OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 19 de abril de 2022

O VALOR DO PERDÃO (PARTE FINAL)

"(...) O discernimento é necessário no perdão, como em todas as situações da vida. Ao perdoar não preciso concordar nem apoiar o comportamento prejudicial ou antissocial do outro. O perdão é uma atitude interior e não um ato externo, muitas vezes teatral. O objetivo do perdão não é mostrar que temos uma natureza superior e magnânima. Tampouco tem o propósito de mudar ou envergonhar o outro, mas simplesmente mudar nossa maneira de ver o mundo e, com isso, mudar os pensamentos negativos ou de discórdia que nutrimos em nossa mente. Dessa forma, alcançamos seu verdadeiro propósito que é trazer paz para nossa mente, abrir caminho para o amor incondicional e permitir que venhamos sentir a verdadeira alegria de nos livrarmos dos venenos do passado. 

O perdão é especialmente importante no seio da família. É entre aqueles que mais amamos que ocorrem mais ocasiões para sofrimento: palavras inapropriadas em momentos de estresse, descuidos com as suscetibilidades de cada um dos nossos familiares, esquecimentos de datas, ocasiões especiais, promessas esquecidas, expectativas não alcançadas, enfim, toda gama de situações em que magoamos nossos familiares e somos magoados por eles. Nesse sentido, a família é realmente um lugar fundamental para o exercício do perdão. Em uma recente homilia, o Papa Francisco disse:

'Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Decepcionamos uns aos outros. Por isso não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz  alegria onde a mágoa produziu tristeza, cura, onde a mágoa causou doença.'

O perdão só será completo em nossas vidas quando conseguirmos perdoar inteiramente nossos pais. Muitas pessoas, mesmo em sua vida adulta, guardam ressentimentos de certas atitudes do pai ou da mãe, ou de ambos. Mesmo que nossos pais tenham sido amorosos conosco, ainda assim, é provável que nosso relacionamento com eles, em nossa tenra infância, tenha deixado marcas psicológicas profundas que nos acompanham pelo resto de nossas vidas. Para nos libertarmos de nossos traumas de infância, precisamos perdoar aqueles que julgamos 'culpados' pelos problemas de nossas vidas. Vale lembrar que, se tivermos a possibilidade de conhecer as circunstâncias da infância de nossos pais, vamos verificar que eles provavelmente repetiram conosco o tratamento que receberam dos pais deles, nossos AVÓS.

Esse entendimento, de que as pessoas tendem a repetir ou repelir o que vivenciaram no passado, é importante para aprendermos a extensão de como somos prisioneiros do passado. A libertação da culpa, ou do medo, que é o outro lado da culpa, facilitará nosso entendimento de que para alcançar a paz e a felicidade precisamos nos libertar do passado.²¹ Um futuro melhor só pode ser construído no presente. Mas, para isso, teremos que estar conscientes do presente, em vez da usual aceitação de que o presente é uma continuação automática do passado e que o futuro será a mesma coisa, ou seja, uma prisão eterna.

O perdão é uma mudança de atitude interior. Para isso precisamos estar convencidos de que podemos mudar. Toda mudança começa com uma decisão interior, com o pensamento de que deve haver uma alternativa e que podemos escolher essa alternativa. Com isso assumimos a responsabilidade por nossa vida em vez de esperar que nossos problemas sejam resolvidos por uma fonte externa, seja ela o nosso companheiro/a, o governo ou Deus."

²¹ KRISHNAMJURTI, J. Liberte-se do Passado. São Paulo: Ed. Cultrix.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 87/89)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 14 de abril de 2022

O VALOR DO PERDÃO - (2ª PARTE)

"(...) Perdoar é simplesmente uma escolha seletiva de nossas lembranças. Em vez de insistirmos em nos lembrar das coisas negativas do passado, escolhemos nos lembrar dos momentos alegres com a pessoa que queremos perdoar e então especemos o resto. O perdão radical é o total abandono do passado, em todos os relacionamentos pessoais e dramas coletivos. 

