"A
vida é um processo. Então haverá, de algum modo, uma mudança fundamental?
RB: É
claro que a todo momento existem mudanças na vida, muitas das quais são
imperceptíveis. Cada um de nós passa por mudanças durante diferentes
encarnações. Se não houvesse mudança, não haveria processo evolutivo. O
processo não somente implica mudança, mas também, a longo prazo, perfeição. A
perfeição do organismo físico é produzida através de um lento processo de
mudança e de melhoria até o estágio do complexo corpo humano, com um cérebro
incrivelmente complexo, muito do qual ainda não é utilizado. Complexidade
implica crescente sensibilidade etc. A partir do ponto teosófico, através da
evolução biológica, processa-se o desabrochar da consciência. A habilidade de
perceber mais e responder mais é desenvolvida através de longos períodos de
tempo. Então, deveríamos tomar alguma atitude ou deveríamos deixar que o
processo evolucionário nos lançasse à perfeição, aliviando-nos dos nossos
problemas?
Aparentemente
não funciona dessa maneira. H.P.B, declara em A Doutrina Secreta: ‘o homem é o único agente livre na Natureza’.
Na obra Viveka Chudamani (A Jóia suprema
da sabedoria), de Sri Shankaracharya, e no Dhammapada, que supostamente contém as palavras do Buda, há
declarações que indicam uma posição especial para o ser humano. (...) A
consciência humana é capaz de perceber a própria posição em relação a tudo o
mais. Pode questionar os aspectos certos ou errados de tudo o que acontece.
Deseja conhecer o porquê e procura agir de acordo com as próprias percepções,
impulsos e conceitos. Esses podem estar em contradição com o atual movimento de
avanço em virtude da falta de compreensão suficiente. Porém, a beleza está no
homem ser capaz de compreender, e ele precisa esforçar-se para compreender. Ele
pode e precisa saber o que é o Plano Divino, participando de grandes movimentos
dirigidos à perfeição, com plena percepção e liberdade. Os outros reinos agem a
partir da inteligência inconsciente que lhes é oferecida pela Natureza, sendo
sua retidão simplesmente parte da Natureza. Porém, o ser humano não pode fazer
isso. (...)
Desejamos
uma mudança que nos satisfaça de imediato. Mas a mudança fundamental significa
crescer em percepção e inteligência, compreendendo a beleza de todo o processo
divino e com ele cooperando livremente porque é tão maravilhoso fazê-lo. A
mudança fundamental ou mudança na direção certa deve ser compreendida por todos
os seres humanos mais cedo ou mais tarde, e eles terão de realizá-la por si
mesmos."
(Radha Burnier - Regeneração Humana – Ed.
Teosófica, Brasília, 1992 - p. 160)