OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 19 de março de 2013

JNANA YOGA - OS DOIS PÁSSAROS (6ª PARTE)

"Uma alegoria nos Uppanishads - a dos "Dois Pássaros" - ajuda-nos a compreender esta cosmovisão vedantina, que fundamenta a Jnana Yoga. Vejamo-la na descrição de Swamiji Sivananda:

Há dois pássaros na mesma árvore. Um, num dos galhos mais altos, o outro, mais abaixo. O primeiro se encontra perfeitamente sereno, silente, majestoso para todo sempre. É totalmente bem aventurado. O outro, nos ramos inferiores, come umas vezes frutos doces, outras, amargos. Por vezes, dança alegre. Por vezes, se sente miserável. Rejubila-se agora e depois chora. Às vezes prova uma fruta extremamente amarga e é presa de desgosto. Olha para o alto e contempla o outro, o pássaro maravilhoso de áurea plumagem, sempre venturoso. Deseja fazer-se igual a ele, mas logo se esquece, e novamente volta a comer frutas doces e amargas. Novamente come uma daquelas mais amargas e volta a sentir-se miserável. Volta então a desejar tornar-se igual ao pássaro lá do alto. Gradualmente, vai deixando de comer as frutas e se tornando sereno e feliz como o outro. O pássaro mais alto é Deus ou Brahman. O de baixo é jiva ou alma individual que está comendo os frutos de seus karmas (as consequências agradáveis e desagradáveis de suas prévias ações), isto é, prazer e dor, atingindo altos e baixos na batalha da vida. Sobe, para depois cair novamente, na medida em que os sentidos o puxam para baixo. Gradualmente consegue desenvolver vairagya (despaixão) e viveka (discriminação), e, voltando-se para Deus, pratica meditação, para, finalmente, atingir a autorrealização (conhecimento de si mesmo) e só então desfruta a eterna bem aventurança de Brahman. (In All About Hinduism, p. 178)

Em verdade não são dois pássaros diferentes, mas um só. O de baixo, no entanto, presa da ilusão, desconhece que ele e o outro são o mesmo. Se conseguir aguaçar seu discernimento ao mesmo tempo desapegar-se das frutas, poderá vencer o permanente estresse resultante do incessante jogo dos opostos - alegrias e tristezas, prazeres e pesares. O ignorante pássaro de baixo é ahamkara, nosso falso ego pessoal, sempre entretido com frutas amargas e doces, ora chorando, ora sorrindo. Goza e sofre por não se ter dado conta de sua substancial unidade-identidade com o venturoso e sobranceiro pássaro de cima, que ele inveja. Sua libertação resultará, por um lado, da desidentificação com o irreal e simultânea identificação com o Real, e, por outro, depende de desapegar-se das frutas amargas ou doces. Este é mais uma forma de explicar Jnana Yoga. Sem viveka (discernimento) e vairagya (desapego), o cativeiro e a infelicidade continuam. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 108/109)


ASSUMA O DOMÍNIO DA SUA MENTE

"Hoje, o homem contraiu o hábito de agir e falar conforme seus caprichos. Nenhum controle é exercido por sua consciência, sua moral ou boas maneiras. Aquele que é perverso e determinado a caminhar para a ruína dispensa conselhos. Remédio é para quem está doente, não para quem está sadio; não para quem já está inteiramente morto. Conselho é para quem padece dúvida, ansiedade ou agitação. Este conceito se encontra nas escrituras (sastras) e em outros textos sagrados. Uma carta pode ser lançada fora uma vez que seu conteúdo tenha sido anotado e aprendidas as instruções por ela comunicadas. Assim também, aquelas escrituras (sastras) e textos sagrados podem ser descartados uma vez lidos, compreendidos mas principalmente seguidos. Não há proveito em ler, ler, reler... mais e mais. 

Declaram os textos que você realmente é Atma (O Ser). Aquilo que anima toda a criação. O corpo do homem é um templo onde Deus está morando. Os guardas de tal templo são Sama (controle sobre os sentidos) e Dama (controle sobre as emoções). Se eles forem ineficazes e negligentes, a luxúria e a ambição, o rancor e a inveja, o ódio e o orgulho se infiltrarão, se espalharão e dominarão o templo. O homem está tão iludido que presta honra a tais ladrões como se fossem os donos da casa que eles saqueiam. Assuma o domínio sobre sua mente. Esteja alerta. Erga-se, e enfrente os ladrões antes que lancem mão sobre seu tesouro. O tesouro é a percepção da presença de Deus em tudo."

