"Fizera Jesus ver na parábola do semeador que apenas uma pequena parte da semente evangélica chegava a produzir fruto, ao passo que o resto pereceria infrutífero.
Mostrara ainda, na parábola do joio entre o trigo, que até essa pequena percentagem que encontrara terreno propício tinha os seus inimigos, a cizânia, que tentava roubar-lhe a seiva da terra e a luz do céu.
Certamente, não faltou entre os ouvintes, ou talvez entre os apóstolos, quem observasse com um suspiro de desânimo: Mestre, se tantos são os perigos e inimigos do reino de Deus, como se expandirá ele pelo mundo todo, como pretendes?...
Bem lembrados estavam os ouvintes do que lhes dissera o profeta de Nazaré na parábola da sementeira a crescer, que era de uma inesgotável vitalidade intrínseca à semente do Evangelho, e que não necessitava de uma nova intervenção do divino Semeador.
Mas, ainda que não perecesse de todo a sementeira do reino de Deus, chegaria ela jamais a abranger o mundo todo? E quantos séculos não levaria essa expansão mundial?...
Resolveu o Mestre responder a essa interrogação tácita dos seus ouvintes, propondo a parábola do grão de mostarda.
Se as três comparações tinham por cenário o campo amanhado pelo homem, esta, como também a seguinte, tem por teatro a horta e a casa, domínios da atividade feminina.
Disse, pois, Jesus:
- Com que coisa diremos se parece o reino dos céus? Ou sob que parábola o representaremos?
Depois de assim aguçar a atenção do auditório, lança um olhar sobre a cerca da horta vizinha e vê um pé de mostarda. E logo, numa inspiração súbita, prossegue:
- O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que alguém tomou e semeou na sua horta. Quando semeado na terra, é ele o mais pequenino de quantos grãos de semente existem; mas, depois de crescido, faz-se maior que todas as hortaliças, chegando a ser árvore, e criando ramos grandes que as aves do céu vêm pousar à sua sombra.
Corria entre os hebreus o provérbio popular: Tão pequeno como um grão de mostarda. Jesus se adapta a este modo de falar, ainda que haja sementes mais pequenas que a mostarda. Entre as hortaliças de que trata a parábola, dificilmente se encontrará semente tão minúscula e que produza arbusto tão grande, que até merece o nome de árvore; pois, às margens do Jordão, a mostarda atinge três a quatro metros de altura, e até hoje os árabes falam em árvore de mostarda.
Mas somente em altura senão também em expansão e rapidez de crescimento leva de vencida a maior parte da suas congêneres; estende os seus frondosos ramos para todos os lados, convidando a passarinhada a descansar à sua sombra, beliscar as vagens e suspender os seus ninhos por entre verdes folhagem.
Assim, diz o Mestre, há de acontecer com o meu reino. Ainda que é ele um grãozinho de mostarda; um punhado de homens, e nada mais. Mas a virtude que a semente evangélica encerra é grande, e o terreno em que foi semeada é de uma extraordinária fertilidade. Por isso, há de em breve expandir os seus ramos, muito além das balizas desta pequena horta doméstica da Palestina, e abranger todos os países do mundo, convidando milhares e milhares de almas a descansar à sombra de suas frondes, comer dos seus frutos e aninhar-se por entre a viridente folhagem."
(Huberto Rohden - Jesus Nazareno - Ed. Martin Claret, 2007 - p. 141/142)