"Karma Individual é o que cada um
de nós colhe e semeia para si próprio. (...) Agora vamos considerar o Karma em suas
complexas interações; e aqui pode parecer que, em se tratando do Karma Coletivo
(Social ou Supraindividual), estaremos tratando com o que pode parecer
modificações, ou mesmo violações do rigor da Lei Kármica. Mas não é assim, como
veremos.
O Karma Coletivo pode ser
dividido em Seis Grupos Principais, como se segue:
1. O Karma Conjugal.
2. O Karma de Família.
3. O Karma Mútuo.
4. O Karma Nacional.
5. O Karma Racial.
6. O Karma Universal.
Está exposto em muitos escritos
sagrados que nossos pensamentos e ações afetam outras pessoas em maior ou
menor extensão. Nesse fato baseia-se a atividade do Karma Coletivo. Todos somos
uma Unidade Espiritual, ou Fraternidade, negada como pode ser, e todos nadamos
no mesmo Oceano da Vida. Portanto, cada mau pensamento polui, em pequena
extensão que seja, esse oceano, e cada bom pensamento ajuda a purificá-lo. Em
outras palavras, somos, em apreciável extensão, os guardas dos nossos irmãos.
Não há separatividade na Realidade. A ilusão da separatividade em relação ao
nosso próximo é a Grande Heresia e a raiz de todo o Mal. Precisamos compreender
que cada bom pensamento que enviamos para ajudar outros deve ter seu efeito, da
mesma forma pela qual cada mau pensamento é um poluidor. As correntes de
pensamentos movem-se de acordo com a força que está por trás deles. Pensamentos
puros formam uma aura pura em torno da pessoa que os tem, e são pacíficos e
serenos. Diz Éliphas Lévi: 'Muitas vezes ficamos estupefatos quando, em
sociedade, somos dominados por pensamentos e sugestões voltados para o Mal,
coisa que não teríamos julgado possível, e não nos apercebemos de que eles só
vieram pela presença de algum vizinho mórbido... almas doentes que têm o
hálito mau, e viciam a atmosfera moral; mesclam reflexões impuras, por assim
dizer, com a luz astral que nelas penetra, estabelecendo, assim, correntes
deletérias.' Vendo o quanto
afetamos uns aos outros, aprendemos a resguardar nossos pensamentos e atos e a
viver considerando tanto a felicidade pública como a nossa própria. Lemos em
Fo-Pen-Hing-Tsih-King, v. 43: 'Nosso dever é fazer alguma coisa, não só em
nosso benefício, mas para o bem daqueles que nos vierem procurar.' E, em
Luz no caminho: 'Recordem que o pecado e o opróbrio do mundo são o teu
pecado e o teu opróbrio, porque tu és parte dele.' Recordai! Com que frequência
esquecemos! Esquecemos as dores dos outros, dores que são nossas, para
partilhar e ajudar a suportá-las. Esquecemos que não devemos condenar o Mal em
outros, enquanto qualquer mal ainda estiver em nós. 'Que aquele que for
sem pecado atire a primeira pedra' (Jesus). O Sr. Suzuki, em seu Esboço do
budismo Mahâyâna, expõe o caso muito habilmente. Ele diz: 'Todos os
sofrimentos sociais não são obrigatoriamente produzidos por um Karma passado,
mas podem ser engendrados pelas imperfeições do atual sistema social. A região
do Karma não está no mundo social e econômico, mas no mundo moral. A pobreza
não é, fatalmente, a consequência de atos maus, nem a plenitude é consequência
de atos bons. A recompensa do Bem é a bem-aventurança espiritual — contentamento,
tranquilidade de espírito, humildade de coração, imutabilidade da fé — todos os
tesouros celestiais... Os atos, bons ou maus, deixam efeitos permanentes no
sistema geral dos seres sensíveis, e não no próprio autor, mas em todos,
constituindo a grande comunidade psíquica chamada Dharmadhâtu (universo
espiritual), que sofre e goza os resultados de um ato moral. O universo é uma grande
comunidade espiritual — a mais complicada, a mais sutil e mais sensitiva e a
massa de átomos espirituais mais bem organizada, e transmite suas correntes de
eletricidade moral de uma partícula para outra, com a máxima rapidez e
segurança. Porque a comunidade, no fundo, é uma expressão do Dharma-kâya UNO
(Deus).' (...)"
(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 29/30)