"Sai Baba com frequência ensina como discriminar entre aparência e Realidade:
Você, como corpo, espírito ou alma, é apenas um sonho. Na Realidade, você é vida, sabedoria e plenitude feliz. Você é o Deus deste universo. Você está criando o universo todo e o interiorizando. Para alcançar a infinita individualidade universal, é preciso descartar a pequena prisão individualista...
Enquanto estiver seguindo pelo caminho, você pode observar sua sombra a arrastar-se sobre lama, poeira, depressão ou montículo, espinhos ou areal, trechos de terra seca ou úmida. A sombra e as experiências dela não têm permanência (mithyam) nem verdade (sathyam). Similarmente, convença-se de que você não é somente a sombra de Paramatma (o ser Supremo), e que essencialmente você não é este (que pensa ser), mas o próprio Paramatma. Este é o remédio contra tristezas, afãs e dores. Naturalmente, será somente no fim de prolongado e sistemático processo de sadhana (disciplina) que conseguirá fixar-se na Verdade; até lá, você continua suscetível a identificar-se com este corpo, esquecendo-se de que ele que projeta sombra, ele mesmo, por sua vez, é também uma sombra. (in Sadhana - O Caminho Interior)
É exercendo e exercitando a faculdade de discernimento (viveka) que viremos a conseguir, conforme Baba mostrou, efetivar um redentor processo de "des-ilusão", de "des-encanto", de "des-engano", finalmente de vitória sobre o grande embuste de que somos vítimas. É por gostarmos de ilusão, encanto, engano, engodo, que costumamos sofrer quando alguém ou algo nos desilude. Jnana Yoga é uma gloriosa desilusão redentora. Cada desilusão merece uma festa e não um lamento. Precisamos aprender a desiludir-nos.
A fim de libertar-nos de tantos equívocos, encantos, ilusões e embustes autocultivados, que nos impedem de ver de frente a Verdade, os Uppanishads ensinam a prática do neti, neti, neti... que se traduz por "não é isto aqui, não é aquilo ali, não é aquilo lá..." (o Ser Supremo e Real que eu busco). Esta cultivada e constante desmistificação vai descartando as aparências, até mesmo as mais convincentes e sedutoras. Identificadas como irreais e fugidias, as coisas acabam não podendo mais ocultar o Esplendor do Ser, da Essência. Os mesmos Uppanishads também ensinam um processo diametralmente oposto. Ao buscador, já convencido de que o Real é o substrato e a substância de todas as aparências, sendo portanto onipresente embora invisível em tudo, é sugerido praticar o iti, iti, iti... que se traduz por "é isto, é isto, é também isto..." (o Verdadeiro Ser que ando buscando). Ele sabe que isto, isto, e mais isto... embora ilusórios e fugidios nascem do Ser, existem no Ser, e pelo Ser são nutridos, e nEle serão reabsorvidos. Olhe para seu corpo - este seu corpo em constante transformação e destinado a perder-se como uma forma que é - e diga neti, neti, neti... até ele perder seu poder de iludir e ser tomado como o Ser. Faça o mesmo em relação ao seu ego pessoal, à sua mente, ao seu intelecto... Num segundo momento, considere que sem o Ser, sem a Substância, sem o Substrato, seu corpo, seu ego pessoal, sua mente, seu intelecto inexistiriam, e aí você terá de dizer iti, iti, iti... reconhecendo que todos são manifestação do Ser. É este o método de chegar à essência única de todas as multifárias formas de existência, ao substrato onipenetrante, mas também transcendente neste sistema espaço-tempo, neste universo de nomes e formas. Segundo este método vedantino, chega-se à amplidão do mar, através da inteligente contemplação da exiguidade das ondas e mesmo de apenas uma delas. Pode haver onda sem o Mar a lhe servir de essência e substrato? Há existência independente da essência? (...)"
(José Hermógenes - Iniciação do Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 104/106)