"O sacrifício e a renúncia são práticas semelhantes. O sacrifício de certa forma ritualiza os nossos atos de renúncia. Existe um lugar para a renúncia, tapasyas, ou austeridades em nossa prática espiritual. É muito útil impor uma disciplina em nós quando sentimos que é isso que necessitamos. Se vocês necessitam, é bom jejuar, porque isso os fará sentir como estão apegados à comida. Se precisam, é bom ser brahmacharya, porque verão como estão iludidos pelos seus desejos sexuais. Tapasyas faz-nos trazer para a consciência a total extensão dos nossos apegos. Se pudermos vê-los do lado de fora, do lugar ocupado pela testemunha, não nos permitiremos ficar tão envolvidos pelos nossos desejos sensuais durante todo o tempo. Se nossas mentes não se voltarem tanto para fora, elas ficarão livres para se voltar para dentro, para a Luz.
Isso é a austeridade. Quando ela nos faz ficar alegres, porque estamos nos liberando de algo que nos mantém afastados de Deus, isso é uma boa indicação de que a renúncia é a prática certa no momento. Por outro lado, se estamos trincando os dentes e agindo para sermos 'bons meninos', talvez fosse melhor esperar mais um pouco. Que viagem do ego! Ser apegado para não ficar apegado, e vocês ainda nem começaram a renunciar à renúncia! A prática da renúncia é finalmente renunciar ao nosso sofrimento sobre isso ou aquilo, e quando isso acontece, toda a parte melodramática da viagem da renúncia começa a desvanecer. O jogo não é verificar a pequena quantidade de alimento que podemos ingerir, como podemos ter pouco sexo ou como podemos usar somente algumas roupas - isso é bobagem. O alvo do jogo é ser livre; não ser apegado a ter, não ser apegado a não ter, mas ser livre.
A renúncia é um meio para um fim. Quando estivermos libertos, a renúncia será irrelevante. No minuto em que nos lbiertarmos do apego, poderemos usar ou não qualquer coisa no universo. Na verdade, tudo, então, se torna nosso para ser usado. Toda a energia do universo é uma energia livre, e como nós somos livres, toda ela está lá para que nós a usemos. Mas isso somente após estarmos sem apegos, porque somente então poderemos ficar encarregados das chaves do reino. Quando estivermos sem desejos, sem apegos, agiremos somente quando formos estimulados pelo nosso dharma para agir. Não haverá nada que estejamos buscando na situação que nos afaste da realização do nosso karma yoga. E de modo perfeito."
(Ram Dass - Caminhos para Deus - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2007 - p. 275/276)