(Sathya Sai Baba - Sadhana o Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 71/72)


segunda-feira, 18 de março de 2013

JNANA YOGA - QUALIFICAÇÕES DO ASPIRANTE (5ª PARTE)

"O método ou sadhana da Jnana Yoga é talvez o mais difícil. Aquele que exige as mais raras condições intelectuais, psíquicas e éticas. Sem tais qualificações, o aspirante pode perder-se em especulações intelectualóides e vir a tornar-se um verborrágico erudito, rico de conhecimentos, mas pobre de sabedoria, a falar de Deus sem O experienciar. As qualificações indispensáveis a um caminhar firme e eficaz na difícil jnana marga ou caminho (marga) da sabedoria (jnana) que liberta, são:

(a) Viveka - a capacidade de discernir entre o Real e o irreal, entre o Eterno e o transitório;
(b) Vairagya - despaixão ou desapego por tudo que seja irreal e transitório;
(c) Shad-sampat - as "seis virtudes", que são: Sama - tranquilidade; Dama - autocontrole; Uparati - saciedade, contentamento; Titiksha - resistência, endurance; Samadhana - concentração; Mumukshutva - profundo empenho em libertar-se; amor infinito e absoluto pela Verdade, que é Deus.

Arjuna, o guerreiro, pediu a Krishna que descrevesse o "homem sábio". Ao longo de alguns versos da Bhagavad Gita, o Avatar respondeu:

Quando um homem descartou de sua mente todo o desejo, e está contente no Ser pelo Ser, é um homem de firme Sabedoria. Aquele que não é chocado pela adversidade, e que na prosperidade não anela prazeres, que é isento de apego, medo e aversão, pode ser chamado um sábio de firme Sabedoria. Aquele que em toda parte está sem apego, enfrentando qualquer coisa boa ou má, que nem se regozija ou detesta, sua Sabedoria é firme. Quando, igual à tartaruga, que recolhe seus membros de todos os lados, ele recolhe seus sentidos dos objetos sensórios, então sua Sabedoria se torna firme... (Bhagavad Gita, II:55-58)

O processo de autotransformação que capacita o aspirante para a conquista da Verdade Suprema é descrito por Sai Baba nestes termos:

A Sabedoria Espiritual desce somente quando haja pureza no coração. Exatamente como remover as ervas daninhas, o revolver da terra, o semear e o regar são indispensáveis, à colheita, o campo do coração humano tem de ser alijado de maus pensamentos e sentimentos ruins, regado com o amor, arado pelas práticas espirituais e semeado com o santo Nome de Deus. Somente assim é possível a colheita da Divina Sabedoria (jnana). (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 106/108)


INTUIÇÃO: DESCORTINO DA ALMA

"A intuição é a orientação da alma, que surge naturalmente no homem quando sua mente está tranquila. (...) O objetivo da ciência da yoga é acalmar a mente, para que, sem distorções, ela possa ouvir o infalível conselho da Voz Interna.  

"Resolva todos os seus problemas por meio da meditação" [dizia Lahiri Mahasaya]. "Sintonize-se com a ativa Orientação interior. A Voz Divina tem resposta para todos os dilemas da vida. Embora a engenhosidade do homem para se meter em dificuldades pareça não ter fim, o Infinito Socorro não é inexaurível."

Ao querer que dependamos exclusivamente Dele, Deus não quer dizer que você não deva pensar por si próprio. Ele quer que você use a iniciativa. A ideia é a seguinte: se você não for capaz de buscar uma sintonia consciente com Deus, antes de mais nada, cortará o contato com a Fonte e, desse modo, não poderá receber Sua ajuda. Quando você se voltar primeiro para Ele, para qualquer coisa, Ele o guiará. Ele lhe revelará seus erros para que você possa mudar a si próprio e ao curso de sua vida.

Lembre-se: melhor do que um milhão de raciocínios é sentar-se e meditar em Deus até sentir tranquilidade interior. Então, diga ao Senhor: "Eu não posso resolver meu problema sozinho, mesmo que eu tenha um número incalculável de pensamentos diferentes, mas posso resolvê-lo colocando-o em Tuas mãos, pedindo primeiro a Tua orientação e, em seguida, analisando-o sob vários ângulos, buscando uma possível solução". Deus ajuda aqueles que se ajudam. Quando sua mente estiver tranquila e cheia de fé, após orar a Deus em meditação, você será capaz de ver várias respostas para os seus problemas. E, porque sua mente se acalmou, é também capaz de escolher a melhor solução. Siga essa orientação e terá êxito. Isso é aplicar a ciência da religião na sua vida diária.

"A vida humana é assediada por tristezas até que saibamos entrar em sintonia com a Vontade Divina, cujo 'procedimento correto' frequentemente surpreende a inteligência egoísta", [dizia Sri Yukteswar]. "Só Deus dá conselho infalível. Quem senão Ele sustenta o peso do cosmos?"

