OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 1 de setembro de 2015

SILENCIAR A MENTE

"D: Como levar a mente ao silêncio?

 M: Pelo desapaixonamento e pelo abandono de tudo que nos é caro, pode-se, por esforço próprio, realizar facilmente essa tarefa. Sem essa paz mental, a Libertação é impossível. Apenas quando todo o mundo objetivo é extinto pela mente desiludida, em consequência do conhecimento que discerne que tudo que não é Brahman é objetivo e irreal, é que resultará a Suprema Beatitude. Do contrário, se não há paz mental, por mais que um homem ignorante se esforce e se arraste pelo abismo profundo dos textos espirituais (shãstras), não conseguirá obter a Libertação.

Só pode ser considerada morta a mente que, pela prática do yoga, perdeu todas as suas tendências e tornou-se pura e imóvel como uma lâmpada bem protegida do vento por uma redoma. Essa morte da mente é a realização mais elevada. A conclusão final de todos os Vedas é que a Libertação nada mais é do que a mente silenciosa.

Para a Libertação apenas uma mente silenciosa tem valor; riqueza, parentes, amigos, karma resultante de movimentos dos membros, peregrinação a lugares santos, banhar-se em águas sagradas, vida em regiões celestiais, práticas austeras, por mais severas que sejam, ou qualquer outra coisa - nada disso serve. Da mesma forma, muitos livros sagrados ensinam que a Libertação consiste em abandonar a mente. Em várias passagens do Yoga Vasishta a mesma ideia se repete, de que a Bem-aventurança da Libertação só pode ser alcançada pela extinção da mente, que é a causa principal do samsãra e, portanto, de todo sofrimento. 

Assim, matar¹ a mente pelo conhecimento dos ensinamentos sagrados, pelo raciocínio e pela experiência pessoal é desfazer o samsãra. De que outra maneira pode ser parada a miserável roda de nascimentos e mortes? E como pode a liberdade resultar disso? Nunca. A não ser que o sonhador desperte, o sonho não termina, como não acaba o pavor de estar diante de um tigre, no sonho. Igualmente, se a mente não estiver desiludida, a agonia do samsãra não cessará. A única coisa é que a mente precisa ser silenciada. Esta é a realização da vida."

¹ Embora neste e em outros trechos dos ensinamentos verifica-se a utilização de termos como 'destruir', 'apagar' ou até mesmo 'matar' em relação aos pensamentos ou à mente, uma leitura ampla e aprofundada dos ensinamentos Advaita, em especial de Sri Ramana Maharshi, revela que o apontar é de que a mente em si é ilusória ou inexistente. Não se pode, assim, destruir algo que não existe - ou que existe apenas enquanto imaginação. Sabendo disso, talvez fosse melhor ler trechos como este como 'abandonar' ou 'transcender' a mente.
  
(Advaita Bodha Deepika - A Luz da Sabedoria Não Dualista - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 67/69)
www.editorateosofica.com.br/


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O QUE É O AMOR (PARTE FINAL)

"(...) O amor não pode ser explicado; a alegria que ele traz somente pode ser sentida. A profundidade, a qualidade, a intensidade do amor diferem; a sua natureza, no entanto, é a mesma, e ela nos impele a atos e desejos semelhantes. Nessa poderosa expressão de amor e entrega, em todos os amores, temos o mesmo fenômeno, a mesma angústia na separação, a mesma alegria na união.

Não podemos dividir o amor em diferentes tipos: ele é indivisível. No entanto, há uma dúvida com relação ao elemento sexual em algumas expressões de amor. Parece-me que o sexo, embora seja um fator importante na vida, não é um acompanhamento necessário do amor. O amor em si não tem qualquer elemento sexual, e a atração sexual raramente conota amor. No amor propriamente dito, o fato da pessoa amada ser do sexo oposto raramente tem qualquer influência, como no caso do amor do pai por sua filha ou do irmão por sua irmã.