Na perspectiva do amor, perdoar é a disposição de abrir mão das mágoas e sentimentos de culpa do passado. É a decisão de não sofrer mais e curar o coração e o espírito. É a escolha de não dar mais valor à raiva e ao ódio. E é também a renúncia ao desejo de magoar os outros e a nós mesmos por algo que pertence ao passado.

O perdão não é uma complacência com o erro. Ao perdoar o outro, você não está de modo algum concordando com o comportamento daquele que o faz sofrer, ou aceitando suas agressões ou ofensas. Ao perdoar, você deve aprender a separar consequência, de culpa ou ressentimento. Não podemos evitar a consequência objetiva dos atos cometidos no passado. Mas não devemos permitir que a culpa ou o ressentimento nos prendam em suas garras. 

Com relação ao perdão, QUERER é a palavra chave. Decida que não quer mais sofrer. Perdoe-se e perdoe o outro. Ao invés de querer castigar o outro, assuma a busca da paz interior como sua meta. O homem do mundo age em conformidade com sua tradição (que julga ser a sabedoria), em contraste com a sabedoria superior. A sabedoria superior tolera; a tradição julga; a sabedoria alivia; a tradição culpa; a sabedoria perdoa; a tradição condena.

Jung nos ensinou que a imaginação criativa, que os budistas chamam de imaginação correta, é um poderoso instrumento de mudança interior. Imagine sua vida sem medo de expressar seus sonhos. Você sabe o que quer, o que não quer e quando quer. Está livre para alterar sua vida da forma que sempre desejou. Continue o exercício imaginando que você tem permissão para ser feliz e aproveitar a sua vida. Para concluir, imagine que ama a si mesmo do jeito que você é.

O próximo passo demanda disciplina. Para moldarmos uma realidade feliz, temos que nos empenhar a cada momento, em não nos permitir ser limitados e encarcerados no medo do passado, nas ansiedades sobre o futuro e pelas 'verdades' questionáveis que assimilamos de nossos pais e da nossa cultura. 

Perdoar equivale a descartar o lixo psicológico da mesma forma que fazemos com o lixo orgânico depois das refeições. Todo lixo acumulado deixa um cheiro ruim no ambiente. O lixo psicológico é uma clara indicação de que há algo podre em nossos sentimentos que, por ignorância, insistimos em guardar no nosso coração." ...continua.  

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 85/87)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 12 de abril de 2022

O VALOR DO PERDÃO - (1ª PARTE)

"A primeira dificuldade para praticarmos o perdão é o fato de o ego estar sempre focado no passado. A culpa é o resultado de mantermos em nossa memória os 'pecados' do passado. Porém, só podemos amar no presente, sendo o perdão uma expressão de amor. O perdão neutraliza os dois venenos que nos prendem ao passado: culpa e mágoa. 

Se nossas lembranças de sofrimento nos prendem ao passado, como podemos nos livrar do tempo? Para isso temos que viver no Eterno Agora, que na verdade é o estado de consciência do Reino de Deus. O perdão não é necessário no Céu, pois 'ali' ninguém é culpado ou tem pecado. No 'Céu' tudo está bem, nada precisa ser mudado ou consertado. Para entrarmos na consciência do Reino do Céu, precisamos aceitar a vida como ela é, ou seja, perdoar todos os nossos julgamentos e pensamentos de crítica

O perdão é um atitude para com a vida, mesmo quando somos agredidos. Jesus nos ensinou abandonar a antiga tradição judaica de retaliação na famosa passagem: 'Ouviste que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mal; antes, àquele que te fere na face direita oferecer-lhe também a outra.' As pessoas geralmente acham o ensinamento de dar a outra face incompreensível. A razão para isso é que entendem essa passagem bíblica literalmente, quando ela é alegórica. Dar a outra face quando atacado é apresentar a atitude (ou face) espiritual de não revidar, não atacar. 