Quando conhecermos o Pai Celestial, teremos as respostas não apenas para os nossos próprios problemas, mas também para os que afligem o mundo. Por que vivemos e por que morremos? Por que razão sucedem os acontecimentos atuais, e por que os do passado? Duvido que um dia venha à Terra um santo que responda a todas as perguntas de todos os seres humanos. No templo da meditação, porém, todos os enigmas da vida que inquietam nossos corações sertão resolvidos. Tomaremos conhecimento das respostas aos quebra-cabeças da vida e encontraremos a solução para todas as nossas dificuldades quando entrarmos em contato com Deus." 

(Paramahansa Yogananda - Onde Existe Luz - Self-Realization Fellowship - p. 57/59)


domingo, 17 de março de 2013

JNANA YOGA - APARÊNCIA E REALIDADE (4ª PARTE)

"Sai Baba com frequência ensina como discriminar entre aparência e Realidade:

Você, como corpo, espírito ou alma, é apenas um sonho. Na Realidade, você é vida, sabedoria e plenitude feliz. Você é o Deus deste universo. Você está criando o universo todo e o interiorizando. Para alcançar a infinita individualidade universal, é preciso descartar a pequena prisão individualista...
Enquanto estiver seguindo pelo caminho, você pode observar sua sombra a arrastar-se sobre lama, poeira, depressão ou montículo, espinhos ou areal, trechos de terra seca ou úmida. A sombra e as experiências dela não têm permanência (mithyam) nem verdade (sathyam). Similarmente, convença-se de que você não é somente a sombra de Paramatma (o ser Supremo), e que essencialmente você não é este (que pensa ser), mas o próprio Paramatma. Este é o remédio contra tristezas, afãs e dores. Naturalmente, será somente no fim de prolongado e sistemático processo de sadhana (disciplina) que conseguirá fixar-se na Verdade; até lá, você continua suscetível a identificar-se com este corpo, esquecendo-se de que ele que projeta sombra, ele mesmo, por sua vez, é também uma sombra. (in Sadhana - O Caminho Interior)

É exercendo e exercitando a faculdade de discernimento (viveka) que viremos a conseguir, conforme Baba mostrou, efetivar um redentor processo de "des-ilusão", de "des-encanto", de "des-engano", finalmente de vitória sobre o grande embuste de que somos vítimas. É por gostarmos de ilusão, encanto, engano, engodo, que costumamos sofrer quando alguém ou algo nos desilude. Jnana Yoga é uma gloriosa desilusão redentora. Cada desilusão merece uma festa e não um lamento. Precisamos aprender a desiludir-nos. 

A fim de libertar-nos de tantos equívocos, encantos, ilusões e embustes autocultivados, que nos impedem de ver de frente a Verdade, os Uppanishads ensinam a prática do neti, neti, neti... que se traduz por "não é isto aqui, não é aquilo ali, não é aquilo lá..." (o Ser Supremo e Real que eu busco). Esta cultivada e constante desmistificação vai descartando as aparências, até mesmo as mais convincentes e sedutoras. Identificadas como irreais e fugidias, as coisas acabam não podendo mais ocultar o Esplendor do Ser, da Essência. Os mesmos Uppanishads também ensinam um processo diametralmente oposto. Ao buscador, já convencido de que o Real é o substrato e a substância de todas as aparências, sendo portanto onipresente embora invisível em tudo, é sugerido praticar o iti, iti, iti... que se traduz por "é isto, é isto, é também isto..." (o Verdadeiro Ser que ando buscando). Ele sabe que isto, isto, e mais isto... embora ilusórios e fugidios  nascem do Ser, existem no Ser, e pelo Ser são nutridos, e nEle serão reabsorvidos. Olhe para seu corpo - este seu corpo em constante transformação e destinado a perder-se como uma forma que é - e diga neti, neti, neti... até ele perder seu poder de iludir e ser tomado como o Ser. Faça o mesmo em relação ao seu ego pessoal, à sua mente, ao seu intelecto... Num segundo momento, considere que sem o Ser, sem a Substância, sem o Substrato, seu corpo, seu ego pessoal, sua mente, seu intelecto inexistiriam, e aí você terá de dizer iti, iti, iti... reconhecendo que todos são manifestação do Ser. É este o método de chegar à essência única de todas as multifárias formas de existência, ao substrato onipenetrante, mas também transcendente neste sistema espaço-tempo, neste universo de nomes e formas. Segundo este método vedantino, chega-se à amplidão do mar, através da inteligente contemplação da exiguidade das ondas e mesmo de apenas uma delas. Pode haver onda sem o Mar a lhe servir de essência e substrato? Há existência independente da essência? (...)"   

(José Hermógenes - Iniciação do Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 104/106)