OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O PECADO DAS MINHAS ORAÇÕES

"Penso com horror nas minhas preces de outrora,
Quando eu pedia alguma coisa
Vida, saúde, prosperidade e outros ídolos
Como se algo houvesse de real,
Fora de ti, meu Deus,
Realidade única, total, absoluta!
Como se em ti não estivessem contidas
Todas as coisas do universo!...
Como se todos esses pequenos 'realizados'
Não fossem reflexos de ti, o grande 'Real'!...
Tamanha era a minha ilusão dualista,
Que eu julgava poder possuir algum efeito individual
Sem possuir a Causa Universal!...

Hoje morreu em mim toda essa idolatria,
Esse ilusório dualismo objetivo.
Redimido pela verdade libertadora,
Sinto, hoje, nas profundezas do meu Ser,
O grande monismo do Universo.
Hoje, o alvo das minhas orações
És tu, Senhor, unicamente tu.
Hoje, sei e sinto que, possuindo a ti,

Possuo em ti todas as coisas
Que de ti emanaram,
E em ti ficaram...
Todas as coisas que, por mais distintas de ti,
São todas imanentes em ti.
Porque tu és a eterna Essência
De todas essas Existências temporárias.
Hoje não quero mais nada
Senão a ti somente, Senhor,
Porque em ti está tudo
Que, fora de ti, parece existir.

E, porque assim te amo, Senhor,
Amo também tudo que é teu,
Tudo que, disperso pelo cenário cósmico,
Veio de ti,
Está em ti,
Voltará a ti.
Revestiu-se de mística sacralidade
O meu antigo amor profano,
Desde que vejo o Deus do mundo
Em todas as coisas do mundo de Deus.
E o pecado das minhas orações de outrora
Foi remido pela verdade da minha prece de hoje."

(Huberto Rohden - Escalando o Himalaia - p. 17/18)

domingo, 3 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (PARTE FINAL)

"(...) Enquanto não tiramos a máscara do ego, ele continua a nos vendar os olhos como um político sem-vergonha reprisando continuamente suas falsas promessas, ou um advogado inventando engenhosas mentiras, ou um animador de auditório falando sem cessar, de quem jorra um palavrório maneiroso, ocamente convincente, que na realidade não diz absolutamente nada.

Vidas inteiras de ignorância nos levaram a identificar a totalidade do nosso ser com o ego. Seu maior triunfo é nos convencer de que seus maiores interesses são os nossos, e chega a identificar a nossa própria sobrevivência com a sua. Isso é uma terrível ironia, considerando-se que o ego e o seu agarrar-se são a raiz de todo nosso sofrimento. Mas o ego é tão convincente e nós temos sido seu trouxa por tanto tempo, que só o pensamento de ficarmos sem ego nos aterroriza. Ficar sem ego, ele nos sussurra, é perder todo o rico romantismo de ser humano, ser reduzido a um robô sem cor ou a um vegetal sem cérebro.

O ego tem um desempenho brilhante no nosso medo fundamental de perder o controle, e em face do desconhecido. Podemos dizer a nós mesmos: 'Eu realmente devia abrir mão do ego, estou sofrendo tanto! Mas se fizer isso, o que me acontecerá?'

O ego fará coro docemente: 'Sei que às vezes sou inconveniente e, pode me acreditar, compreendo perfeitamente que você queira que eu me vá. Mas é isso mesmo o que você quer? Pense: se eu for mesmo, o que será de você? Quem tomará conta de você? Quem o protegerá e cuidará, como fiz todos estes anos?'

E ainda que possamos ver além das mentiras do ego, estamos assustados demais para abandoná-lo; porque sem um verdadeiro conhecimento da natureza da nossa mente, ou real identidade, simplesmente não temos outra alternativa. Vez após vez nós nos afundamos diante das suas exigências, com o mesmo triste ódio de si próprio do alcoólatra buscando o copo que ele mesmo sabe vai destruí-lo, ou da drogada tateando em busca da dose que, ela sabe, depois da breve viagem só vai deixá-la deprimida e desesperada."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 159/160)


sábado, 2 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (1ª PARTE)

"Às vezes imagino o que sentiria o habitante de um vilarejo tibetano se, de repente, você o trouxesse para uma cidade moderna com toda sua sofisticada tecnologia. Ele talvez pensasse que havia morrido e que se encontrava agora no estado de bardo. Incrédulo, olharia boquiaberto para os aviões voando no céu acima dele, ou para alguém falando ao telefone com uma pessoa do outro lado do mundo. Pensaria estar testemunhando milagres. E no entanto tudo isso parece normal a alguém morando no Ocidente, no mundo moderno, tendo sido educado à maneira ocidental, que fornece as explicações científicas sobre essas coisas, passo a passo.

Do mesmo modo, no budismo tibetano há uma educação espiritual básica, normal e elementar, um treinamento espiritual completo para o bardo natural desta vida que dá a você o vocabulário essencial, o ABC da mente. A base desse treinamento são as chamadas 'três ferramentas da sabedoria': a sabedoria de ouvir e escutar, a sabedoria da contemplação e da reflexão, e a sabedoria da meditação. Através delas somos levados a despertar para a nossa verdadeira natureza, a descobrir a incorporar a alegria e a liberdade daquilo que de fato somos, que podemos chamar de 'sabedoria da ausência do ego'.