Mas o sexo influencia o amor de duas pessoas de idades semelhantes e sexos opostos - o amor que culmina no casamento. O amor não tolera segredos e busca a maior união possível; nessas duas afirmações temos um retrato do elemento sexual no amor. Com as limitações que são impostas ao corpo humano, a união mais próxima possível nesta vida é atingida na expressão sexual; por isso ela é a mais intensa. E por isso, na linguagem do devoto, o objeto de sua constante contemplação - o próprio Senhor Paramesvara - é apresentado como sendo de sexo oposto ao do devoto. Isso poderia, para a maioria das pessoas, ser considerado um total sacrilégio. Foi isso que criou tanto mal-entendido a respeito da relação de Krishna com as Gopis. É isso que dá terrível força e ternura às canções de Mira Bai, e a faz parecer quase irresponsável. Foi isso que fez os cristãos medievais considerarem a Igreja como 'a noiva de Cristo'. Todos adotam o mesmo simbolismo. A relação entre marido e esposa é a mais íntima possível, e portanto é usada como metáfora para expressar a ligação mais fervorosa de um ser por outro."

(Sri Prakasa - O que é o amor - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 14/15)
www.revistasophia.com.br


domingo, 30 de agosto de 2015

O QUE É O AMOR (2ª PARTE)

"(...) Outra característica do amor é o desejo de servir ao ser amado. O desejo de ser útil a quem se ama é uma força impulsora que está onde quer que haja amor. Sempre que alguém ama profundamente, tenta servir ao ser amado e agradá-lo com seus atos de devoção. Encontramos isso em todos os casos, e a intensidade do nosso desejo de servir depende da intensidade do nosso amor. Um filho amoroso tenta servir seus pais, um discípulo amoroso, o seu preceptor, um consorte o seu consorte, um animal o seu dono, e vice-versa.

Portanto, não vejo distinção entre o que é chamado 'diferentes tipos de amor' de um ser humano por diferentes seres. A intensidade difere, com certeza, mas a natureza do amor não difere de um caso para outro.

O amor é uma força cega que nos leva além de nós mesmos e que somos incapazes de deter. Ele não ouve argumentos e exige apenas duas coisas: tanta proximidade do ser amado quanto seja possível; tantas oportunidades de servir e agradar quanto seja possível.  (...)

O que o amor nos dá? Alegria. Nada mais e nada menos do que isso. Somente alegria é o que sentimos por estar ao lado de quem amamos (...) A proximidade física nos dá tal alegria que não conseguimos descrevê-la; nós sentimos sem compreender por que ela surge. A simples visão daqueles a quem amamos traz felicidade - uma felicidade tal que podemos até desejar passar por dificuldades e sofrer por aqueles que amamos. (...)"

(Sri Prakasa - O que é o amor - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 14)

sábado, 29 de agosto de 2015

O QUE É O AMOR (1ª PARTE)

"Se para o cientista o mundo é a corporificação da sobrevivência do mais forte, para o homem comum ele é - e em igual extensão, senão maior - a corporificação do princípio do amor. Encontramos o amor em toda parte: no ninho do pássaro, na toca da fera, no lar do homem. O amor é, na verdade, a emoção que guia o coração dos seres sencientes. Se a sobrevivência do mais forte significa a destruição do fraco, o amor significa criação e proteção. 

Muitos já falaram e escreveram a respeito do amor. Ele foi descrito de várias formas: amor pelo superior, cuja melhor expressão é o amor filial; amor pelo igual, cuja melhor expressão é o amor conjugal; e amor pelo inferior, cuja melhor expressão é o amor paternal. Supõe-se que a natureza e a qualidade do sentimento sejam diferentes em cada caso. (...)

