"Muitas pessoas piedosas tentam camuflar os seus sentimentos com a sugestão: Jesus sofreu mais...
E, assim julgando, aliviam os seus males tornando-os toleráveis.
Se grande é a boa vontade dessas pessoas, pequena é a sua sabedoria.
Acima de tudo, esta afirmação insinua uma inverdade. Em segundo lugar, é falso o motivo dos sofrimentos de Jesus.
Dizer que Jesus foi o rei dos mártires, o maior sofredor da humanidade, não corresponde à verdade. Nem adianta apelar para as palavras do profeta Isaías, que descreve os sofrimentos do 'servo de Deus' (ebed Yahveh), porque Isaías se refere diretamente aos sofrimentos dos israelistas no exílio da Babilônia causados pelos pecados de Israel.
Durante os 33 anos da sua vivência terrestre, sofreu Jesus fisicamente durante umas 15 horas, desde as 20 horas da quinta-feira até às 15 horas da sexta-feira. Haverá na terra um homem que, durante a vida, tenha sofrido apenas 15 horas?
Mas e os sofrimentos morais e psíquicos de Jesus? Os ludíbrios, as incompreensões, as ingratidões, etc...?
Quando um avatar desce das alturas às profundezas, sabe ele de antemão que essa jornada vai ser um tormento para ele, e não espera outra coisa.
A maior das inverdades, porém, é a constante afirmação dos teólogos de que Jesus sofreu por ordem de Deus, a fim de pagar-lhe a enorme dívida dos pecados humanos. Se isto fosse verdade, escreve o historiador britânico Arnold Toynbee, seria Deus o maior monstro do Universo.
Jesus nunca afirmou ter vindo ao mundo para pagar pelos pecados humanos, sofrendo e morrendo na cruz.
A verdade está nas palavras que Jesus disse aos dois discípulos sofredores, a caminho de Emaús: O Cristo devia sofrer tudo isto para assim entrar em sua glória. (...)"
(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 45/46)