OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O PROPÓSITO DA ADORAÇÃO RITUALÍSTICA

"Os homens têm temperamentos diferentes na forma de adorar Deus. Para satisfazer as necessidades de todos, as escrituras prescrevem quatro métodos diferentes de adoração.

Um deles é o método ritualístico de adorar Deus, personificado numa imagem ou símbolo. Um método ainda mais do que esse é adorá-Lo por meio da oração e do japa. O aspirante espiritual ora, repete o nome de Deus e medita na forma luminosa de seu Ideal Escolhido dentro do próprio coração.

Mais elevado ainda é a meditação. Quando alguém pratica essa forma de adoração, mantém o fluxo do pensamento continuamente em Deus e permanece absorto na presença viva de seu Ideal Escolhido. Esse método transcende a oração e o japa, mas o sentido de dualidade ainda permanece.

O método de adoração superior a todos é aquele em que se medita na unidade entre o Atman e Brahman. Esse método condiz direta e imediatamente a Deus. O aspirante espiritual realiza Brahman e está convencido de que Deus existe. É a verdadeira constatação da Realidade onipresente.  

Esses são os diferentes estágios pelos quais o aspirante espiritual evolui. Para o ser humano, é de vital importância iniciar sua jornada espiritual a partir do estágio onde se encontra. Se o homem comum receber orientação para meditar em sua união com Brahman absoluto, ele não compreenderá a ideia. Não conseguirá captar a verdade desse fato nem será capaz de seguir as instruções. Ele poderá tentar durante algum tempo, mas, cedo ou tarde, irá se cansar e desistir.

Se esse mesmo homem, porém, for orientado a adorar a Divindade oferecendo-lhes flores, incenso e outros acessórios próprios à adoração ritualística, sua mente gradualmente se concentrará em Deus e ele encontrará alegria no ato de adorar. Por meio desse tipo de adoração, aumenta a devoção à prática do japa. Quanto mais sutil a mente se torna, maior sua capacidade de entregar-se a forma mais elevada de adoração. O japa inspira a mente à prática da meditação. Com isso, de forma natural, o aspirante dirige-se gradualmente para seu Ideal.

Tomem o exemplo de um homem no quintal de sua casa. Ele quer chegar até o telhado, mas em vez de subir os degraus da escada um a um para alcançá-lo, tenta pular de uma só vez. O que acontece com ele? Ele se machuca seriamente. Coisa semelhante acontece na vida espiritual. Deve-se prosseguir no caminho gradualmente, pois assim como existem leis que regem o mundo físico, existem também as que governam o mundo espiritual."

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 222/223)


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O PENSADOR E O PENSAMENTO (PARTE FINAL)

"(...) Será possível experimentar aquele estado em que só existe uma única entidade e não dois processos separados — o experimentador e a experiência? Se o experimentarmos, talvez possamos descobrir o que é ser criador e conhecer um estado em que nunca há deterioração, em quaisquer relações em que se encontre o homem. 

Sou ambicioso. Eu e a ambição não somos dois estados diferentes; só há uma única coisa, que é a ambição. Se estou cônscio de que sou ambicioso, que acontece? Faço um esforço para não ser ambicioso, atendendo a razões sociais ou religiosas; este esforço estará sempre dentro de um círculo limitado. Posso dilatar o círculo, mas ele será sempre limitado. Por conseguinte, nele está presente o fator da deterioração. Mas, se investigo um pouco mais profunda e atentamente, vejo que a entidade que faz esforço é a causa da ambição, ela própria é ambição. E percebo também que não há 'eu' e ambição, separados, e sim apenas ambição. Se reconheço que sou ambicioso, que não há o observador que é ambicioso, mas que eu mesmo sou a ambição, o problema se torna então muito diferente; nossa reação a ele é de todo diferente e nosso esforço não é mais destrutivo. 

