"Se a vida eterna fosse uma chegada estática, e não uma jornada dinâmica...
Preferia eu a vida terrestre à vida celeste.
Não me interessa uma parada acabada - interessa-me somente uma jornada inacabada.
Alguém me disse que a vida eterna é um incessante jornadear - rumo ao Infinito.
Um jornadear em linha reta - longe de todos os zigue-zagues.
E esse Alguém é a "voz silenciosa", que me fala, quando eu me calo.
A "voz silenciosa" não é o meu ruidoso ego humano - é o meu silente Eu divino.
É a alma do Universo, que pensa em mim - porque eu e o Universo somos um.
É o Deus do mundo no mundo de Deus.
É a invisível Realidade no meio de todas as facticidades visíveis.
É a voz do Além que me fala em todas as coisas do Aquém.
Essa "voz silenciosa" me disse que sou um eterno viajor - um feliz possuidor e uma feliz buscador.
Feliz por estar na linha reta rumo ao Infinito - e feliz porque o meu finito está sempre a uma distância infinita do Infinito.
Que farias tu, minha alma, se tivesse chegado a uma meta final?
Repousarias nessa eterna aposentadoria celeste?
E não seria essa vida eterna uma morte eterna?
Uma mortífera passividade?
Mas eu sei que minha vida eterna é eterna atividade.
Por isso sou feliz, por demandar o Infinito - numa fornada sem fim.
Minha vida eterna é uma eterna sinfonia.
Uma sinfonia inacabada.
É o que me diz a "voz silenciosa", que eu escuto com os ouvidos da alma, quando todos os ruídos se calam.
E essa sinfonia não começa após a morte - ela canta em plena vida terrestre, aqui e agora.
Morrer não é um fim nem um começo - é uma simples continuação da mesma vida de hoje, em uma das muitas moradas que há em casa do Pai celeste.
Quem ainda tem medo da morte não começou a viver realmente.
A sinfonia da vida é uma sinfonia eternamente inacabada."
(Huberto Rohden - De Alma para Alma - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 77/78)