OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (1ª PARTE)

"PERGUNTA: Como posso livrar-me do medo, que influencia todas as minhas atividades? 

KRISHNAMURTI: Que se entende por medo? Medo de quê? Há várias qualidades do medo, e não precisamos analisar cada uma delas. Pode-se ver que o medo nasce quando é incompleta nossa compreensão da vida de relação. Não existem relações só entre pessoas, mas também entre nós e a natureza, entre nós e a propriedade, entre nós e as ideias; enquanto não forem perfeitamente compreendidas estas relações, tem de haver medo. A vida é relações. Ser é estar em relação; sem relações não há vida. Nada pode existir no isolamento; enquanto a mente estiver em busca de isolamento, tem de haver temor. O medo não é uma abstração; ele só existe em relação com alguma coisa. 

A pergunta é a seguinte: como nos libertarmos do temor? Em primeiro lugar, qualquer coisa que é dominada, tem de ser dominada de novo, repetidas vezes. Nenhum problema pode ser dominado e vencido em definitivo; pode ser compreendido, mas não dominado. São dois processos completamente diferentes e o processo de dominar conduz a maior confusão, a um medo maior. Resistir, dominar, batalhar com um problema ou erguer defesas contra ele, significa apenas criar mais conflito; ao passo que se pudermos compreender o temor, examiná-lo profundamente, passo a passo, explorar-lhe todo o conteúdo, então o medo nunca mais voltará, sob forma alguma. 

Como disse, o medo não é uma abstração; só existe em relação. Que se entende por medo? Fundamentalmente, temos medo, não é verdade? — medo de não ser, medo de não vir a ser. Ora, quando há o medo de não ser, de não progredir, ou o medo do desconhecido, da morte, pode ele ser dominado pela determinação, por uma conclusão ou escolha? Não pode, decerto. O mero recalcamento, a sublimação, ou a substituição, gera mais resistência, não é exato? Por conseguinte, o medo nunca pode ser vencido por qualquer forma de disciplina, qualquer forma de resistência. Cumpre reconhecer este fato claramente, senti-lo, experimentá-lo: o medo não pode ser dominado por forma alguma de defesa ou de resistência, nem pode haver um estado livre de temor, como resultado da busca de uma solução ou de meras explicações intelectuais ou verbais. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 156/157
http://www.pensamento-cultrix.com.br/



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

DEUS, A NATUREZA E O HOMEM

"Há três entidades com as quais o homem tem de lidar. Elas são: Paramatmam, Prakritti e Jivatman, respectivamente, Deus, a natureza e o homem.

Deus tem de ser adorado e conhecido pelo homem, através da natureza. Natureza é o nome que tudo quanto imprime sobre o homem a Glória e o esplendor de Deus. É também chamada maya. Maya é a veste de Deus, que vela tanto quanto des-vela a beleza e a majestade d'Ele. 

O homem deve aprender a usar a natureza, não para seu conforto e nela se emaranhar e consequentemente vir a esquecer-se de Deus, que paira além da alegria que ele consegue fruir. A natureza propicia ao homem melhor compreensão da Inteligência que rege o Universo.

Como pode a árvore crescer ou a flor abrir? Como pode o homem aprender sobre as estrelas e o espaço? Como, senão pela inspiração da Felicidade e da Inteligência, às quais, Aquele que mora no íntimo, ao homem atribui?

Aborde a natureza em atitude de humildade e oração. Só assim estará garantindo seu futuro. Ravana cobiçou Sita¹⁶, a qual representa prakritti (a natureza), e, às escondidas, a raptou. Tal egoísmo e ambição arrastou-o à mais profunda queda. Se ele tivesse cobiçado somente o Deus por trás da natureza, isto é, Rama, teria alcançado o júbilo eterno. 

Todos os sofrimentos do homem hoje podem ser creditados a este falso sentido de valores. As coisas promordiais devem vir antes. Primeiro, ser; depois, ajudar. Agora, as pessoas começam por ajudar os outros na senda espiritual sem a terem palmilhado antes. Assim, tanto o guia como os guiados caem no fosso.¹⁷ Sirva primeiro a você mesmo, quer dizer, compreenda aquilo que você é, para onde vai, de onde vem, por que viaja e para quê. Após ter as respostas a tais perguntas, aprendidas nas escrituras, dos sábios e das experiências pessoais inquestionáveis, só então pode um homem liderar outros. As pessoas também não estão treinadas para discernir entre o falso e o verdadeiro, entre o temporal e o atemporal, entre o reto e o incorreto, entre o que é socialmente valioso e o que é socialmente danoso. Rejeitam todos os antigos costumes e maneiras, textos e ritos ancestrais, considerando-os inúteis simplesmente porque são antigos. Adotam novos costumes e modismos só por serem modernos. O tempo é um bom testador - coisas que tenham resistido à critica dos séculos e suportado os sopros de muitas culturas estranhas e as seduções de exóticas fantasias têm o âmago essencial da verdade e da validez." 