"Considerada sob o ponto de vista da visão comum, a retaliação de qualquer espécie é não só permissível, mas desejável. O contra-ataque é o melhor meio de defesa. As leis da vida espiritual indicam o contrário. Não só são aconselhadas a ausência de defesa e de retaliação, mas atendendo o princípio, parece como se fosse recomendada a repetição do ataque, convidada pela não ação. A disciplina da não-reação à pressão externa e a preservação, sob todas as circunstâncias, o equilíbrio interior é essencial, porque, então, é estabelecida a perfeita harmonia, e ela governa o pensamento e a conduta. O aspirante, portanto, permanece calmo, impassível e sem represália a cada assalto à cidadela de sua consciência interior."²⁰

A atitude defensiva de nossas posses e do que acreditamos serem nossos direitos pessoais foram desenvolvidas ao longo de centenas de vidas. Essa atitude é necessária para a vida em sociedade, para preserva nossa vida pessoal, nossas posses, nossa família. Mas, quando entramos no Caminho Espiritual, os valores do passado da personalidade precisam ser substituídos pelos valores do bem comum, geralmente expressos pelo ideal da harmonia. O erro tem de ser desfeito e corrigido, em vez de castigado. A raiz do erro é o medo, e todo medo é oriundo do passado. Só o amor dissipa o medo, mas o amor está no presente. 

Por incrível que pareça, perdoar a si mesmo pode ser, algumas vezes, mais difícil que perdoar o outro. Não existe ninguém tão duro conosco como nós mesmos. Porém, quando perdoamos nossos erros, após a devida reflexão e determinação de mudar, entendemos que os outros também erram por ignorância e fraqueza. o perdão dos outros passa a ser mais fácil, especialmente quando nos damos conta de que o processo do perdão está inteiramente sob nosso controle." ... contínua.

²⁰ HODSON, Geoffrey. A Vida de Cristo do Nascimento à Ascensão. Brasília, Ed. Teosófica, 1999, p. 141.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 83/85)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 16 de julho de 2019

UM SENSO DE VALORES

"(...) Existem certos valores que duram para sempre; mas todos estão resumidos na mais elevada felicidade humana atingível na Terra. Uma vez que cada homem (na verdade cada forma animada) busca mais vida, - e a felicidade experimentada no fluxo da vida - a busca instintiva por esse objetivo não é incompatível com os valores que promove a felicidade universal e individual e o aumento de vida expresso, não em parasitismo, mas em criatividade e contribuição para o bem geral. Na verdade, qualquer civilização que corporifique valores assim não precisará ser mantida por supressão ou força, pois servirá às necessidades fundamentais do povo que dela participa.

Numa civilização assim se pode confiar que cada indivíduo aceitará esses valores por suas próprias observações e experiência. Não precisam ser-lhe impingidos pelos métodos adotados em estados autoritários para condicionar as mentes de seu povo. Uma lei verdadeira precisa apenas ser enunciada no estabelecimento dos fatos que ela ilumina e resume.

A guerra mundial, enquanto durou, elevou o contraste entre os ideais defendidos pelas nações combatentes respecivamente. Foi uma época de tensão, de visão e valores exacerbados. Quando vida, felicidade e fortuna eram largamente sacrificados, não se podia fixar valor mais elevado à causa do que essas bênçãos, normalmente tão estimadas em tempos de paz. Mas os valores experimentados quando os fios da consciência humana são tensionados e depois erguidos para reverência, estão prontos para dissolver quando o momento tiver passado, e houver não apenas reversão à estreiteza de nosso viver trivial, mas até mesmo uma reação pela tensão imposta pelo esforço. Numa era de contatos fugazes, de competição incessante e dura, é mais difícil do que sempre foi, para qualquer indivíduo, ver com clareza e manter seu senso de valores. Todavia, os verdadeiros valores constituem o único mapa e bússola que possuímos para alcançar nossa meta última."

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 21/22)


quinta-feira, 27 de junho de 2019

OPÇÃO

"Na vida chamada 'normal', isto é, na vida mundana aderimos a muitas coisas, muitos hábitos, muitos valores que nos agradam, mas, como tudo acaba, com eles também acaba nossa alegria.

Começo bom.

Amargo fim.

Na vida espiritual é exatamente o oposto. A gente começa fazendo esforço e mesmo, em algumas horas, sacrifícios, mas, aos poucos, vamos nos transformando e encontrando a 'paz que não cessa nunca'.

