OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 14 de maio de 2013

LAYA YOGA - LAYA, A APOTEOSE (3ª PARTE)

"No estudo dos demais capítulos, onde tratamos dos diversos sistemas de Yoga, podemos entender como e o quanto cada um está relacionado com Laya Yoga.

A prática Bhakti purifica, concentra e direciona para Deus as diferentes manifestações de nossa afetividade (sentimentos, emoções e paixões) e isto nos torna possível desfrutar a sublimidade do mais perfeito amor (prema). No altar de prema, a alma, espontânea, fácil e mesmo jubilosamente, sacrifica seu ego e seu apego à existência. Embora o devoto perfeito se contente tão somente com as delícias de amar o Senhor, renunciando mesmo a fundir-se nEle, não é impossível que o pouco que lhe restou do ego venha a se derreter e acabar.

O karma yoguin deposita, como oferenda, aos pés de lótus do Senhor, os frutos de sua atividade generosa sem nada pedir em retribuição. Com isto, ele, sem dúvida, está depositando também seu ego, consequentemente aplacando trishna na existência ilusória. Este processo evolui no sentido de desfazer a falsa convicção de ser distinto a estar distante do Ser Supremo.

A Raja Yoga, mediante a prática de meditação, procura aquietar os vrittis (fenômenos que agitam a mente), tanto que, estando a mente parada, possibilite a contemplação do Ser. Este Estado denominado samadhi é, para muitos, sinônimo de laya. O meditante, neste estado, elimina aquilo que separa e cria diferença - sua mente inquieta e incontrolável. Suprimidas a diferença e a distância, a Unidade se impõe, e o que até então parecera distante e distinto some, se extingue. Isto é laya.

A vedanta adwaita diz que é a ignorância (ajnana) que nos mantém exilados de nossa verdadeira Realidade e Essência, que é Sat-Cit-Ananda. Aniquilada a ignorância, vencida a ilusão pelo esplendor da sabedoria, você, eu e os demais assumimos o que somos - Sat, o Ser Supremo, a Suprema Verdade; alçamo-nos a Cit, a Consciência Absoluta; e desfrutamos Ananda, a Bem-Aventurança eterna. Jnana Yoga, método que nos ajuda a esgotar a ignorância, para assim abrir-nos ao "saber" Aquilo que real e essencialmente somos. O ser ilusório, que a ignorância forjou e nutriu durante muitas existências, agora se dissipa na "Verdade que liberta". O eu pessoal se consome então em Deus. Aquilo que até então somente parecia ser perde sua efêmera aparência ao extinguir-se nAquilo que em verdade e eternamente É. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 116/117)


HERÓIS - DE PAPELÃO

"Anteontem...
Sentia-me eu possuído dum grande idealismo.
Indômita coragem enchia-me o coração.
Estava disposto a sofrer por ti, Senhor, afrontas e ludíbrios em praça pública.
Invejava os mártires do Coliseu, dilacerados pelos leões da Mesopotâmia e pelas panteras da Numídia.
Suspirava pela sorte dos heróis que, entre hinos e sorrisos, subiam às fogueiras ou se estendiam nas rodas de suplício.
Quem me dera sair pelo mundo afora e pregar o Evangelho a povos bárbaros!
Tão grande era o idealismo e a sede de sofrimento que me ardia na alma, que insípidas e vergonhosas me pareciam essas vinte e quatro horas da vida cotidiana.
Assim foi anteontem...

Ontem...
Quando acordei, chamei a empregada para me trazer o café e o jornal.
E ela mos trouxe, mas não me disse "bom dia" - e encheu-me de ira o coração...
E por que não deu o jornal o meu nome entre os benfeitores do Abrigo Cristo Redentor? Não sabe que contribuí com dez milhões de cruzeiros?
E por que me apelida essa revista ilustrada de "senhor", quando eu sou "doutor"?
O cigarro que mandei comprar era de qualidade inferior - e transbordou-me a bílis  enchendo-me de fel as vias do sangue.
Ao sair de casa, verifiquei que faltava um botão de camisa - e tachei de relaxada a companheira de minha vida.
Ao tomar o ônibus, encontrei-o superlotado - e mandei ao inferno a empresa com todos os seus funcionários.
Assim foi ontem...

