"Sabes, meu amigo, que eterno silêncio envolve as grandes alturas - e os grandes abismos?
Sabes que nos cumes supremos do Himalaia reina solidão imensa?
Sabes que nas ínfimas profundezas do oceano impera quietude integral?
Sabes que taciturnas são as grandes altitudes e as grandes profundidades da alma?
O meio-dia do amor - e a meia-noite da dor?
O zênite do querer - e o nadir do sofrer?...
Podem parentes e amigos seguir-te até ao "átrio dos gentios" ou ao "santuário dos homens" - mas no "sancta sanctorum" de Deus há de entrar sozinho...
Só com Deus e tua alma...
Nem pai nem filho, nem esposo nem esposa, nem irmão nem amigo - ninguém te pode acompanhar...
Ninguém vigiará contigo, por entre as agonias noturnas do Getsêmani...
Todos os teus ficarão a "olhar de longe" - como no Gólgota os amigos de Jesus...
Nos momentos mais humanos e mais divinos de tua vida, serás sumo sacerdote - nem levita nem acólito...
Sozinho subirás ao altar dos holocaustos...
Sozinho imolarás a vítima da expiação...
Sozinho queimarás sobre as brasas o incenso do teu coração...
Em torno de ti - deserto imenso...
Em volta de ti - solidão absoluta...
Nenhum eco responderá aos gemidos do teu coração...
Nenhuma Verônica enxugará as lágrimas dos teus olhos...
Nenhum Cirineu ajudará a carregar tua cruz...
Nenhum samaritano pensará as chagas de tua alma...
Nenhum discípulo predileto receberá a tua última vontade...
Nenhum Arimatéia acolherá o teu corpo exangue...
Maria alguma te fechará os olhos extintos...
Madalena alguma te pranteará no túmulo fechado...
É necessário que atravesses, a sós, o grande deserto...
Arma-te amigo, para o grande saara da vida...
Quanto mais te distanciares de ti mesmo e te aproximares de Deus - tanto mais vasto será o silêncio, tanto mais profunda a solidão.
Deus habita no deserto imenso - da sua infinita plenitude.
Como suportarás o silêncio do Creador - tu, que vives do ruído das creaturas?
Como suportarás estar a sós com Deus - tu, que nem a sós contigo queres estar?
Não te iludas, amigo! - é necessário submergires nesse abismo para encontrares as alturas eternas...
O deserto da Divindade é a mais rica das plenitudes...
O silêncio de Deus - é a mais estupenda das sinfonias do Universo...
O silêncio da dor...
O silêncio do amor..."
(Huberto Rohdem - De Alma para Alma - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 85/86)