"Qual é a conexão entre o seu sapato e um mosquito na nascente do Amazonas? Durante séculos, em nossa cultura marcada pelo cartesianismo, essa pergunta pareceria absurda, mas atualmente já não parece.
Certa vez vi numa revista o retrato de um indígena Papua, da Nova Guiné, com tanga, penas no cabelo e ossos em torno do pescoço. Seus olhos brilhavam, e as seguintes palavras eram atribuídas a ele: 'Somos uma pessoa.' Durante muito tempo essa ideia também foi considerada absurda. Hoje, não parece mais. Estamos entrando numa era em que esse tipo de percepção se tornará tão natural quanto o ato de respirar.
Todas as coisas - visíveis e invisíveis - estão interligadas. Todas as coisas são diferentes faces da consciência. O tempo, o grande espírito, a fonte, o tao, o uno são nomes que apontam para uma mesma realidade. O universo é consciência: um oceano em movimento, um rio de redemoinhos, um campo infinito de trabalhos criativos no qual a arte é o artista, e o artista é a arte.
A consciência, buscando se autoexperimentar, imagina-nos e nos traz à existência como indivíduos para que possamos interagir como se fôssemos separados. O que criamos nessa experiência também é consciência, e qualquer que seja o objeto que você nomeie - uma montanha, um camundongo, um peixe ou uma ave, uma folha de relva ou uma lufada de vento -, tudo é consciência.
Segundo uma antiga história do Oriente, dois monges discutiram sobre uma bandeira esvoaçando ao vento. 'A bandeira está se movendo', disse um. 'É o vento que está se movendo', respondeu o outro. Eles levaram a questão ao mestre. 'Os dois estão errados; somente a consciência está se movendo', disse o instrutor."
(Michael Brown - Tudo está interligado - Revista Sophia, Ano 10, nº 37 - p. 6/7)