"'Aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.'
"Nascer da água' é usualmente interpretado como uma prescrição do ritual exterior do batismo pela água - um renascimento simbólico -, visando tornar-nos qualificados para o reino de Deus após a morte. Mas Jesus não se referia a um renascimento envolvendo água. 'Água', aqui, significa protoplasma; o corpo humano, em sua maior parte, é constituído de água e inicia sua existência terrena no fluido amniótico, no ventre de sua mãe. Embora a alma tenha de passar pelo processo natural de nascimento que Deus estabeleceu por meio de Suas leis biológicas, o nascimento físico não é suficiente para que o homem se torne apto para ver ou entrar no reino de Deus.
A consciência comum está presa ao corpo; e, através dos dois olhos físicos, o homem é capaz de observar apenas o diminuto teatro deste Terra e o céu estrelado que a circunda. Pelas pequenas janelas exteriores dos cinco sentidos, as almas restritas ao corpo nada percebem das maravilhas que estão além da matéria limitada.
Em um avião, voando a grandes altitudes, não se percebem fronteiras, mas somente a vastidão do espaço e os céus ilimitados. Porém, na reclusão de um quarto, entre paredes sem janelas, perde-se a visão da imensidade. De modo parecido, quando a alma humana é enviada do Espírito infinito para um corpo mortal circunscrito pelos sentidos, suas experiências externas permanecem confinadas às limitações da matéria. Assim, Jesus aludiu ao fato, também expresso pelos cientistas modernos, de que podemos ver e conhecer apenas o que os instrumentos limitados dos sentidos e da razão nos permitem.
Assim como os detalhes das estrelas distantes não podem ser vistos com um telescópio de cinco centímetros, da mesma forma Jesus dizia que o homem não pode ver ou conhecer algo do reino celestial de Deus com o poder limitado da mente e dos sentidos. Entretanto, um telescópio de cinco metros capacita o homem a sondar as imensas regiões do espaço povoado de estrelas; e, semelhantemente, desenvolvendo a percepção intuitiva por meio da meditação, ele pode contemplar e entrar no reino astro e causal de Deus: berço de pensamentos, estrelas e almas.
Jesus enfatiza que, depois que a alma encarna - nasce da água ou protoplasma -, o homem deve transcender as imposições mortais do corpo por meio do autoaperfeiçoamento. Com o despertar do 'sexto sentido', a intuição, e com a abertura do olho espiritual, sua consciência iluminada pode entrar no reino de Deus. Nesse segundo nascimento, o corpo permanece o mesmo; mas a consciência da alma, em vez de estar presa ao plano material, encontra-se livre para passear no ilimitado império do Espírito, eternamento jubiloso."
(Paramahansa Yogananda - A Yoga de Jesus - Self-Realization Fellowship - p. 51/52)