"Não importa, ó homem, qual o papel que te coube no drama da vida.
Rei ou vassalo, milionário ou mendigo, filósofo ou analfabeto - não importa.
Se o mendigo no palco desempenhar bem o seu papel de mendigo, receberá mais aplausos do que o rei que não soube fazer o papel de rei.
Mais vale desempenhar com inteligência o papel de tolo do que tolamente fazer o papel de inteligente.
Homem! Desempenha bem o papel que te coube no plano de Deus - e será homem de bem!
Deus não precisa de ti nem do estardalhaço que no mundo fizeres - ele poderia fazê-lo muito maior...
Deus não precisa do bem que fizeres - ele o poderia fazer sem ti mil vezes melhor...
Mas Deus quer que pratiques o bem para seres bom.
Pode Deus fazer sem ti todo o bem - mas não pode ser bom em teu lugar.
Seres bom é tarefa eminentemente individual - ninguém a pode fazer por ti.
Para todos os efeitos podes passar procuração a outrem - menos para ser bom.
Ninguém te pode fazer bom contra a tua vontade.
E, 'quando tiveres feito tudo que te foi ordenado, dize: Sou servo inútil; não fiz senão o que fazer devia...'
Quando houveres desempenhado do melhor modo possível o teu papel, brilhante ou humilde, no cenário da vida não esperes pelos aplausos da platéia.
Desaparece em silêncio por detrás dos negros bastidores do esquecimento, da ingratidão ou da morte...
'Por todo o bem que tu fizeres espera todo o mal que não farias...'
Se a platéia te aplaudir, agradece a boa intenção - mas não contes com isso!
Se a platéia te vaiar, tolera a injúria - mas não te entristeças por isso!
Não valem uma lágrima nem um sorriso todos os elogios ou vitupérios do mundo.
Não és santo porque os homens o dizem - nem és celerado porque os homens o afirmam...
Seja-te suficiente galardão a consciência do dever cumprido do melhor modo possível.
Não necessita de apoteose verbal quem dentro de si traz a apologia real da justiça e da verdade.
Pode sofrer, sereno e calmo, todas as vaias do mundo quem não buscou os aplausos dos homens.
Mais feliz se sente na derrota do que na vitória quem não é 'derrotado' por vitória alguma.
Mais luminosa é para o herói a escuridão dos bastidores do que para o covarde o fulgor da ribalta.
Desaparece tanquilo Moisés nas alturas do Nebo - porque introduziu o seu povo na terra de Canaã...
Morre feliz o Batista nas profundezas do cárcere - porque levou a humanidade até a alvorada do reino de Deus...
'Está consumado!' - exclama o Nazareno no alto da cruz.
Não vale a vida pela extensão que ocupa no tempo ou espaço - vale pela intensidade com que é vivida.
Quem vive como deve, vive a sua vida em toda a plenitude.
Vida feliz!..."
(Huberto Rohden - De Alma para Alma - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2005 - p. 115/116)