"O dia amanheceu e Bupendra, desde as cinco da manhã, estava submerso em meditação (...) Após deliciar-se no infinito, saiu para caminhar (...) Enquanto caminhava (...) um dos moradores se aproximou (...) Trocaram cumprimentos com um pronam e o homem disse:
- Senhor, poderia me ajudar tirando uma grande dúvida do coração?
- Se puder, será um prazer - respondeu Bupendra.
-Esta noite tive um sonho. Jamais fui capaz de crer que os homens pecadores fossem capazes de se livrar do pecado e realizar Brahman, contudo, em meu sonho, vi o diálogo entre uma borboleta e uma lagarta.
-A borboleta dizia: "Querida lagarta, você, um dia, será como eu e deixará de se rastejar pelo solo."
- Incrédula, a lagarta apenas ria da borboleta sem crer naquilo. Não era capaz de compreender como ela, um simples inseto rastejante, pudesse algum dia, criar asas e voar livremente pelo azul do céu.
-Mas, um belo dia, a lagarta passou muito mal e se enclausurou num casulo (...) Então, após algum tempo, aquela lagarta saiu do casulo e era uma linda borboleta com asas de intenso azul.
-Esse sonho despertou em mim a ideia da possibilidade de uma alma pecadora se tornar um grande santo e, contudo, não consigo compreender, filosoficamente falando, como isso é possível. Será que o senhor poderia me ajudar esclarecendo melhor esse processo? Como é possível a um pecador tornar-se um santo? Rindo, disse Bupendra:
- Meu querido amigo, seu sonho foi fabuloso. Ele revelou a você que até mesmo uma pobre lagarta pode se transformar numa linda borboleta com asas azuis. Qual o problema no fato de um pecador tornar-se santo? Assim como a essência da borboleta é a mesma da lagarta e vice-versa, também a essência do santo é a mesma do pecador, a diferença está tão somente nos diferentes estágios de cada um.
- O santo algum dia, foi um pecador. Na alma não há diferença de uma pessoa para outra. Somos todos borboletas da eternidade, mas enquanto chafurdarmos no lodaçal da ignorância, não seremos capazes de alçar voo aos alcantilados cumes da sabedoria.
- E, diga-me, senhor Bupendra, como a alma realiza a santidade?
- Submergindo no Si mesmo. A lagarta enclausurou-se para mutar sua forma. Semelhantemente deve o homem desejoso de sua própria realização divina enclausurar-se no Si mesmo, o Atman dentro de você.
- A lagarta fez o esforço permanecendo em profundo silêncio nela mesma, fechando as portas dos sentidos e ouvindo seu próprio coração, a canção interior da alma. Após longo período de quietude, silêncio e paz, descobriu sua real identidade, não mais como um inseto rastejante e sim como o mais sublime ser da natureza.
- Toda "lagarta humana" deve praticar a introspecção dos sentidos, pratyahara, a aquietação da respiração, pranayama, a profunda concentração, dharana, a mais sublime meditação, dhyana, despertando na beleza da forma interior, o samadhi.
Se é que deseja transformar-se na borboleta radiante da eternidade, deve submeter-se à eliminação do pequeno "eu". Humildade, amor e entrega são necessários. Não haverá beleza interior enquanto continuarmos agindo como a lagarta rastejante do orgulho.
- Devemos ser a bela borboleta da compaixão, encarnando as qualidades da alma que nos tornarão divinamente atraentes."