OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (PARTE FINAL)

"27. Este percebimento deve cobrir a totalidade de nossa existência.

Esta área ou prãntabhumi deve ser saptadhã ou sétupla. A palavra saptadhã indica realmente uma totalidade, pois quando falamos da natureza total do homem ou do Universo, referimo-nos a ela como sétupla. Patañjali diz que este percebimento não apenas deve ser ininterrupto, mas também deve ser total, significando que precisamos estar cônscios da totalidade de nossa existência. Em outras palavras, este percebimento não deve ser meramente com o frio intelecto, mas com as emoções e também com o mecanismo sensorial do corpo. Ele deve penetrar todas as fibras de nosso ser. Não deve ser aquele percebimento de uma testemunha que olha para o fluxo da continuidade a distância. Uma testemunha pode estar cônscia apenas do exterior e um percebimento como  este, a distância, não tem valor. Ser um participante e ainda assim ser uma testemunha - apenas isso pode ser chamado percebimento total. Tudo o mais é superficial e, portanto, fragmentário. Somente o percebimento toal pode ser ininterrupto, pois aqui a totalidade de nosso ser está envolvida. 

Pode-se perguntar: ser participante e testemunha ao mesmo tempo - este não é um estado de completa contradição e, consequentemente, de conflito? Como podem as duas condições completamente oposta coexistirem? No Yoga vemos o milagre da coexistência dos opostos, e para isso precisamos nos familiarizar com as profundas experiências do Yoga. Patañjali nos leva às profundezas do Yoga quando fala de seu óctuplo instrumento e suas implicações totais. Com isso, adentramos, por assim dizer, na própria corrente do Yoga e nos sentimos renovados na totalidade de nossa existência."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 100/101)
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terça-feira, 10 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (10ª PARTE)

"25. Com a dissolução da ignorância, desaparece o fenômeno observador-observado, resultando na emergência da percepção pura.

Percepção pura indica ver as coisas como de fato são. Se conhecemos a vida como ela é a qualquer momento, sem nenhuma projeção da mente, então podemos conhecer o segredo do reto relacionamento com esta vida. A percepção pura é o ponto crucial de todo o problema do Yoga. Da reta percepção surge o reto relacionamento, naturalmente e sem esforço. Mas como pode haver reta percepção, enquanto estivermos presos em avidyã? Portanto, a questão é: como podemos sair desta ignorância, uma vez que sem sua dissolução não há perspectiva para o homem de libertar-se da dor e do sofrimento? Há uma maneira pela qual podemos dissolver avidyã? Patañjali diz: 

26. Um percebimento ininterrupto é a única maneira de dissolver avidiã ou ignorância. 

A palavra utilizada neste sutra é aviplavã, significando contínuo. O que precisa ser contínuo? Mais uma vez, a palavra utilizada é viveka-khyãti, aquele percebimento através do qual as coisas são claramente distinguidas. Se este percebimento que destingue claramente as coisas for mantido ininterrupto, ele nos levará à dissolução de avidyã. Patañjali chama isso de hãnopãyah, um instrumento que dispersa as nuvens da ignorância. Pode-se perguntar: do que precismos ser côncios? Deve ser em relação ao fenômeno observador-observado. Isso significa que precisamos estar cônscios de todo o processo de continuidade pelo qual asmitã ou o senso do eu mantém-se ativo. Exige a observação do processo dos apegos e das repulsões, uma vez que constituem o campo onde será visto o abhinivesa da própria asmitã. Em outras palavras, é por meio de rãga e dvesa que o senso do eu busca dar continuidade a si mesmo . Obviamente, não há ignorância maior do que a continuidade de algo que tende a dissolver-se. No senso do eu há uma falsa identidade. A maneira mais correta de dissolvê-la está em observar como esta falsa identidade busca sua continuidade através dos apegos e repulsões. Mas o percebimento deve ser ininterrupto. Quando ele é interrompido? Quando o pensamento entra no campo do percebimento. A entrada do pensamento é deliberada, pois a mente não quer que o processo de percebimento continue de uma maneira ininterrupta. Ela compreende que um percebimento causaria a dissolução da própria entidade que busca dar continuidade. Esta entidade, o senso do eu, é produto da mente. A mente investiu tudo nesta entidade, e se ela for dissolvida, ficaria completamente falida. A fim de que não tenha que enfrentar esta condição nada invejável de falência total, ela deseja que o processo de percebimento seja constantemente interrompido. Mas aquela ignorância pode ser dissolvida apenas através de um percebimento ininterrupto. É possível impedir a mente de interferir no processo de percebimento? Essa é uma questão que faz parte da meditação, e, portanto, sua resposta pode ser encontrada somente após termos conhecido o que é meditação. Neste sutra, Patañjali preocupa-se em mostrar o caminho que conduz à dissolução de avidyã. Ele acrescenta no próximo sutra que: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 99/100)
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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (9ª PARTE)

"23. O fenômeno observador-observado cria um relacionamento de possuir e de ser possuído.

