emoção. É uma luta dolorosa, com períodos de paz iluminada. 

Mas a maioria de nós evita ou põe de lado a tensão no relacionamento, preferindo a calma e o conforto da dependência satisfatória, uma segurança não desafiada, um porto seguro. Então, a família e outros relacionamentos tornam-se um refúgio, o refúgio do imprudente.

Quando a insegurança desliza para a dependência, como inevitavelmente acontece, então esse relacionamento particular é posto de lado e um novo é assumido na esperança de encontrar uma segurança duradoura, Mas não há segurança no relacionamento, e a dependência só gera medo. Sem entender o processo da segurança e do medo, o relacionamento se transforma em um estorvo compulsório, e uma forma de ignorância. Então, toda a existência passa a ser luta e sofrimento, e não há saída para isso exceto no pensamento correto, que surge por meio do autoconhecimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 93/94)


terça-feira, 28 de dezembro de 2021

ATIVO, PORÉM QUIETO

"Para descobrir a nova mente, não só é necessário entendermos as reações do velho cérebro, mas também é necessário que o velho cérebro se aquiete. O velho cérebro deve estar ativo, mas quieto. Você está acompanhando o que estou dizendo? Olhe! Se você descobrisse por si mesmo que existe uma realidade, que existe um Deus - a palavra Deus não é o fato -, seu velho cérebro, que foi alimentado em uma tradição, seja ele anti-Deus ou pró-Deus durante séculos de afirmação social, deveria ficar quieto. Porque, do contrário, isso só faria projetar suas próprias imagens, seus próprios conceitos, seus próprios valores. Mas esses valores, esses conceitos, essas crenças são resultado do que lhe foi dito ou de suas reações ao que lhe foi dito. Por isso, inconscientemente, você diz: 'Esta é a minha experiência!'.

Você tem de questionar a própria validade da experiência - da sua própria experiência ou da experiência de outra pessoa, não importa quem ela seja. Ao questionar, investigar, perguntar, exigir, observar e escutar atentamente, as reações do velho cérebro se aquietam. Mas o cérebro não está dormindo; ele é muito ativo, mas está quieto. Ele chegou a essa quietude por meio da observação, da investigação. E para investigar, observar, você precisa ter luz; e a luz é sua constante vigilância."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 331)


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

CORPO E ANIMA

"Nosso corpo é como se fosse um vaso vazio, ou um saco que só fica em pé porque existe uma energia que o preenche e anima; a energia divina.

Essa energia anima todas as coisas viventes. A própria palavra anima significa alma, em latim.

De fato, somos um espírito, e o corpo é nossa morada provisória. Assim como o mergulhador precisa de uma roupa especial para chegar às grandes profundezas do oceano, o espírito também precisa dessa vestimenta material para descer à Terra e viver sua jornada no mundo físico.

O propósito da vida é a evolução. Tudo evolui: os minerais, as plantas, os animais, os seres humanos... Cada um no seu nível de consciência e forma. 

Um dia chegaremos a perceber melhor tudo isso e decifraremos o enigma, quando nossos olhos espirituais estiverem mais abertos para as realidades internas.

Enquanto isso, nosso aprendizado se dá pelas experiências que a vida nos proporciona, com nossas escolhas, erros e acertos. Assim, vamos colhendo os frutos do que plantamos e aprendendo com as lições até entendermos que somos todos um só nessa majestosa aventura comum de fazer desabrochar o deus oculto que habita em cada um de nós e que somos nós. 

Isso é familiar para você? Você já se perguntou sobre o objetivo de sua existência? Acredita na continuidade da vida? Respeita a opinião dos outros? Conversa sobre isso? Tem disposição para ouvir, falar e aprender?

Dizem que: 'A busca da verdade não admite sectarismos'. 'A verdade é uma terra sem caminhos'. 'O caminho se faz ao caminhar'. 'A verdade mora no nosso coração e nos liberta'.

Paz e progresso a todos os seres, em todas as dimensões!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Editora Teosófica, Brasília, 2018 - p. 61)