"Nós contatamos o mundo através da sensação. Todas as
sensações são agradáveis ou dolorosas. Quando a sensação é agradável, a mente
agarra-se a esta, nela se prendendo. O desejo é o produto, e este desejo
permeia a mente e opera através da memória. Queremos que o desejo seja
satisfeito repetidamente e não há fim nisso. Quando o desejo se faz sentir, o
seu ardor impera, e a mente cai sob o seu fascínio; ela é escravizada pelo
desejo. O desejo é infindável em sua escravização. Ele nos prende ao nosso
passado, é repetitivo, fascina o nosso pensamento, impede a consciência de
estar totalmente no presente. Não podemos dizer ‘não é isto’ até que nos
coloquemos acima disso. O nosso pensamento está em um casamento desigual com o
desejo, e isso é chamado de kᾱma-manas.
Até que vejamos o seu processo e compreendamos as suas ilusões, não podemos
mudar a nós mesmos.
Isso não significa que o agradável deveria ser
evitado. Pode-se desfrutar algo de modo puro, isto é, sem adição, sem criar
complicações. Esse desfrute é uma percepção pura. É a luz que se projeta sobre
todas as coisas e as torna conhecidas.
É somente pela nossa automudança que conheceremos a
Realidade. A Realidade está dentro de nós, e uma consciência purificada é
necessária para senti-la. Presentemente é uma consciência dopada pelo desejo de
gratificação de qualquer espécie, enfraquecida pela indulgência. Precisa ser
despertada do sono.
Se pudermos dar plena atenção ao que está dentro de
nós, rapidamente chegaremos à Realidade. Mas essa plena atenção não é possível
enquanto a mente estiver dardejante, caçando borboletas, ou correndo atrás de
si própria, em algum argumento capcioso. É o vinho do desejo que faz a mente
ser obstinada e tola.
O caminho para a realidade espiritual está dentro de
nós mesmos. É o caminho do discernimento, da autopercepção, um discernimento
entre o verdadeiro e o falso em tudo que nos deparamos. Esse discernimento é
possível porque há um raio de Realidade dentro de nós. A menos que haja alguma
luz dentro de nós, nunca saberemos onde está a luz e onde está a escuridão. O
discernimento deve ser praticado ao longo de todo o caminho que abrimos à
medida que prosseguimos. Não é um caminho estabelecido para nós por alguém,
exceto quanto a algumas afirmações gerais em termos de experiência comum.
Palmilhar o caminho é um processo de liberação em relação a embaraços,
complicações, ilusões, uma carga opressiva. É um caminho de crescente unidade
com tudo – a Natureza e os seres humanos – um caminho de felicidade, que se
cria e se compartilha."
(N. Sri Ram - O
Homem sua Origem e Evolução - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 80/82)