Hoje...
Fui intimado a comparecer às barras do tribunal...
Sobre a cátedra de juiz estava sentada a Consciência, calma, serena, austera.
E eu, no banco dos réus, humilde, sincero, confuso...
E, abrindo os lábios, disse a Consciência, inexorável:
"Tu, que sonhas com feitos heroicos - sucumbe a uma ninharia?
Tu, que queres lutar com leões e panteras - capitulas em face duma mosca?
Tu, disposto a derramar o sangue por amor do Cristo - ignora o á-bê-cê da caridade?..."
Eu, de olhos baixos e coração pequenino, ouvia, calado...
"Não exijo de ti - prosseguiu a Consciência - que tomes entre dois dedos o Corcovado e o jogues às águas da Guanabara - mas exijo que sejas senhor dos teus nervos, e não te reduzas a escravo dos teus escravos.
Exijo de ti o menor e o maior de todos os sacrifícios: que suportes, sereno, calmo, amável, as vinte e quatro horas de cada dia..."

(Huberto Rohden - De Alma para Alma - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 71/72)


segunda-feira, 13 de maio de 2013

LAYA YOGA - A SEDE DE VIVER (2ª PARTE)

"Por que e como saímos da gloriosa essência para a dolorosa existência? Que nos prende existindo neste mundo de samsara, padecendo nascimento e mortes? O hinduísmo e o budismo respondem: a causa é trisna. Tanha é outra palavra que o budismo usa. Trishna significa a "sede de viver", o anelo fundamental de continuar existindo, presente não só nos seres humanos, mas em todo vivente. É o que, nos animais, se tem chamado "instinto de conservação". Ora, ninguém "normalmente" anseia por sua própria extinção. Assinalo, no entanto, duas exceções: a desastrosa e impossível fuga por meio do suicídio; e o "instinto de morte", mencionado pelo criador da psicanálise. Mas estes dois casos são indiscutivelmente patológicos. Expressam a morbidez dos desesperados. 

É admissível alguém sadio aspirar pela autoextinção?! Parece que não. No entanto, um inteligente e sadio projeto de autoextinção é possível sim, mas somente em pessoas que já constataram, por experiência, a fugacidade de tudo, principalmente da própria existência; que já se deram conta, por outro lado, da eternidade e infinitude de si mesmas, isto é, da essência; que já sabem inequivocamente que serão despojadas para sempre de tudo que supõem ser e possuir; e principalmente preveem que, por tudo isto, estão condenados a sofrer. Só o sábio, por ter vencido a ilusão, se dispõe a trocar o gozo fugidio do existir (preya) pela bem-aventurança eterna do Ser (shreya). O sábio, no entanto, não aspira exatamente à simples e suicida extinção de sua existência. Aspira sim compreender cada vez mais profundamente "aquilo" que o algema à fugidia e falsa existência. "Aquilo" é a obsedante "sede de existir" (trishna ou tanha). Laya Yoga o ajuda nisto. Laya Yoga pode ser entendido como a extinção da vida mesquinha que sempre termina em morte para dar lugar à vastidão da Vida Una onde não há morrer. Laya Yoga é uma busca da "Água Viva" e do "Pão da Vida", mencionados por Jesus. 

O corpo é um condenado à morte - todos sabem. Mas a tradicional "sede de viver" tenta inutilmente opor-se a isto. Resultado: sofre por não poder evitar o fim. O corpo morre, mas a "sede" de voltar a viver persiste firme e forte, e é por isto que um novo corpo é engendrado e nasce, prolongando o exílio, o cativeiro em samsara. Trishna é a energia que, segundo Buddha, mantém girando a roda dos nascimentos e mortes. Eis por que estamos programados para renascer e, consequentemente, condenados a remorrer. Tal é a razão de nosso desterro no "reino da morte". É somente quando, graças a uma profunda evolução espiritual, conseguimos minimizar o ego (ahamkara), aquele que quer sempre gozar e nunca sofrer, conseguiremos também saciar o tipo de "sede" que obrigava a samaritana a sempre retornar ao "poço de Jacob" para dessedentar-se. É extinguindo trishna (a "sede"), que o ser humano alcança o ansiado acesso à Vida-sem-morte, à verdadeira Vida, à da Essência. O Cristo confirmou isto:
Quem ama sua vida [trishna] perdê-lo-á; mas quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. (Jo 12:25) 
Falando à mulher samaritana, à borda do "poço de Jacob", o Cristo prometeu-lhe a verdadeira Vida, oferecendo-se como a "Água Viva", isto é, aquele que dessedenta para sempre:
Quem beber da água que eu lhe der, não terá mais sede no futuro; mas a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que mana para a vida imanente. (Jo 4:14). (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 115/116)