¹⁶ Ravana - um demônio, que era a personificação da luxúria e da violência, que sequestrou Sita, a personificação da mulher perfeita, esposa de Rama, um Avatar de Vishnu, tido como a personificação do homem, de Deus, portanto. A violência, a serviço da luxúria, provocou a guerra, pela qual Rama resgatou sua esposa e destruiu Ravana, e que o sabio Valmiki eternizou no grande épico Ramayana. 
¹⁷ 'Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no fosso?' - questionou Jesus (Lucas 6:36)

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 187/188)


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (PARTE FINAL)

"(...) Com o mundo nesse clima insano de matança e destruição, lançando o homem contra o homem, chegou o tempo daqueles que têm realmente bons propósitos atacarem o problema radical e profundamente e não lidar com meras acomodações e reformas sociais. Por isso, é importante saber por si mesmo onde colocar a ênfase e não depender dos outros para decidir o que fazer. Se você dá importância à psicologia do pensador apenas porque eu dou importância, você é um imitador: pode ser persuadido a imitar outra pessoa, quando isso não lhe servir mais. Portanto, você deve considerar esse problema seriamente, profundamente, e não esperar que alguém lhe diga a que deve dar ênfase.

As religiões organizadas, o poder e os partidos políticos, o socialismo, o comunismo, o capitalismo, todos falharam, porque não lidaram com a natureza fundamental do homem. Queriam apenas acomodar influências e fatores externos. Que valor isso pode ter quando o homem está doente por dentro, machucado e confuso? Um bom médico não se interessa apenas pelos sintomas. Os sintomas não passam de indicações; é preciso erradicar a causa. 

Um homem zeloso, portanto, tem que ir até a causa, e não jogar superficialmente com palavras. A causa fundamental dessa miséria que há no mundo é a falta de compreensão dos nossos processos internos. Não queremos colocar ordem dentro de nós mesmos, somente ordem exterior. Haverá ordem exterior quando houver ordem no interior, porque o interior sempre sobrepuja o exterior.

A ênfase dos nossos esforços deve estar nos processos psicológicos, com todas suas implicações. Só pode haver felicidade e paz quando uma pessoa compreende a si mesma, e um homem feliz não entra em conflitos com seu vizinho. O homem infeliz e ignorante, ao contrário, está sempre em conflito; aonde quer que vá, cria mais discórida e miséria. O homem que compreende a si mesmo está em paz, e suas ações são pacíficas."

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 25)


terça-feira, 17 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (2ª PARTE)

"(...) Os pensamentos são o próprio pensador; eles não estão separados. O pensador se separou dos pensamentos para se proteger; assim, pode modificar os pensamentos de acordo com as circunstâncias, mantendo-se afastado. Esse é um dos truques da mente: separar o pensador dos pensamentos para se dedicar a transformá-los.

Tudo isso é um engano, uma ilusão, um jeito esperto do pensador se proteger, como que para assegurar sua própria permanência, enquanto os pensamentos são impermanentes. Assim, o ego se perpetua. Mas o 'eu' não é permanente, seja o eu inferior ou o eu superior. Ambos ainda estão dentro do campo da memória e do tempo.

A razão para dar tanta importância à psicologia é o fato da mente ser a causa de todas as ações. Sem compreender isso, não há sentido em fazer reformas, desperdiçar o tempo, pôr ordem em ações superficiais. Temos agido assim por muitas gerações, mas só produzimos confusão, loucura e miséria no mundo. 

Por isso, temos que ir até a raiz de todos os problemas da existência e da consciência: o eu, o pensador. Sem compreender o pensador e suas atividades, reformas sociais superficiais não têm significado - não para o homem verdadeiramente sério e zeloso. É importante que cada um de nós descubra isso - seja no plano superficial, no exterior, ou no plano fundamental e interno. (...)"

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 24/25)


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (1ª PARTE)

"Certa vez me perguntaram por que meus ensinamentos são unicamente psicológicos, centrados na mente e seus afazeres, sem nenhuma teologia, ética, estética, sociologia ou ciência política. Isso acontece por uma razão muito simples. Se o pensador pode compreender a si mesmo, todos os problemas estão resolvidos. Ele é a criação e a realidade; tudo o que ele fizer será social.

A virtude não é um fim em si. Ela traz a liberdade, mas só pode existir liberdade se o pensador, que é a mente, deixar de existir. É por isso que temos que compreender os processos da mente, o ego, o eu e os desejos que criam o ego - minha propriedade, minha esposa, minhas ideias, meu Deus.

O pensador é confuso; por isso, suas ações são confusas. É também por isso que ele busca a realidade, a ordem e a paz. Por ser confuso e ignorante, ele quer o conhecimento; por estar cheio de contradições e conflitos, ele procura uma ética que o controle, guie e apoie.

Se eu, o pensador, puder compreender a mim mesmo, os problemas estarão resolvidos. Não serei antissocial; não explorarei os pobres para ser rico; não vou querer coisas e mais coisas, alimentando o conflito entre os que têm e os que não têm nada. Não pertencerei a uma casta, classe ou nacionalidade, porque não haverá separação entre os homens. Poderemos amar uns aos outros e sermos gentis.

Portanto, o que é importante não é a cosmologia a teologia ou a sociologia, mas compreender a mim mesmo: compreender o pensador. Mas será que o pensador é diferente de seus pensamentos? Se os pensamentos acabam, existe o pensador? A qualidade de pensar pode ser removida do pensador? Se ela for removida, o ego do pensador continuará a existir? (...)"

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 24)