"É "normal" acreditar que somos pecadores, "filhos do pecado", conforme algumas doutrinas têm conseguido introjetar nas mentes de seus seguidores. Também vem sendo aceito que somos enfermos, robotizados, limitados, manobrados, condicionados por conteúdos escusos incrustados nos planos inconscientes e inalcançáveis de nossa mente, conforme doutrinas psicológicas decretam. Durante séculos, pelo menos no Ocidente, temos nos rendido a tais sugestões. Lamentável! Pobres de nós! Para nossa salvação, com urgência, persistência e veemência, precisamos fazer um auspicioso e brilhante autorretrato verdadeiro.
Os Mestres da Índia jamais estimulam o discípulo a se autodiagnosticar pecador. As lições de Cristo, entendidas "em espírito e verdade", também não. O yoguin (o aspirante, o praticante) é instruído a compreender que todo ser humano (manava), por mais decaído, é Deus (Madhava); é Luz (Paramjyotir), embora abraçado pela treva; é Verdade (Satya), embora ainda um hipócrita; é Beleza (Sundaram), embora pareça feio; é Amor (Prema), embora seja capaz de odiar; é Paz (Prashanti), embora desesperado dentro do conflito; é Felicidade (Ananda), embora sempre aflito. Temos nossa "tigritude" escondida. Somos "príncipes encantados" e temos de libertar-nos do encantamento. Yoga serve para isto.
Para começar, temos de negar-nos a "passar recibo" de diagnósticos deprimentes. Uma das razões mais evidentes para que assim façamos é fornecida pela moderna psicocibernética. Se nos encaramos como pecadores, automaticamente em pecadores nos transformaremos. É como um decreto que assinamos contra nós mesmos. A mesma ciência, porém demonstra que, se, livres de dúvida e tibieza, acreditarmos em nossa natureza divina e sempre a afirmarmos, pelos mesmos "mecanismos" (?!) chegaremos a manifestar a Divindade que somos. É exatamente isto que o Yoga propõe.
Sua presente existência não é para ser mergulhada em escuridão e ruína. Foi-lhe concedida para que recobre sua "tigritude" espiritual. Dê um não à autodepreciação e um veemente sim à glorificação de seu verdadeiro Ser. Por falar em pecado, é bom lembrar que o pior deles é acreditar que somos charcos. Não somos. Somos nuvens.
Leitores preconceituosos e adeptos da baixa autoestima podem questionar e rechaçar a convicção de nossa potencialidade e essência divinas. Arremedem o pobre tigre teimosa a negar sua portentosa "tigritude"."
(Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 19/20)