OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 20 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (4ª PARTE)

18. O observado vem à existência quando o impacto dos sentidos é modificado pelos gunas ou pelos três fatores condicionantes da mente por causa da busca pelo preenchimento da própria mente. 

No sutra acima, prakãsa, kriyã e sthiti referem-se a sattva, rajas e tamas - os três gunas ou os três fatores condicionantes da mente. A palavra apavarga que aparece neste sutra significa de fato preenchimento, e não libertação como é dito por muitos comentadores. A mente para seu próprio preenchimento distorce a atividade dos três gunas; é o que ocasiona uma modificação nos impactos dos sentidos. Refere-se à intervenção da mente no ato de experimentar. Quando o pensamento interfere no ato de experimentar, então esse ato fragmenta-se, levando à fragmentação da própria experiência. Quando assim acontece, somos incapazes de ver o que é; vemos apenas aquilo que foi modificado pela ação do pensamento. É óbvio que os impactos dos sentidos são possíveis devido ao funcionamento dos três gunas. Quando seu funcionamento é distorcido pela intervenção do pensamento, aqueles mesmos impactos dos sentidos são modificados. E, assim, percebemos o que a mente quer que percebamos. Neste processo, o real é colocado de lado, e o observado toma seu lugar. E isso é feito pela mente para seus próprios objetivos. Patañjali indica muito claramente neste sutra como o observado vem à existência. Ele trata ainda mais da questão dos gunas no próximo sutra."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 95)


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (3ª PARTE)

17. No fenômeno observador-observado encontra-se a causa do sofrimento que pode ser evitado.

O sofrimento que não chegou pode ser evitado, mas, segundo Patañjali, requer uma clara compreensão do fenômeno do observador-observado. Dificilmente compreendemos que não vivemos no mundo real, mas no mundo observado. Não conhecemos os homens e as coisas que nos cercam como de fato são. O real transformou-se no observado, e desde que não conhecemos o real, consideramos o observado como o real. O fenômeno observador-observado pode ser compreendido se tivermos em mente a conhecida ilustração da filosofia hindu conhecida como sarparajju-nyaya, que significa confundir-se a corda com uma cobra. A corda é o real, a cobra, o observado. Por que não vemos a corda e porque a confundimos com uma cobra? É óbvio que o observador, quando vê a corda, de sua escala de observação, tem a impressão de que é uma cobra que está a sua frente. Ao ver a cobra ao invés da corda, naturalmente, tem medo dela. Todas as reações daquele que percebe com relação àquele objeto serão de medo. Ele não se aproximará para não ser picado pela cobra. Um sentimento de medo e ansiedade assalta-o, introduzindo na sua vida um elemento de sofrimento. Ele sofre porque não sabe como se livrar da cobra. Teme que outros membros de sua família sejam picados pela cobra. Mas, o que é estranho é que não há cobra alguma; há apenas uma corda. Na vida, ocorre algo semelhante a isso o tempo todo. Não vendo o real, sofremos com as implicações que imaginamos com relação a nosso embate com o observado. Sabe-se que o observado é a projeção do observador, e, portanto, não tem existência intrínseca. A existência do observado depende do observador. Confundir a existência dependente com a existência intrínseca é incorrer em mãyã ou ilusão. Se nossas ações são baseadas na percepção do observado e não do real, então poderemos criar para nós sofrimento e dor. No relacionamento humano, deve-se observar o fenômeno de uma corda ser confundida com uma cobra. Podemos impedir o observado de vir à existência? Caso possa acontecer, certamente, seremos capazes de ver o real, ou seja, seremos capazes de perceber as coisas como elas são. Como pode o observado ser impedido de vir à existência? Para isso precisamos compreender como o observado vem à existência. É o que Patañjali discute no próximo sutra."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 94/95)


terça-feira, 13 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (2ª PARTE)