O começo é árduo.

Mas o fim é feliz.

Ensina-me, Senhor, a fazer a opção correta."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Record, Rio de Janeiro, 1995 - p. 73/74)


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

DEUS, A NATUREZA E O HOMEM

"Há três entidades com as quais o homem tem de lidar. Elas são: Paramatmam, Prakritti e Jivatman, respectivamente, Deus, a natureza e o homem.

Deus tem de ser adorado e conhecido pelo homem, através da natureza. Natureza é o nome que tudo quanto imprime sobre o homem a Glória e o esplendor de Deus. É também chamada maya. Maya é a veste de Deus, que vela tanto quanto des-vela a beleza e a majestade d'Ele. 

O homem deve aprender a usar a natureza, não para seu conforto e nela se emaranhar e consequentemente vir a esquecer-se de Deus, que paira além da alegria que ele consegue fruir. A natureza propicia ao homem melhor compreensão da Inteligência que rege o Universo.

Como pode a árvore crescer ou a flor abrir? Como pode o homem aprender sobre as estrelas e o espaço? Como, senão pela inspiração da Felicidade e da Inteligência, às quais, Aquele que mora no íntimo, ao homem atribui?

Aborde a natureza em atitude de humildade e oração. Só assim estará garantindo seu futuro. Ravana cobiçou Sita¹⁶, a qual representa prakritti (a natureza), e, às escondidas, a raptou. Tal egoísmo e ambição arrastou-o à mais profunda queda. Se ele tivesse cobiçado somente o Deus por trás da natureza, isto é, Rama, teria alcançado o júbilo eterno. 

Todos os sofrimentos do homem hoje podem ser creditados a este falso sentido de valores. As coisas promordiais devem vir antes. Primeiro, ser; depois, ajudar. Agora, as pessoas começam por ajudar os outros na senda espiritual sem a terem palmilhado antes. Assim, tanto o guia como os guiados caem no fosso.¹⁷ Sirva primeiro a você mesmo, quer dizer, compreenda aquilo que você é, para onde vai, de onde vem, por que viaja e para quê. Após ter as respostas a tais perguntas, aprendidas nas escrituras, dos sábios e das experiências pessoais inquestionáveis, só então pode um homem liderar outros. As pessoas também não estão treinadas para discernir entre o falso e o verdadeiro, entre o temporal e o atemporal, entre o reto e o incorreto, entre o que é socialmente valioso e o que é socialmente danoso. Rejeitam todos os antigos costumes e maneiras, textos e ritos ancestrais, considerando-os inúteis simplesmente porque são antigos. Adotam novos costumes e modismos só por serem modernos. O tempo é um bom testador - coisas que tenham resistido à critica dos séculos e suportado os sopros de muitas culturas estranhas e as seduções de exóticas fantasias têm o âmago essencial da verdade e da validez." 

¹⁶ Ravana - um demônio, que era a personificação da luxúria e da violência, que sequestrou Sita, a personificação da mulher perfeita, esposa de Rama, um Avatar de Vishnu, tido como a personificação do homem, de Deus, portanto. A violência, a serviço da luxúria, provocou a guerra, pela qual Rama resgatou sua esposa e destruiu Ravana, e que o sabio Valmiki eternizou no grande épico Ramayana. 
¹⁷ 'Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no fosso?' - questionou Jesus (Lucas 6:36)

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 187/188)


sábado, 8 de julho de 2017

O SÍMBOLO SUBSTITUI A REALIDADE?

"Falando de amor ou afeição, o mundo seria melhor pela realidade do amor no coração das pessoas, ou pela simulação do amor que pode revestir-se de muitas formas enganosas? Pode-se criar uma impressão de amizade, como é feito pela estrutura política portentosa, mas isto é apenas parte do jogo diplomático. O que conta é o sentimento ou o espírito de amor dentro da pessoa e isto é o que ajuda os demais. Eu não sei a extensão do bem de 'fingir uma virtude, se você não a tem'. Podemos satisfazer-nos facilmente com o fingimento e não atentar para a realidade. Se o substituto opera bem, por que preocupar-nos em encontrar a peça genuína?

