"Isso nos leva ao próprio homem. Quais são as principais acusações feitas ao homem moderno e, mais particularmente, aos mais ou menos seiscentos e noventa milhões que estão vinculados à cristandade?¹ Adicionalmente ao já estabelecido, é assinalado que atualmente a humanidade tem mostrado um acentuado declínio na moralidade. Esse declínio evidencia-se pelas guerras agressivas, corrupção política e crescimento da criminalidade e do vício. Também nos campos econômico e industrial, nos monopólios, trustes e cartéis, na competição desenfreada, baseada na doutrina do 'cada um por si e Deus por todos', o homem moderno adotou a lei da selva. Há os que vendem, visando lucro, matérias primas e armamentos para nações potencialmente hostis e destroem alimentos extremamente necessários, a fim de manter seus preços elevados. Além do mais, tornou-se quase universal o estímulo deliberado ao hábito de narcótico e excessos alcoólicos e sexuais.
O Sr. Richard Livingstone, um eminente intelectual e pedagogo britânico, fazendo uma conferência na Austrália sob os auspícios da Universidade Nacional, em 1951, disse: 'Esta época tem sexo no cérebro. Em consequência, ela está decaindo (...). Os estudantes de hoje tropeçam em sua educação como se estivessem bêbados, não sabendo onde estão, para onde estão indo ou o que estão fazendo (...). Os homens perderam a força moral diretiva. A força moral diretiva - uma crença em princípios e uma disposição para aceitar disciplina e fazer sacrifícios por eles - é muito mais importante para a sobrevivência da humanidade do que o conhecimento ou a inteligência.' O Sr. Richard continua: 'Se o mundo algum dia quiser se recuperar da presente incerteza doentia, deve se preparar para aceitar de novo princípio que, no sentido mais amplo do termo, são os princípios cristãos. O cristianismo é uma doutrina de responsabilidade individual. O homem que vive segundo essa doutrina escolhe um caminho duro, mas feliz. Há demasiada ênfase em preparar pessoas jovens para aprender a ganhar a vida e quase nada em ensiná-lo como viver.'
Tais são algumas das enfermidades que afligem o homem moderno. Tal é parte do problema com que se confrontam os seres humanos, cristãos e não cristãos igualmente, como uma família de pessoas na Terra. Esses males não são apenas físicos - eles são também doenças da alma. Vivendo no meio deles, o homem naturalmente procura as fontes apropriadas de cura, que devem ser necessariamente encontradas na religião. A maioria dos ocidentais volta-se, portanto, para a religião cristã e seus representantes oficiais. Quando o corpo está doente, o médico é consultado, e, quando a alma está doente, deposita-se a esperança no sacerdote e no que ele prescreve, a saber, luz espiritual, graça da cura e orientação prática na conduta da vida."
¹ Cifra vigente quando da preparação do texto original no início da década de 60, no século XX. Atualmente, no início do século XXI, estima-se que existam cerca de 2 bilhões de cristãos de todas as denominações.
(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília, 2007 - p. 23/24)