"(...) Diz LUZ NO CAMINHO:
'Procura pela flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta: não antes.
Ela crescerá, se desenvolverá, lançará ramos e folhas, formará botões enquanto a tempestade prosseguir, enquanto perdurar a batalha. Porém, só quando toda a personalidade do homem estiver dissolvida e desvanecida - só quando for mantida pelo divino fragmento que a criou como mero instrumento de experimentação e experiência - só quando toda a natureza houver cedido e sido submetida ao seu Eu Superior, é que o botão pode se abrir'.
O desabrochar da flor é a profunda experiência espiritual que advém após o terrível estrondo da tormenta. É na tormenta que se cria a profundeza do silêncio. A limpeza da Natureza pela tormenta é certamente a criação do espaço. O silêncio que se segue à tormenta é da mais alta significação. A tormenta revolve tão profundamente a natureza, que todas as coisas mortas são lançadas fora e o fardo do passado alijado.
Da mesma forma, a mente humana poderá ser renovada, se o fardo do seu passado for descarregado e tornado mais leve e maleável. O silêncio profundo pode advir à mente, desde que ela tenha sido profundamente revolvida. A mente plácida, indiferente, despreocupada, impassível jamais pode experimentar as profundezas e, portanto, não pode conhecer o que seja renovação. Tal mente pode excitar-se, mas não entusiasmar-se. A capacidade de ser revolvida, remexida é uma precondição necessária para despertar o interesse e o entusiasmo. Se nada altera uma pessoa, então há nela algo de fundamentalmente errado! Felizmente há sempre alguma coisa que nos incomoda. Isso constitui a graça salvadora de nossa vida! Demonstra que não estamos mortos, embora possamos estar adormecidos.
Mas, se alterações convêm às nossas vidas e se tormentas rugem em nosso íntimo, por que é que não se criam profundidades em nossas consciências? Por que não limpam nossas mentes? Por que não ficamos renovados após tormentas mentais e emocionais? É porque resistimos às tormentas. Interferimos em seus movimentos, queremos controlá-las. Temos receio de permitir à tormenta que opere através de nós. Sentimos que seremos destruídos ao seu impacto, sentimos que seremos varridos por seu poderoso influxo. E assim, quando as tormentas psicológicas rugem em nós, resistimos à sua aproximação e, quando chegam, procuramos abrir nosso caminho, através delas.
Mas corre-se graves perigos ao procurar abrir caminho através de uma tormenta ou de uma perturbação. Quando uma tormenta ruge, a gente se sente confusa. Se não houvesse confusão, também não haveria tormenta! Em uma tormenta, levantam-se nuvens de pós e há a agitação de árvores e plantas. Naturalmente, se fica confuso no meio desta agitação e, assim, quaisquer passos dados, neste momento de confusão, tendem a levar-nos a uma confusão maior. Em tormentas e perturbações a gente precisa 'estar alerta', como se cada movimento da mente confusa possibilitasse o extravio do peregrino espiritual. Se deixarmos a tormenta operar sozinha e não houver resistência, haverá então uma completa limpeza da mente. A mente será refrescada e renovada. Um novo caminho e uma nova abordagem se abrirão a uma mente assim. E um novo caminho sempre evoca entusiasmo no fundo do coração de cada ser humano. (...)"
(Rohit Mehta - Procura o Caminho - Ed. Teosófica, Brasília - p. 16/19)