"O sofrimento existe desde tempos imemoráveis, sob a
forma de pobreza, ignorância, solidão, falta de amor, etc. Haverá um estado de
sabedoria no qual a humanidade possa ser feliz? Em todas as eras, pessoas
profundamente religiosas inquiriam a respeito disso.
As instituições e os sistemas religiosos enfatizaram
rituais, formas de adoração e obediência ao clero, muitas vezes ignorando os
verdadeiros valores da religião. No entanto, todo instrutor religioso genuíno
foi um reformador, libertando as mentes ignorantes das práticas convencionais
rígidas e inspirando-as a inquirir a respeito do mistério da vida, seu
propósito e significado.
A religião, no seu verdadeiro sentido, deve libertar
as pessoas da superstição e do sofrimento, e não escravizá-las com ideias
prontas e hierarquias. Ao retirar das religiões os dogmas e as superstições e
atingir o âmago de seus ensinamentos, constata-se que a essência é o amor
universal, baseado no conhecimento de que a vida é indivisível.
As religiões não devem ser aceitas como são apenas
porque essa é a atitude mais fácil; elas devem ser examinadas criticamente para
avaliarmos se criam inimizades e conflitos ou se unem as pessoas com abordagens
de tolerância e boa vontade. Ajoelhar-se ou permanecer em pé para orar, cobrir
ou não a cabeça são questões individuais que nada tem a ver com a verdadeira
religiosidade.
O ser humano se caracteriza pelo desejo de compreender
a vida. Se apenas comesse, dormisse e se multiplicasse, mal poderia ser chamado
de humano, já que todas as criaturas fazem isso. A mente se estagnaria se
ninguém tivesse o ímpeto de penetrar as profundezas do significado da
existência do homem e do universo. Felizmente sempre existiram corações
desbravadores que buscaram a verdade, mesmo quando perseguido e queimados na
fogueira. (...)"
(Radha Burnier - A verdadeira religião - Revista Sophia, Ano 12, nº 50 - p.20/21)