Que fareis, ao reconhecer que todo o vosso ser é ambição e que toda ação que executais é ambição? Infelizmente, não estamos acostumados a pensar nessa direção. Há o 'eu', a entidade superior, o soldado que controla e domina. Para mim, esse processo é destrutivo. É uma ilusão e sabemos por que assim procedemos. Divido-me em 'superior' e 'inferior', com o fim de subsistir. Se eu sou a ambição, completamente, se não há um 'eu' atuando sobre a ambição; se eu sou todo ambição, que acontece, então? Por certo, há então um processo inteiramente diverso, nasce um problema diferente. Este problema, sim, é criador, porque nele não há sentimento do 'eu' que domina e que 'vem a ser', positiva ou negativamente. Devemos alcançar esse estado, se queremos ser criadores. Nesse estado, não há entidade que faz esforço. Esta questão não exige 'verbalização', ou que se procure descobrir o que é aquele estado; se vos aplicardes a ela dessa maneira, saireis perdendo e nada achareis. O importante é perceber que a entidade que faz esforço e o objeto para o qual o esforço é dirigido, são a mesma coisa. São necessárias uma compreensão e uma vigilância extraordinárias, para ver como a mente se divide em 'superior' e 'inferior' — sendo que a parte 'superior' é a segurança, a entidade permanente, que continua, todavia, a ser um processo de pensamento e por conseguinte uma coisa do tempo. Se pudermos compreender isso, como experiência direta, veremos então surgir um fator inteiramente diferente."

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 93/94)


terça-feira, 18 de outubro de 2016

O PENSADOR E O PENSAMENTO (1ª PARTE)

"Em todas as nossas experiências há sempre o experimentador, o observador que acumula contínuamente, ou que renuncia a si mesmo. Não será errôneo esse processo, e não estamos aí empenhados numa atividade que não faz vir o estado criador? Se é errôneo o processo, será possível eliminá-lo de todo, abandoná-lo? Só é possível quando experimento, não como 'pensador', mas estando bem cônscio do processo falso e percebendo que só existe um estado único, no qual o pensador é o pensamento. 

Enquanto estou experimentando, enquanto estou no estado de 'vir a ser', tem de haver essa ação dualista, tem de haver pensante e pensamento, dois processos distintos. Não há integração e, sim, sempre, um centro que opera através da vontade de agir no sentido de ser ou de não ser — coletivamente, individualmente, nacionalmente, etc. Esse o processo universalmente observado. Enquanto o esforço estiver dividido entre o experimentador e a experiência, tem de haver deterioração. Só é possível a integração, quando o pensador já não é observador. Isto é, sabemos que há o pensador e o pensamento, observador e objeto observado, experimentador e experiência; dois estados diferentes. Nosso esforço se faz para unir esses dois estados. 

A vontade de agir é sempre dualista. Será possível transcender a vontade separativa e descobrir um estado em que não exista ação dualista? Só é possível, se experimentarmos diretamente o estado em que o pensador é o pensamento. Pensamos agora que o pensador está separado do pensamento; mas é exato isso? Agrada-nos pensar que sim, porque o pensador pode então explicar as coisas através do seu pensamento. O esforço do pensador é feito no sentido de se tornar mais ou de se tornar menos; e, por conseguinte, nessa luta, nessa ação da vontade, no 'vir a ser', existe sempre o fator da deterioração. Estamos empenhados num processo falso e não num processo verdadeiro. 

Há separação entre o pensador e o pensamento? Enquanto eles estiverem separados, divididos, será vão o nosso esforço, estaremos empenhados num processo falso e destrutivo, causador de deterioração. Pensamos que o pensador é separado do seu pensamento. Reconhecendo que sou ambicioso, ganancioso, brutal, julgo que não deveria ser assim. Procura então o pensador alterar seus pensamentos e, por conseguinte, faz um esforço com o fim de 'vir a ser'. Nesse processo de esforço, nutre-se a falsa ilusão de que existem dois estados diferentes, quando de fato só existe um único processo. Penso que aí se encontra o fator fundamental da deterioração. (...)" 

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 92/93)


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O RENASCIMENTO DA ESPIRITUALIDADE

"Atualmente existe um crescente interesse na espiritualidade. No entanto, é preciso se observar a diferença entre espiritualidade e fundamentalismo, porque as questões do espírito podem causar polêmicas e produzir conflitos. Após os eventos de 11 de setembro de 2001, temos de ser muito cuidadosos quando falamos a respeito da espiritualidade, e diferenciar claramente entre as formas criativas e destrutivas de interesse espiritual.

