"Um dos mais populares heróis do folclore tibetano é
um monge do século XI chamado Milarepa. Inúmeros episódios de sua vida são
citados como evidência dos poderes do amor.
Um dia um caçador e seu cão saíram para caçar um
veado. Na sua tentativa de escapar, o veado por acaso penetrou na campina onde
Milarepa estava sentado em meditação. Observando sua profunda calma e sua aura
de ternura, o exausto animal achegou-se e deitou-se ao seu lado, na esperança
de encontrar refúgio. Momentos depois o cão caçador apareceu em cena, e também
se deitou ao lado de Milarepa.
Finalmente chegou o caçador. Ele estava determinado a
matar sua caça, mas, após um curto período na presença de Milarepa, ficou tão
tocado pela santidade do sábio que fez voto de desistir para sempre do hábito
cruel de matar animais. Pediu para ser aceito como discípulo e, pouco tempo
depois, tornou-se um famoso iogue.
Outra figura budista popular é o terceiro Dalai Lama,
que viveu no século XVI. Mesmo quando jovem, a fama de sua erudição e santidade
tinham se espalhado por toda a Ásia. A notícia de sua grandeza chegou até os
ouvidos de Altan Khan, o chefe guerreiro dos terríveis mongóis Tumed. Altan
ficou intrigado pelo que ouvira falar desse famoso instrutor e o convidou a
instruir o povo da Mongólia. O Dalai Lama chegou em 1578.
Sua sabedoria, compaixão e presença impressionaram o
grande Khan, que pediu ao povo para abandonar a trilha de guerra e ódio, e em
seu lugar cultivar o caminho da coexistência pacífica. Esse evento singular
marcou o fim da era de terror que os mongóis infligiram a seus vizinhos da
coreia e do Japão, no Oriente, e da Europa, no Ocidente. Dessa época em diante
os habitantes da Mongólia têm seguido o legado espiritual que lhe foi passado
pelo terceiro Dalai Lama."
(Glenn H. Mullin - A paz na visão budista - Revista Sophia, nº 26 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 39)