O primeiro aspecto do amor é a atração de um ser por outro e o desejo de maior proximidade - física, mental e espiritual. Esse fator é inseparável do amor, quer seja de uma criança por seus pais, de um discípulo por seu guru, de um amigo ou de um cônjuge por outro. Parece que, sem essa atração natural - para a qual não se pode atribuir qualquer razão - não existe o verdadeiro amor. O mesmo vale para a relação entre homens e animais. Podemos encontrar milhares de exemplos da mais fervoroso ligação entre eles, o ser que ama e o ser amado sendo atraídos um pelo outro, irresistivelmente e por razões inexplicáveis. 

A atração traz consigo o inevitável desejo de estar fisicamente tão próximos quanto possível; de, mentalmente, não ter segredos; e de, espiritualmente, ter aspirações e empenhos comuns. A separação traz tristeza, e agir sem consultar o outro parece impróprio; ter aspirações e esperanças diferentes parece um sacrilégio. Isso ocorre sempre que existe um forte amor, seja a pessoa amada superior, igual, ou inferior à pessoa que ama. 

Esse princípio se aplica também ao caso da criança e do animal. Queremos estar juntos de uma criança muito amada, mesmo que ela ainda não saiba se expressar; queremos estar próximos de nossos animais de estimação, embora não nos deem qualquer resposta inteligível. (...) O forte amor - até onde diz respeito à emoção - nos impele em direção a sentimento semelhante. Sua expressão externa, no entanto, é diferente em diferentes casos: um bebê toca seus pais; um amigo pode dar um vigoroso aperto de mão; o marido pode abraçar a esposa; o dono pode dar tapinhas em seu cão. Em todos os casos, vemos que o desejo de se aproximar tanto quanto possível do ser amado é um fator sempre crescente. O desejo de proximidade é inseparável da afeição. Vemos, porém, que existe fundamentalmente apenas um tipo de amor e que sua natureza é a mesma, qualquer que seja o objeto do amor. (...)"

(Sri Prakasa - O que é o amor - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 13/14)


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES

"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. 

Comparem-se as palavras de Cristo com o ditado hindu a respeito de Rama, um dos avatares: 'Onde está Rama, não existe desejo mundano, e onde existe desejo mundano, Rama não está.' Encaremos os fatos: a tentativa de servir a 'Deus e ao dinheiro' simultaneamente é ato de puro desespero. Dizem-nos os grandes mestres espirituais que não se pode fazer isso. Não podemos compenetrar-nos de Deus enquanto formos escravos de desejos como a luxúria e a ganância. O discernimento espiritual precisa estar ao lado das práticas espirituais. Amadurecendo nosso discernimento, surge como processo natural a renúncia. Então, como o mercador da parábola de Cristo, venderemos todos os nossos pertences, a fim de comprar a 'pérola única de alto preço', que é o reno do céu.

A leitura do evangelho de Cristo torna claro que ele ensinava o ideal da renúncia, exatamente como tem sido ensinado por todos os grandes videntes da verdade: Se você deseja realmente a Deus, precisa abandonar o dinheiro. Como a mensagem de Rama, Krishna, Buda e todos os outros avatares, a mensagem de Cristo é universal: vida espiritual sem renúncia é impossível. Em suas próprias palavras:

'Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas aquele que, por amor de mim, perde a sua vida, a encontrará. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou o que poderá dar o homem em troca da sua alma?'

O que vem a ser, de fato, negar a si mesmo, renunciar? Não significa livrar-se do mundo e de seus deveres. Significa abandonar o egoísmo, o sentimento de 'eu' e de 'meu'. Significa amar a Deus com todo o coração, alma e mente. Sri Ramakrishna dizia: 'Por que o amante de Deus renuncia a tudo por amor daquele que ama? Depois que vê a luz, a mariposa não volta mais para o escuro; a formiga morre no monte de açúcar, mas não recua dele. Assim, de bom grado, o amante de Deus sacrifica a vida para alcançar a bem-aventurança divina, não se apegando a mais nada.'"


(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 112/113)