"(...) O desejo, se é desejo sexual,
atua sobre o sistema nervoso. Toda sensação é uma excitação dos nervos, isto é,
de todo o corpo. Quando a mente relembra essa excitação, quando se demora sobre
ela na memória, o desejo sobe à cabeça e a excitação aumenta até alcançar o clímax.
A mente torna-se escrava dessa excitação e não consegue funcionar separada
dela. Ela se torna ativa e reúne os sentidos por meio de todo artifício
possível, com o objetivo de aumentar o desejo e alimentá-lo.
Vemos isso ilustrado num show
erótico ou numa revista erótica. O produtor representa a mente. É a sua mente
que elabora e desenha cada detalhe que atrai os espectadores ao atuar sobre as
associações em suas mentes, incita-lhe o desejo sexual, que por sua vez intensifica
as antigas associações e se espalha para sensações novas. Cada detalhe torna-se
uma corrente que aumenta o fluxo do desejo e da excitação, resultando num
estado de interação, um vicioso círculo de ação entre a mente, instigada pelo
desejo, e os nervos.
Quanto maior a excitação dos
nervos, maior a vivificação do corpo e o desfrute da sensação corporal. Quanto
maior o gozo, maior o apego ao gozo e ao anelo por sua repetição. A ‘arte’ em
qualquer romance erótico ou em qualquer tipo de apelo sexual consiste
igualmente na ênfase de associações.
Assim grande número de pessoas se
deixa influenciar por uma luxúria intensificada e crescente que, eventualmente,
as torna autômatos existindo para a satisfação da luxúria, ‘monstros’ a quem
nada deterá sob sua tirania incessante. Na ocasião oportuna a autoindulgência
sufoca e destrói todo instinto altruísta. Pois a mente está entrincheirada na
sensação. A luxúria torna-se crueldade, sadismo. Mesmo em sua forma débil,
luxúria e indulgência produzem indiferença para com os outros, destroem o amor
no único sentido verdadeiro, expansivo e belo do termo.
É através da mente que o desejo
pode ser controlado e dominado. O homem sábio é aquele que não diz: ‘eu
desejo’, pois é capaz de se separar do desejo. Logo ele aprende que ‘sua’ mente
é um amplo processo de pensar que ele contraiu.
Quando o coração está pleno de
amor que busca dar e não arrebatar ou desfrutar, que não busca intensificação
do eu pela sensação enraizada no eu, todos os anelos devem morrer. Onde o sexo
é um problema, o amor é o antídoto. Quando existe a sacralidade do amor puro –
no qual existe ausência do eu – pode-se olhar, sem interesse (como através dos
olhos de uma criança inocente), para todas as coisas que poderiam ser
excitantes a uma mente afetada pelo sexo. Na vida moderna, ‘amor’ está
associado a posse e prazer. Mas seu verdadeiro relacionamento é com a ausência
de desejo sob qualquer forma, sutil ou grosseira."
(N. Sri Ram – O Interesse Humano
– Ed,. Teosófica, Brasília, 2015 – p. 28/29)