A palavra 'Deus' é um substituto comum para Deus, a Realidade. Deus é Algo sobre o que nada sabemos, mas sobre o qual podemos formar as noções que quisermos; existem todos os tipos de ideias sobre Deus, muito embora na prática a sociedade, o estado e a religião nem sempre permitam que se tenha ideias próprias. Tempos houve em que as pessoas foram perseguidas por defenderem ideiais diferentes daquelas da comunidade, envolvendo Deus, a natureza do universo ou qualquer outro assunto, por mais desligado que estivesse de sua conduta e vida. Eles eram considerados hereges e queimados por mera suspeita. Herege era alguém que não apenas não se conformava externamente com padrões estabelecidos, ou professava abertamente uma ideia contrária àquilo que constituía a ordem, mas até mesmo o fato de parecer estar nutrindo determinado pensamento era considerado pecaminoso e subversivo.

Não se pode dizer que um símbolo está destituído de valor. Pode não haver outra forma de nos referirmos objetivamente à realidade, mas um símbolo não passa a ser aquela realidade. Ele poderá ter o seu valor desde que compreendamos que é apenas um indicador ou um substituto da coisa real. Torna-se um fetiche quando é adorado no lugar da realidade. A partir de um ponto de vista, um símbolo é uma sombra, e a luz está por trás do homem que está olhando. No 'Mito da Caverna' de Platão, a luz está por trás dos homens que estão olhando para as densas sombras na pareda na frente da qual encontram-se. A sombra tem o valor de indicar a presença da luz e de dar um esboço do objeto que a obstrui, mas é necessário olharmos na direção adequada em busca da luz em si."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 27/28)


quarta-feira, 28 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (1ª PARTE)

"No mundo moderno há poucos exemplos de seres humanos que encarnam as qualidades que advêm da realização da natureza da mente. Então nos é difícil até imaginar a iluminação ou as percepções de um ser iluminado, e mais ainda começar a pensar que nós mesmos podemos nos tornar iluminados.

Apesar da jactância com que celebra o valor da vida humana e da liberdade individual, nossa sociedade nos trata como indivíduos obcecados pelo poder, o sexo e o dinheiro, que precisam ser constantemente afastados de todo contato com a morte ou com a vida real. Se nos falam ou começamos a suspeitar de nossa profunda potencialidade, não podemos crer nela. E se imaginamos de algum modo a transformação espiritual, nós a vemos como sendo possível apenas para os grandes santos e mestres espirituais do passado. O Dalai Lama fala frequentemente na falta de verdadeiro amor próprio e respeito por si mesmo que vê em muita gente no mundo moderno. Subjacente a toda a nossa perspectiva há uma convicção neurótica das nossas próprias limitações. Isso nos nega toda esperança de despertar e contradiz de maneira trágica a verdade central dos ensinamentos do Buda: a de que já somos todos essencialmente perfeitos.

Mesmo se pensássemos na possibilidade de iluminação, um simples olhar para aquilo que compõe a nossa mente comum - raiva, cobiça, ciúme, rancor, crueldade, luxúria, medo, angústia e confusão - minaria para sempre toda esperança de alcançá-la, se não nos tivessem falado sobre a natureza da mente e sobre a possibilidade de vir a realizar essa natureza que está para além de toda dúvida.

Mas a iluminação é real, e ainda há mestres iluminados na terra. Se você encontra um deles, será sacudido e tocado no fundo do seu coração, e perceberá que todas as palavras tais como 'iluminação' e 'sabedoria', que você pensou serem só ideias, são de fato verdades. Apesar de todos os seus perigos, o mundo de hoje é também muito empolgante. A mente moderna está se abrindo lentamente para diferentes visões da realidade. Pode-se ver na televisão grandes mestres como o Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá; muitos mestres do Oriente agora visitam e ensinam no Ocidente, e livros de todas as tradições místicas estão ganhando um número cada vez maior de leitores. A situação desesperada do planeta está despertando as pessoas para a necessidade de transformação em escala global. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 81/82