DOMINE AS "SERPENTES" QUE SE ABRIGAM EM SUA MENTE

"Anote todas as coisas pelas quais você tem, por tanto tempo, clamado. Descobrirá que tem ansiado por insignificâncias, por distinções efêmeras e fugidia fama. Você deve clamar somente por Deus, e por sua própria purificação e realização. Deve mesmo chorar e lamentar pelas seis serpentes que se abrigam em sua mente, intoxicando-a com veneno: luxúria; cólera; ambição; apego; orgulho e ciúme. Aquiete-as como faz o encantador de serpentes, com sua flauta de som ondulante. A música que as pode domar é o cântico (em voz audível) do nome de Deus. E quando estiverem elas muito tomadas por tal música, sem você se mover e as ameaçar, pegue-as pelo pescoço e extraia suas presas tal como faz o encantador. Daí por diante, você pode brincar com elas; pode manejá-las como quiser."

(Sathya Sai Baba - Sadhana O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 148/149)


domingo, 12 de maio de 2013

LAYA YOGA - A REDENTORA AUTOEXTINÇÃO (1ª PARTE)

"Que vem a ser Laya? Pelo que tenho aprendido de vários textos autorizados, entendo ser um mergulho de algo existente em sua causa primeira, nela se fundindo. É o caso de uma onda sumindo no mar. É um regresso à origem. Um pleno deixar de existir para retornar gloriosamente a Ser. O que antes era limitado como existência ganha a infinitude da essência quando nEla se dissolve. O que, como simples existência, era efêmero, ao extinguir-se na essência alcança perenidade; o que era apenas aparência recobra realidade; o que era cambiável torna-se imutável; o que era limitado se infinitiza... Ramakrishna lembra uma boneca feita de sal que é atirada ao mar. Some. Oceanifica-se. O método que se propõe a efetivar esta fusão redentora chama-se Laya Yoga. Laya significa extinção, fusão. 

O clássico Yoga Taravali diz que:  Shiva, o Eterno (Sada Shiva) mencionou cento e cinquenta mil formas de Laya Yoga existentes no mundo.

Conforme Shiva declarou, são incontáveis as forma de atingir laya, a dissolução do individual no oceano do Universal, da alma em Deus, do relativo no Absoluto, do existir no Ser. Pelo visto, todos os processos ou métodos de ascese ensinados nas diferentes religiões que visam à união mística são formas de Laya Yoga. A meta suprema de todas as formas de Yoga (Karma, Jnana, Kriya, Hatha...) é a fusão em Deus. A única exceção é a Bhakti Yoga, que acha tão divinamente jubiloso e feliz amar Deus, que renuncia à possibilidade de fundir-se nEle. O bhakta acha Deus tão doce, que se contenta em apenas O saborear, por isto renuncia à possibilidade de vir a transformar-se no próprio açúcar  Mas, fora a Bhakti, conforme estamos sabendo, Yoga é união da qual resulta a extinção do jiva no seio de Paramatman.

É fácil concluir que Laya Yoga, ou a autoextinção individual libertadora, só pode ocorrer quando o ser humano, ao longo de um árduo e prolongado esforço através de muitas existências, conquistou excepcionais condições de santidade e sanidade, condições estas que os diversos caminhos (margas) ou as diversas disciplinas (sadhanas) ajudam a construir.

Um bhogi é um indivíduo que nada, pouco ou equivocadamente conhecendo das leis e verdades espirituais, ainda egocêntrico, vulnerável às seduções mundanas, dominado por apegos, ódios e fobias, agarra-se à vida com ostra ao casco do navio. Naturalmente um bhogi repele qualquer ideia de renúncia, humildação e muito mais de autoextinção. Luta, ao contrário, pela autoafirmação, aquela que terapeutas e pedagogos contemporâneos tanto valorizam. Tomando em conta que a grande maioria dos seres humanos é formada de bhogis, não se pode esperar muitas adesões à tão estranha proposta filosófica de laya. No entanto, suponho que possa ser feito um convite a uma análise sobre o porquê e como nos autoalienamos da Suprema Bem-Aventurança que é nosso verdadeiro Ser, autocondenando-nos assim a múltiplas limitações e misérias existenciais. Esta inteligente pesquisa é o alvorecer de uma abençoada libertação que todos, conscientemente ou não, desejamos. (...)" 

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 113/115)