16. O sofrimento que ainda não chegou pode ser evitado.

Todavia, a questão é: ele é evitável? Como alguém pode dizer o que o futuro trará? E sem conhecê-lo, como podemos tomar qualquer medida para evitar o sofrimento futuro? É possível conhecer o futuro, pois de outro modo como poderíamos tratar com o futuro desconhecido? Estas são realmente questões relevantes. Se o futuro pudesse ser conhecido com absoluta precisão, então, com certeza todos os problemas poderiam ser resolvidos, pois tomaríamos as providências necessárias para enfrentar aquele futuro. A vida é tão imprevisível que falar de conhecer o futuro, sem dúvida, é incorrer em ilusões. Mas, como podemos nos preparar com antecedência para enfrentar o desconhecido? Como podemos fazer qualquer preparação contra os desafios do desconhecido? Qualquer preparação em função do conhecido, ou mesmo do conhecido modificado, não seria de proveito algum. O que é preciso, então, fazer para evitar o sofrimento que possa surgir do seio do futuro? É necessário compreender na íntegra o problema do sofrimento sem restrição do passado, presente ou futuro. O que é sofrimento e por que o homem sofre? No sutra que se segue, Patañjali aborda um ponto crucial com relação a todo o problema do sofrimento."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 93/94)


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (1ª PARTE)

"Em qualquer discussão sobre a doutrina do karma, geralmente ela é descrita sob três categorias: São elas, samcita, ou acumulado, prãrabdha ou operativo e ãgami, ou o futuro. Samcita contém todas as tendências acumuladas que se tornam ativas quando provocadas por estímulos externos. É óbvio que essas tendências não se tornam ativas todas de uma vez, mas apenas quando surgem provocações e estímulos. As tendências que vão sendo ativadas constituem as condições de prãrabdha. O homem considera prãrabdha como uma grande limitação; isso se deve ao fato de que ele deve funcionar sob a força que compele as tendências ativadas. Ãgami, ou o karma futuro, depende de novas tendências  que são geradas no decorrer de nossas ações no presente. Sabe-se que as tendências inativas e não maduras não constituem qualquer problema. É a tendência que se tornou ativa e operativa que faz de prãrabdha um problema. É verdade que não é possível eliminar todas as tendências acumuladas, por não sabermos o que são. Tornamo-nos cônscios delas quando são estimuladas sob provocações externas. É claro que não podemos saber quais são as tendências que serão evocadas como resultado de estímulos externos. Mas, se pudéssemos estar em um estado de consciência que tornasse as tendências estimuladas inoperantes no mesmo instante em que despertassem, então, certamente, não precisaríamos ter qualquer temos quanto ao futuro. Tal estado de consciência de uma só vez resolve o problema do karma com relação ao passado, presente, e futuro. O segredo está em tornar as tendências inoperantes, sempre que forem estimuladas pelas provocações do ambiente externo. Se o homem pudesse viver sujeito a todas as provocações e, ainda assim, manter as tendências inoperantes, com certeza não temeria o que pudesse acontecer. Para tal pessoa o futuro cessaria de ser um problema. Sua ação no presente torná-lo-ia livre das compulsões tanto do passado quanto do futuro." 

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 93)


terça-feira, 6 de outubro de 2020

O PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO

"O Bhagavad-Gitã diz, no terceiro capítulo, que o homem não pode ficar, mesmo que por um momento, sem agir. Viver é agir, e, portanto, a ação é parte da própria vida. Porém, a maioria de nossas supostas ações são meras respostas a estímulos exteriores ou interiores. Nossas ações provocadas por esses estímulos ou desafios da vida são mais de natureza de reações. Reagimos aos estímulos da vida. É o fenômeno da resposta ao desafio que conhecemos. Não conhecemos o desafio sem resposta, nem resposta sem desafio. Em nossa consciência foram construídos inúmeros centros de reação. Na verdade, nosso movimento na vida é motivado pelas tendências reativas. Patañjali, no início de seus Yoga-Sutra, define o Yoga como uma condição em que tenham cessados todas as tendências reativas. Reação significa continuidade e, assim, tais tendências são todas provenientes de centros de continuidade. O pensamento obviamente é um centro de continuidade. O movimento do pensamento é, de fato, um movimento de continuidade. Se Yoga é liberdade das tendências reativas, decerto, indica que a consciência deve ser livre do processo contínuo do pensamento.

Vimos que o que mantém a corrente contínua do pensamento é o pensador. Uma simples mudança no processo do pensamento apenas substitui um centro reativo por outro. Somente quando o pensamento desaparece é que o próprio centro de reação é dissolvido. A ação pura exige a eliminação do pensador, do observador, ou daquele que experimenta. Quando isso acontece, há uma resposta sem um desafio, uma ação sem um estímulo. Se o amor precisa de estímulo para a ação, nesse caso não é absolutamente amor. O amor é uma resposta sem um estímulo. E, desse modo, unicamente o amor é ação pura - tudo o mais são meras reações."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 199)
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