Espiritualidade e fundamentalismo situam-se nos lados opostos do espectro cultural. A espiritualidade busca um relacionamento com o sagrado que seja sensível, contemplativo, transformador, e é capaz de sustentar níveis de incerteza nessa busca, porque o respeito pelo mistério é sempre soberano (Tacey, 2000). O fundamentalismo busca a certeza, respostas fixas e o absolutismo como resposta temerosa à complexidade do mundo e à nossa vulnerabilidadee como criaturas num universo misterioso. Em qualquer credo, a espiritualidade surge do amor e da intimidade com o sagrado; o fundamentalismo surge do medo e da possessão pelo sagrado. A escolha entre espiritualidade e fundamentalismo é uma escolha entre intimidade consciente e possessão inconsciente.

A espirituialidade é capaz de permanecer com as questões últimas, mas o fundamentalismo quer respostas: duras, rápidas e furiosas. O fundamentalismo pode surgir em qualquer tradição, seja cristã, islâmica, hindu ou até mesmo em modernas ideologias, como a psicologia freudiana ou junguiana (Tacey, 2001). A espiritualidade produz um estado mental que o poeta John Keats definiu como a capacidade de um homem 'estar cheio de incertezas, mistérios, dúvidas, sem qualquer traço de irritabilidade ao tentar alcançar fato e razão'.

Certamente essa é uma condição a se aspirar em nosso mundo dilacerado e partido, especialmente porque o 'sagrado' está sendo invocado por partidos em guerra e forças hostis que têm certeza absoluta de que Deus está do seu lado. Se tivéssemos menos certeza de nossas crenças e fôssemos mais receptivos ao mistério e ao assombro, paradoxalmente estaríamos mais próximos de Deus, seríamos mais íntimos do espírito e mais tolerantes com os seres humanos nossos irmãos, com suas diferentes concepções do sagrado."

(David Tacey - O renascimento da espiritualidade - Revista Sophia - Ano 12, nº 47 - p. 24)


domingo, 16 de outubro de 2016

PORQUE E COMO JESUS SOFREU (PARTE FINAL)

"(...) Se um homem é capaz de servir-se do negro carbono da dor para fazer ouro e pedra preciosa de realização espiritual, deve ele ter ultrapassado toda a alquimia ocultista de toda a magia mental, e deve ter entrado no santuário da mística divina.

Quando um desses místicos escrevia 'eu transbordo de júbilo no meio de todas as minhas tribulações', devia ele ter experiência desse segredo.

E quando o Mestre disse que ele devia entrar em sua glória pelo sofrimento e pela morte voluntária, devia ter removido um espesso véu que, para o comum dos mortais, encobre o mistério do sofrimento como fator de autorrealização.

Apesar de ter Jesus sofrido voluntariamente tudo o que sofreu para entrar na sua glória, contudo o modo como ele soube sofrer é um modelo para todos os sofredores. Não sofre com covardia, como os fracos, nem com jactância, como certos heróis, ou pseudo-heróis da humanidade, que desafiam os martírios e a morte. No Getsêmane, o seu Jesus humano pede ao Cristo divino que, se possível, faça passar aquele cálice amargo - mas logo se entrega totalmente, à vontade superior do seu Cristo divino. No Gólgota, por um momento, o seu ego humano clama em altas vozes: 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?' - mas logo o seu Eu crítico se resigna e murmura serenamente: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito'.

Ele sofre como o mais humano dos homens, porque era integralmente humano no seu Jesus, e integralmente divino no seu Cristo.

Cada homem é potencialmente o que ele pode vir a ser atualmente. Horror ao sofrimento e à morte, a repugnância contra injustiças e ingratidões são compatíveis com a soberania, calma e serenidade do espírito. Uma completa integração do nosso ego inferior em nosso Eu superior perfaz a harmonia total da natureza humana.

Ser tentado a revoltar-se contra o sofrimento é humano - deixar-se derrotar pelo sofrimento é deplorável.

Toda a serenidade no sofrimento depende, em última análise, da visão da nossa existância total, cuja falta dificulta e mesmo impossibilita a compreensão da tarefa evolutiva do sofrimento."

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 47