"O homem egoísta não funciona no plano búdico, pois a própria essência desse plano é a simpatia e a compreensão absolutas, o que exclui o egoísmo. O homem não poderá desenvolver um corpo búdico enquanto não tiver conquistado os planos inferiores. Existe estreita conexão entre o astral e o búdico, sendo o primeiro, de certa maneira, reflexo do último; mas não se suponha, por isso, que o homem pode saltar da consciência astral para a consciência búdica sem desenvolver os veículos intervenientes.
Está visto que, nos níveis superiores do plano búdico, o homem se identifica com todos os outros, mas não devemos presumir, por esse motivo, que se sente da mesma maneira em relação a todos. Não há razão para supor que, um dia, experimentaremos exatamente o mesmo em relação a toda a gente; por que haveríamos de fazê-lo? Até o Senhor Buda tinha um discípulo favorito, Ananda; até o Cristo via São João, o discípulo amado, com olhos diferentes dos com que via os demais. A verdade é que, dentro em pouco, amaremos todo o mundo como agora amamos os que nos são mais chegados e mais caros, mas, nessa ocasião, teremos desenvolvido para os que nos estão mais próximos e nos são mais queridos um tipo de amor de que agora nem fazemos ideia. A consciência búdica inclui a de muitos outros, de modo que podemos colocar-nos na pele de outro homem e sentir exatamente o que ele sente, olhando-o de dentro, em vez de olhá-lo de fora. Nessa relação, não sentiremos sequer vontade de afastar-nos do homem mau, porque o reconheceremos como parte de nós mesmos - uma parte fraca. Desejaremos ajudá-lo, deitando força naquela parte fraca de nós mesmos. O que se requer, na realidade, é tomarmos essa atitude e executá-la e não apenas falar ou pensar nisso vagamente; e não é fácil adquirir esse poder.
Nem todos os egos precisam passar por todas as experiências, pois, quando nos elevamos ao nível búdico, podemos ganhar a experiência dos outros, até dos que se opuseram ao progresso. Sentiremos por simpatia. Poderíamos afastar-nos se não quiséssemos sentir o sofrimento de outrem; mas decidiríamos senti-lo, porque desejamos ajudar. No plano búdico, envolvemos o homem em nossa própria consciência, e, conquanto ele nada sabia a respeito do nosso envolvimento, este, até certo ponto, lhe atenuará das experiências dos estágios inferiores do desenvolvimento humano. Um adepto deseja, por força, remover ou aliviar o sofrimento, mas podemos imaginar facilmente um caso em que ele veja o que bem produzido pelo sofrimento sobreleva tão enormemente a dor atual, que interferir nele não seria um ato de bondade, senão de crueldade para com o sofredor. Ele varia o todo e não somente a parte. A sua simpatia seria mais profunda do que a nossa, mas ele não a expressaria em ação, exceto quando esta fosse proveitosa."
(C.W. Leadbeater - A vida interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 130/131)