domingo, 21 de maio de 2017

A MEMÓRIA NEGA O AMOR

"É possível amar sem pensamento? O que você entende por pensamento? O pensamento é uma resposta às lembranças de sofrimento ou prazer. Não há pensamento sem o resíduo deixado pela experiência incompleta. O amor é diferente da emoção e do feeling. O amor não pode ser colocado no campo do pensamento; enquanto o felling e a emoção podem. O amor é uma chama sem fumaça, sempre fresco, criativo, alegre. Esse amor é perigoso para a sociedade, para o relacionamento. Então, o pensamento entra nele, o modifica, guia, legaliza e o coloca fora de perigo; desse modo, é possível viver com ele. Você não sabe que, ao amar alguém, ama toda a humanidade? Você não sabe que, é perigoso amar o homem? Não há barreira, não há nacionalidade; não há anseio por poder e posição, e as coisas assumem seus valores. Um homem assim é um perigo para a sociedade. 

Para o indivíduo de amor, o processo da memória deve ter um fim. A memória só aparece quando a experiência não é completamente entendida. A memória é apenas o resíduo da experiência, é o resultado de um desafio que não é totalmente compreendido. A vida é um processo de desafio  e reação. O desafio é sempre novo, mas a reação é sempre velha. Essa reação, que é condicionamento, resultado do passado, deve ser entendida, e não disciplinada ou condenada. Deve viver cada dia de maneira nova, integralmente. Esse viver completo só é possível quando há amor, quando seu coração está repleto, mas não de palavras nem com as coisas criadas pela mente. Só onde há amor a memória cessa; e, então, cada movimento é um renascimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 157)


domingo, 9 de abril de 2017

MAESTRIA DA VIDA POR UMA DIGNIDADE SILENCIOSA

"Quem de boa vontade carrega o difícil,
Supera também o menos difícil.
Quem sempre conserva a quietude,
É senhor também da inquietude.
Por isto, o sábio carrega de boa mente
O fardo da sua jornada terrestre.
Nunca se deixa iludir
Por deslumbrantes perspectivas.
Trilha com tranquila dignidade
O seu solitário caminho.
O homem profano, porém,
Que se derrama pela vida superficial,
Dissolve com sua leviandade
A solidez da sociedade;
Destrói com sua inquietude 
A quietudo do reino,
Destrói também o seu próprio Reino.

EXPLICAÇÃO: O valor não está em atos, mas na atitude; não está no dizer ou no fazer, mas no Ser. O Ser é a fonte; o fazer e o dizer são apenas canais, cujo conteúdo não existe por si, mas graças à fonte."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 80/81)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

AMOR E UNIDADE (PARTE FINAL)

"(...) Nenhum homem pode ser separado do corpo da humanidade por causa de suas imperfeições. Se qualquer célula nesse grande corpo estiver doente, ela deve, no final das contas, recobrar a saúde. Só existe uma maneira de se livrar de um inimigo: convertê-lo num amigo, mais cedo ou mais tarde. Shakespeare escreveu: 'Não é amor aquilo que se altera quando encontra alteração', indicando que a natureza do amor é um princípio essencial do homem e um dos eternos valores da vida.

O pensamento lida com as relações entre as coisas, de modo que, dado um motivo, ele descobrirá como agir. Quando a mente, com todo seu poder, se curva perante a intuição do amor e diz 'daqui em diante vós sereis meu mestre; servir-vos-ei sempre', o homem torna-se um iniciado nos mistérios do Cristo ou de Krishna, ou do Deus do amor. Se em algum lugar houver uma cerimônia exterior de iniciação, ela visa anunciar que esse estágio foi alcançado, que essa realidade foi atingida pelo membro recém admitido de uma fraternidade.

O amor opera de maneira infalível por meio daquele em quem essa intuição esteja trabalhando. Ele não consegue viver para satisfação do corpo ou para a diversão, nem para o acúmulo de conhecimento, e passa a responder às necessidades da vida. Acontece, porém, que o jovem 'iniciado' emprega muita energia, e às vezes o observador vê muitas dessas coisas como desperdício e inutilidade. Mais tarde ele próprio descobre a sabedoria de colocar o seu amor onde ele é mais útil. Somente por um instante é que ele perde algo de sua razão; posteriormente ele reaparece como subordinada ao amor.

