Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles: do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não toques uma trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam sua recompensa.
Mas, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita;
Que a tua esmola seja dada em segredo: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente.
Jesus fala aqui da ação e da sua recompensa, fala de causa e efeito, que no Vedanta é anunciado como a lei do karma. Afirma a lei do karma que, se eu fizer uma boa ação para alguém, receberei minha recompensa. Pouco importa se esse alguém me dê ou não essa recompensa. Se eu fizer o bem, receberei o bem em troca. Se fizer algo de mal, o mal voltará para mim. Essa é a lei. (São Paulo diz na Epístola aos Gálatas: '... tudo o que o homem semear, isso também colherá.') Mas, para que possamos alcançar a perfeição precisamos libertar-nos de todos os apegos, de todo o desejo pelos frutos da ação. Precisamos libertar a mente de todo tipo de impressão e tendência - boa ou má, porque as boas ações também geram karma. Se quisermos transcender o karma, ensina-nos o Gita, carecemos de aprender a oferecer os frutos de nosso trabalho a Deus. Isto é karma ioga - a via de união com Deus através da ação dedicada a Deus.
Na karma ioga, a vida toda do devoto se converte num ritual contínuo, já que cada ação é executada, não com a esperança de ganho ou de vantagem pessoal, mas como uma adoração. Dedicar os frutos do trabalho a Deus é trabalhar sem apegos. Importa que não demos azo ao orgulho e à vaidade, se os resultados de nosso trabalho forem favoráveis e ganharem elogio público. Por outro lado, havendo feito o melhor, não nos devemos desesperar, caso nosso trabalho produza resultados decepcionantes, ou seja criticado asperamente, ou totalmente desprezado. Muitos homens e mulheres talvez empenhem o melhor de suas qualificações, e com a maior das dedicações; mas, se o seu ideal carece da união com Deus, ser-lhes-á quase impossível não caírem no desespero, caso percebam perdida a sua causa, e que toda a sua vida resultou em nada. Só o devoto de Deus não precisa jamais desesperar-se por haver renunciado aos frutos da ação. Ele tem a sua recompensa - o próprio Deus.
Para muitas pessoas, desapego significa indiferença, preguiça, fatalismo. Na verdade, desapego é o extremo oposto da indiferença. É uma virtude positiva, nascida do apego a Deus. De fato, o seguidor da karma ioga precisa estar intensamente apegado ao seu trabalho enquanto o executa. Toda a sua mente precisa estar concentrada em cumpri-lo perfeitamente, uma vez que ele há de ser oferecido como adoração. Entretanto, ele precisa estar apto a desapegar-se a qualquer momento. Pela prática do desapego e do serviço desinteressado, o devoto se liberta da roda da causa e efeito, da ação e recompensa - e ganha o Infinito."
(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 84/86)