Aqui as palavras utilizadas são sva-sakti e svãmi-sakti. O sutra indica que cada um tenta satisfazer a si mesmo. Svãmi-sakti é o possuidor e quer possuir, seja um objeto ou um indivíduo. Mas aquilo que o homem busca possuir, por sua vez, quer possuir o possuidor. O relacionamento do possuidor e do possuído é obviamente de uso. É uma estranha lei da vida que aquele que quer possuir deve também estar pronto para ser possuído. Ambos estão comprometidos com svarupa-upalabdhi, que significa tentar satisfazer seu próprio fim. Possuir é ser possuído. Os dois seguem juntos. Ter um sem o outro é uma impossibilidade. Este é o ponto crucial do relacionamento de uso. O explorador e o explorado seguem juntos. A necessidade de ser explorado dá origem ao explorador. No relacionamento de uso vemos a pior forma de exploração do homem pelo homem. Patañjali diz no sutra subsequente que:

24. Este desejo de possuir e de ser possuído é motivado por avidiã ou ignorância.

Certamente tal relacionamento de uso nasce da ignorância. Patañjali tem discutido o problema das aflições. A maior aflição que surge na vida do homem deve-se aos relacionamentos infelizes. Este é o maior problema do homem. Ele seria intensamente feliz se pudesse conhecer o segredo do reto relacionamento. Mas o reto relacionamento pode surgir apenas quando a couraça de avidyã é quebrada. Precisamos nos lembrar de que o relacionamento de uso tem sua origem no desejo de continuidade. A questão de uso pela própria continuidade de si é o que dá origem à rãga e dvesa. Porém este desejo por continuidade não tem valor a menos que conheçamos a entidade que quer ser contínua. O relacionamento de uso é motivado pelo desejo de posse. Contudo, antes que possamos possuir o outro, precisamos possuir a nós mesmos. Mas o Ser⁷ pode ser possuído? Se ele é não nascido, como pode ser possuído? Se aquilo que é vivo está em um estado de fluxo, como pode um fluxo ser possuído? Então, o que é aquilo que possuímos? Certamente, podemos possuir apenas nossa imagem, e é esta imagem que consideramos como nós mesmos, que é asmitã no verdadeiro sentido. Tendo formado uma imagem de nós mesmos, movemo-nos na direção de possuir a imagem do outro. É o que chamamos de relacionamento. Não é de admirar-se que tal relacionamento não leve à alegria e à felicidade. Transformamo-nos em uma imagem, e considerar esta imagem como nós mesmos é a mais elevada forma de ignorância. O relacionamento de uso com sua consequente aflição pode desaparecer apenas quando esta ignorância colossal sobre nós mesmos tiver sido removida. Patañjali diz no próximo sutra: (...)"    

⁷ No original em inglês: Self. (N.E.)

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 98/99)
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terça-feira, 3 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (8ª PARTE)

"22. Para aquele que não objetiva realizar-se através da existência do observado, o observado não existe; mas para os demais ele continua a existir.

O homem normalmente estabelece um relacionamento de uso com o mundo em que vive, seja físico ou psicológico. É deste relacionamento que surge o observado. Precisamos nos lembrar de que tal relacionamento jamais poderá estabelecer-se com algo que está vivo, pois a vida é um estado de fluxo e, portanto, não é estática. O uso possível apenas em relação a algo estático ou imóvel. Assim, para ter aquele relacionamento, a vida precisa ser transformada em imagem. O sutra acima diz que, para aquele que tenha ido além do relacionamento de uso,  o observado não existe. Tal indivíduo não tem objetivo a realizar advindo da existência do observado. Daí que o observado desaparece quando cessa este relacionamento de uso. O sutra, contudo, diz que para os demais, o observado continua a existir. A partir disso, fica evidente que o observado não tem existência per se; ele é trazido à existência pelo observador para seu próprio propósito. O relacionamento de imagem à imagem, obviamente, é um relacionamento de uso, no qual há sempre o desejo de ter e de possuir. No seguinte sutra isso está ainda mais claro.(...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97/98)


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (7ª PARTE)

 "21. A natureza e o conteúdo do observado existem para a manutenção da continuidade do observador.

Pode-se perguntar: por que criamos o observado ao invés de olhar para o real? A resposta é dada no sutra acima. O observado é o produto do observador. Não são duas coisas diferentes. Ao perceber o real, a mente enfrenta o perigo de ser deslocada de sua posição de segurança. Ver o real é ser arrancado pela raiz do solo de nossas próprias conclusões, o que obviamente ameaça a própria segurança e continuidade da mente. A mente, na verdade, teme ver o real. Em função deste temor, lança uma tela de continuidade sobre os impactos da vida. A vida é nova de momento a momento, e, portanto, não podemos nos familiarizar com ela. Logo, a vida é para sempre desconhecida. A mente do homem, através de sua tela de continuidade, tenta colocar o não familiar na estrutura familiar. Podemos lidar com o familiar sob o aspecto do passado, e esta é sempre a abordagem da mente. Ela nunca se ocupa do presente como ele é, mas sempre através da tela do passado. Assim, Patañjali diz que o observador cria o observado para a manutenção de sua própria continuidade. O observador sente-se seguro apenas no mundo do observado, jamais na região do real. Condicionado pelo passado, projeta seu próprio condicionamento nos impactos da vida e, assim, cria o observado. Na corda que realmente existe, o observador projeta uma cobra e então, age segundo esta suposição. Pode-se perguntar: não podemos ver o real, mudando a escala da observação? Se esta for mudada, podemos não ver a cobra, mas outra coisa qualquer projetada pelo observador. O problema não está no observado, porém no próprio observador. Uma mudança na escala de observação apenas traria uma mudança nos padrões do observado. Poderia, na melhor das hipóteses, ocasionar uma modificação na forma do observado. Portanto, o problema não é mudar a forma do observado, mas eliminar o próprio observador. O observador é a consciência condicionada, que busca sua própria continuidade. Em outras palavras, o observador é asmitã, o produto da falsa identificação. É o senso do eu, construído pela natureza adquirida do homem. É o conglomerado do vrttis, ou os hábitos da mente. Que o problema é o próprio observador está clara no próximo sutra: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97)