O provérbio que diz que 'a tolice é a falha comum daquele que é bom' só se aplica ao noviço em bondade. O amor não é para ser visto, porém direciona as forças que podem ser vistas - as do corpo, das emoções e da mente. E essas forças são limitadas. Portanto, a melhor expressão de amor não é esbanjar descuidadamente genialidade e generosidade.

Conheci um grande homem que tinha amor constante. Muitas pessoas consideravam-no frio, porque ele colocava suas forças cuidadosamente. Um homem assim doa a um e depois a outro, de maneira bastante deliberada, onde ele pode ver que o amor produzirá o melhor efeito. Ele é suficientemente sábio para não se desgastar. Mas enquanto está direcionando sua energia dessa maneira, ele está também considerando aqueles que se acham abandonados, porque em seus olhos espera que aqueles a quem ajuda sejam capazes de promover o nascimento da fraternidade entre os homens."

(Ernest Wood - Instrução e intuição - Revista Sophia, Ano 9, nº 33 - p. 30/31)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

PERCEPÇÃO ESPIRITUAL

"Esta é a preparação fina e sutil para a verdadeira percepção interior que resulta de um coração purificado e de um pensamento profundo e firme. Um aspecto dela é a meditação, mas este tema tornou-se tão em moda que quase se tornou um embuste. Talvez a melhor descrição da meditação, de qualquer forma, em seus estágios primitivos, seja a história da Mãe do Senhor no Novo Testamento. Quando coisas admiráveis aconteciam ao seu redor, e outras pessoas ficavam pasmas e comentavam, Maria serenamente 'ponderava todas estas palavras em seu coração.' (Lucas 2:19)

É uma boa palavra, 'ponderar'; George Arundale gostava muito dela. É a forma primária mais fácil e mais saudável de meditação. Diz-nos o Velho Testamento: 'Pondera a vereda de teus pés, e que todos os teus caminhos sejam corretos.' (Provérbios 4:26) O sucesso da meditação depende da pureza, generosidade e sinceridade do coração humano. Não é saudável meditar tendo em vista um objetivo egoísta, a aquisição de poder, a aquisição de conhecimento, conforto e segurança para si próprio. Demore no pensamento de modo que, lentamente, sem esforço, possa surgir a compreensão. 

Demore no pensamento sobre a vida, nos problemas e acontecimentos da vida, nos esplêndidos pensamentos que podemos ler ou ouvir. Percepção espiritual não é apreensão intelectual; é mais uma percepção de 'valores', princípios universais, significados eternos. Um pouco de tempo devotado todos os dias para 'demorar em pensamento' acarreta grandes mudanças no caráter e na perspectiva. Isto trará 'a visão constante para o ideal de progresso e perfeição humanos que nos mostra a Ciência Secreta.' Este ideal deve tornar-se a tendência e o objetivo sinceros do homem em sua totalidade. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 169/170)


domingo, 14 de agosto de 2016

A FAMÍLIA ESPIRITUAL

"Às vezes nossa família biológica não é a nossa verdadeira família. Nossos pais ou outros parentes podem não nos compreender. Podem mesmo não manifestar amor e carinho por nós. Podem rejeitar-nos e maltratar-nos cruelmente. Não somos obrigados a suportar o maltrato ou o desrespeito. Não há débitos a serem saldados que justifiquem os maltratos de ninguém. Merecemos ser amados e respeitados.

À medida que crescemos, podemos nos ver cercados de amigos e de pessoas que tenham por nós um carinho genuíno, que nos propiciem a segurança que vem da certeza de sermos amados e tratados com dignidade e respeito. Esses amigos e entes queridos se transformam na nossa verdadeira família. Eles também podem compartilhar conosco dos mesmos valores espirituais e nós podemos ajudá-los a evoluir positivamente. Essas pessoas serão a nossa família espiritual. Se formos rejeitados por nossa família biológica, a família espiritual nos acolherá, cuidará de nós e se tornará a família que realmente importa. (...)~

Não estou dizendo para abandonarmos nossa família de origem ou para deixarmos de manter com ela uma relação amorosa e solidária. Mas insisto na importância de ficarmos atentos para não sofrer violência ou desrespeito físico e emocional. É inadmissível pensarmos que o desrespeito pode ser tolerado porque vem de alguém da família, da comunidade ou do grupo religioso.

