"(§50) De todas as Qualificações, o Amor é a mais importante,
pois se for bastante forte em um homem, impele-o a adquirir todas as demais, e
todas as demais sem o Amor nunca seriam suficientes. Frequentemente é expresso
como um intenso desejo pela libertação da roda de nascimentos e mortes, e de
união com Deus. Porém, entendê-lo deste modo parece egoísta, e transmite apenas
uma parte de seu significado. Não é tanto desejo como vontade, resolução, determinação. Para produzir
seu resultado, esta resolução deve preencher de tal modo toda a tua natureza que
não deixe lugar para qualquer outro sentimento. É, na verdade, a vontade de ser
uno com Deus, não para que possas escapar à fadiga e ao sofrimento, mas para
que, por causa de teu profundo amor por Ele, tu possas agir com Ele, e como Ele
age. E porque Ele é Amor, tu, se quiseres tornar-te uno com Ele, deves também estar pleno de perfeito
altruísmo e amor.
(§51) Na vida diária isto significa duas coisas: primeira,
que deves ser cuidadoso para não causar dor a nenhum ser vivo; e segunda, que
deves estar sempre vigiando por uma oportunidade de prestar auxílio.
(§52) Primeiro, não causar dor. Há três pecados que causam
mais dor do que todos os outros no mundo - a maledicência, a crueldade e a
superstição - porque são pecados contra o amor. Contra esses três pecados, o
homem que quiser encher seu coração com o amor de Deus, deve vigiar incessantemente.
(§53) Vê o que a maledicência produz. Inicia com um mau
pensamento, e este em si mesmo já é um crime. Pois em todos e em tudo existe o
bem; em todos e em tudo existe o mal. Podemos reforçar qualquer um deles pelo pensamento,
e deste modo podemos auxiliar ou retardar a evolução; podemos fazer a vontade
do Logos ou a Ele resistir. Se pensares no mal que existe em outrem, estarás
fazendo ao mesmo tempo três ações más:
(§54) (1) Estás enchendo a tua vizinhança de maus em vez de
bons pensamentos, e assim estás aumentando a tristeza do mundo.
(§55) (2) Se existir neste homem o mal que imaginas, estás
reforçando e alimentando esse mal; e assim estás tornando teu irmão pior em vez
de melhor. Geralmente, porém, o mal não existe, e tu o criaste apenas em tua fantasia;
então o teu mau pensamento tentará teu irmão acometer erro, pois, se ele ainda
não for perfeito, poderás torná-lo tal qual o imaginaste.
(§56) (3) Enches tua própria mente com maus em vez de bons pensamentos;
e assim retardas teu próprio crescimento, e tornas-te, para aqueles que podem
ver, um objeto feio e penoso em vez de belo e amável. (...)"
(Krishnamurt – Aos Pés
do Mestre – Ed. Teosófica, Brasília)