"Este método consiste na tentativa de fixar nossa atenção em um objeto de pensamento, em vez de fixá-la em diferentes séries de pensamentos ou em vários objetos (como no método do intelecto). No método da devoção estão incluídas todas as formas de culto, como por exemplo a oração (em cuja prática devemos eliminar todos os pensamentos relacionados com objetos mundanos). O Eu espiritual deve fixar a atenção de maneira profunda e reverente naquilo que escolheu como foco de sua concentração - seja a ideia de um Deus pessoal, seja a de uma Onipresença impessoal. O ponto-chave é que o devoto se concentre, com suficiente sinceridade, em um único pensamento devocional.
Por este processo o Eu espiritual torna-se gradualmente liberto do tumulto de numerosos pensamentos - a segunda série de perturbações - e consegue tempo e oportunidade para pensar em si mesmo. Quando oramos fervorosamente, esquecemos todas as sensações corporais e expulsamos todos os pensamentos intrusos que tentam ocupar nossa atenção.
Quanto mais profunda é nossa oração, mais intensa é a satisfação que sentimos, e essa satisfação torna-se o critério com que medimos até que ponto nos aproximamos da Bem-aventurança ou Deus. À medida que as sensações do corpo são deixadas para trás e os pensamentos errantes são controlados, a superioridade do método da devoção sobre o intelectual se evidencia.
No entanto, o método da devoção apresenta certos defeitos e dificuldades. Devido ao arraigado hábito que leva o Eu espiritual a manter-se apegado e escravizado ao corpo, ele se esforça em vão para desviar a atenção da esfera das sensações corporais e mentais. Todavia, por mais que a pessoa deseje orar ou unir-se de todo o coração a qualquer forma de culto, a atenção é invadida impiedosamente pelo ataque de sensações corporais e pensamentos velozes trazidos pela memória. Frequentemente, quando oramos, ficamos completamente absorvidos em dar atenção às circunstâncias que são favoráveis à oração, ou sucumbimos facilmente à tentação de buscar alívio ao menos desconforto físico que apareça durante ela.
Apesar de todos os nossos esforços conscientes, nosso mau hábito de inquietude - que já se tornou para nós uma segunda natureza - predomina sobre os desejos do Eu. A despeito do desejo de nos concentrarmos, a mente se torna inquieta e, parafraseando, poderíamos dizer: 'Onde estiver a nossa mente, ali estará também o nosso coração'. Dizem-nos para orar a Deus de todo o coração. Em vez disso, geralmente nossas mentes e corações são distraídos por impressões sensoriais e pensamentos errantes durante a oração. (...)"
(Paramahansa Yogananda - A Ciência da Religião - Self-Realization Fellowship - p. 64/66)