Imagine uma pessoa que subitamente acorda num hospital depois de sofrer um acidente de carro na estrada, e percebe que está com amnésia total. Por fora, tudo está intacto: ela tem o mesmo rosto, a mesma forma, os sentidos e a mente estão lá, mas não tem a menor ideia ou o menor vestígio de memória de quem é. Exatamente do mesmo modo, não conseguimos nos lembrar da nossa verdadeira identidade, nossa natureza original. Freneticamente e na realidade apavorados, procuramos e improvisamos outra identidade, uma em que possamos nos agarrar com todo o desespero de alguém que vai cair num abismo. Essa identidade falsa e assumida em ignorância é o 'ego'.

Desse modo, o ego é a ausência do conhecimento verdadeiro de quem somos, juntamente com o seu resultado: um malfadado apego, mantido não importa a que preço, a uma imagem remendada e improvidada de nós mesmos, um eu inevitavelmente charlatanesco e camaleônico que está sempre mudando e que precisa mudar para manter viva a ficção da sua existência. Em tibetano, o ego é chamado dak dzin, que quer dizer 'agarrado a um eu'. O ego é assim definido como um movimento incessante de agarrar-se em uma noção ilusória de 'eu' e 'meu', de si mesmo e de outro, e em todos os conceitos, ideias, desejos e atividades que sustentam essa falsa construção. Esse agarrar-se é fútil desde o início e condenado à frustração, uma vez que não tem nenhuma base ou verdade, e aquilo a que nos agarramos é, por sua própria natureza, impossível de reter. O fato de que precisamos nos agarrar e continuar agarrados a alguma coisa mostra que nas profundezas do nosso ser sabemos que o eu não existe inerentemente. Desse conhecimento secreto e assustador nascem todas as nossas inseguranças fundamentais e o nosso medo. (...)" 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 158/159


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

ACEITA AS COISAS COMO SÃO

"(3:33) Mesmo o sábio age em consonância com os ditames de sua própria natureza. Todos os seres vivos obedecem às prescrições da Natureza. De que valeria a mera supressão?

Krishna ofereceu ao mundo, por meio do Bhagavad Gita, não apenas as verdades supremas, expressas de maneira abrangente e pormenorizada, mas um ensinamento de extremo bom senso. A trigésima terceira estrofe é um belo exemplo da sensatez de suas lições. O Senhor diz a Arjuna: 'Aceita as coisas como são.' A história - e talvez a história da religião, em especial - está repleta de figuras que tentam convencer os outros a serem diferentes do que sempre foram. Moveram-se guerras, infligiram-se perseguições, atiçaram-se motins para obrigar povos inteiros a pensar e agir como alguém julgava que devessem agir e pensar. Krishna, nessa passagem, diz com muita propriedade: 'Aceita o que é, não o que supunhas dever ser.'

Todo sofrimento humano prende-se à ideia simplória de que as coisas devem ser diferentes do que são. Mesmo uma dor física intensa pode ser transcendida quando a aceitamos pelo que é. Tente isto: primeiro, reconheça com serenidade sua existência. Depois, concentre-se no núcleo dessa dor. Por fim, deixe-a ir, pura e simplesmente! Verá que, aceitando-a sem restrições, ganha forças para liberá-la.

Não dê aos outros licença para lhe prescreverem o que, aos olhos deles, você deve ser. Por outro lado, nunca dispense arrogantemente os seus conselhos, embora permaneça sempre fiel à sua própria natureza. Você nunca se transformará por supressão. A mudança verdadeira só se obtém por transcendência. Se há em você uma qualidade que não goste, procure elevar a consciência a um nível superior. Se achar que de modo algum conseguirá ignorar uma dor, procure então chegar ao âmago dessa dor. Ao fazer isso mentalmente, ofereça-a a Deus. Se praticar a sugestão com um vigoroso esforço de vontade, verá que poderá tornar-se, num instante, uma pessoa muitíssimo diferente."

(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 174)


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

QUERER O DEVER (PARTE FINAL)

"(...) O ego só conhece prazer, e nada sabe de felicidade; mas o ego integrado no Eu sabe o que é felicidade.

No princípio, esta integração do ego no Eu é 'caminho estreito e porta apertada', é sofrimento e dolorosa renúncia; no fim, é 'jugo suave e peso leve', é suprema felicidade.

O homem integral quer jubilosamente o que deve. O homem integral principia o seu itinerário evolutivo com sofrimento doloroso, mas termina-o com sofrimento glorioso; o seu céu sofrido culmina em céu gozado.

Quando a horizontal do querer é cortada pela vertical do dever, então ocorre um cruzamento, uma crucificação, que pode ser representada pela cruz telúrica, símbolo do sofrimento mas, quando esta cruz presa à terra se desprender totalmente do seu calvário e flutuar livremente nas alturas do Tabor, como cruz cósmica, então o homem completou a sua realização existencial, querendo o seu dever, essencializando a sua existência.

Enquanto o querer do ego está em conflito com o dever do Eu, o homem é infeliz, e tenta sufocar a sua infelicidade com toda a espécie de prazeres e paliativos. Quando então a consciência atormentada se cala por algum tempo, narcotizada pelo prazer, o homem se julga ilusoriamente feliz, porque goza na sua periferia; mas, em breve, o seu centro profundo torna a bradar por uma felicidade verdadeira, porque nenhum prazer periférico pode substituir a felicidade central. E o homem chega ao ponto de se sentir existencialmente frustrado, porque não atingiu a sua realização existencial. A agulha magnética da sua consciência continua, porém, a apontar invariavelmente para o norte da verdade da sua natureza humana, por mais que o homem vire e revire a bússola da sua egoidade.

Em última análise, a verdadeira natureza do homem não é falsificável definitivamente, porque ela é a anima naturaliter christiana." 

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 73/74)