Ame a si tanto quanto ama os outros. Merecemos ser amados, apoiados, respeitados. Se a família biológica nos trata assim, é ótimo. Se não, e se os nossos esforços para alertá-la e fazê-la mudar de atitude falharem, devemos abandoná-la e procurar outra família, nossa família espiritual."

(Brian Weiss - A Divina Sabedoria dos Mestres - Ed. Sextante, Rio de Janeirao, 1999 - p. 96/97)

terça-feira, 17 de maio de 2016

DESAPEGO E SABEDORIA (1ª PARTE)

"Se perguntarmos quem é apegado à ação e quem é aquele cuja ação é sem apego, logo pensamos que os ignorantes são apegados à ação e os sábios são desapegados. Podemos tentar compreender o verdadeiro significado da afirmação de que os sábios são desapegados em duas partes. Primeiramente precisamos compreender quem é sábio, e, em segundo lugar, compreender o processo do desapego. 

Quem é sábio? Alguém pode responder que, entre as espécies sobre a Terra, a espécie humana é a sábia. O nome científico do homem é Homo sapiens; Homo é o nome do gênero, que significa homem, e sapiens é o nome da espécie, que significa sábio. Portanto, Homo sapiens significa 'homem sábio'. É fácil dar a si mesmo o nome de sábio, mas não é tão fácil agir sabiamente e trazer valores mais elevados à vida.

O homem é autoconsciente, ou seja, consciente de si mesmo. Enquanto os animais têm uma consciência coletiva pertencente à sua própria espécie, o ser humano é capaz de inquirir. Somente o homem pode fazer perguntas a respeito de sua origem e seu lugar na natureza. Seu cérebro grande e volumoso e a postura ereta distinguem-no dos outros primatas. Com essa vantagem evolutiva, ele desenvolveu uma profunda sensibilidade à realidade de sua vida e às situações em volta. Seu cérebro, sua mente e sua consciência juntam-se para fornecer conhecimento em três níveis diferentes, e torná-lo cada vez mais sábio. (...)"

(C. A. Shinde - Desapego e sabedoria - Revista Sophia, Ano 13, nº 53 - p. 25)


sábado, 30 de abril de 2016

O SOFRIMENTO E A DOR

"O sofrimento e a dor têm funções espirituais, morais e físicas para o homem terrestre. É possível que essa situação não seja a mesma em planetas mais avançados do que o nosso, nos quais existe também humanidade, talvez em outras dimensões. Mas no esquema planetário em que vivemos, eles são por enquanto importantes elementos para a evolução do homem, apesar de não representarem a tendência dos seus eus superiores, como se viu.

O valor espiritual e evolutivo do sofrimento e da dor encontra-se no fato de o homem ser por eles levado a concentrar suas forças mentais em descobrir o motivo que o levou a tê-los, e ser com isso ajudado a desidentificar-se do ego, embora rápida e temporariamente, traz considerável benefício para o Espírito cósmico que habita dentro do homem, que pode assim confirmar nele a verdadeira origem não egóica e não terrestre de sua natureza. Tal processo, repetido sistemática e ciclicamente no decorrer de sua vida, produz transformações profundas e benéficas em sua consciência.

Através da concentração, ainda que momentânea, em um estado que não é do ego humano, a Fé pode descer da quarta dimensão para o eu consciente, e a energia da Vontade-Poder, que nos possibilita manter a ordem, a coragem e a calma, pode manifestar-se. Em situações normais de felicidade, ou de aparente tranquilidade, essa energia, ainda parca para o homem comum, tem menos ocasião de chegar até a área em que ele é consciente; apenas uma necessidade bem maior é capaz de atraí-la."

(Trigueirinho - Caminhos para a cura interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1995 - p. 78/79)