OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 27 de junho de 2024

FRUTOS

"Desejos - ações - frutos das ações - o Karma não é punitivo, é educativo. À medida que o tempo passa, vamos experimentando os efeitos de nossas ações. Segundo essa lei de ação e reação, tudo que fazemos produz resultados. Somente boas dão bons frutos; os erros também trazem consigo suas consequências.  

Diz um provérbio árabe que nosso destino vem amarrado ao nosso pescoço. Não há como fugir dele. Mas se o destino já vem conosco, onde fica o livre-arbítrio? E onde e quando foram geradas as causas embutidas no fardo que trazemos para esta vida?

Isso sugere a possibilidade de um passado do qual podemos não ter lembrança, ou de algum propósito de Deus para nós.

Porém, como foi dito no início, não se trata de castigo e sim de uma oportunidade de correção de rumo e chances de regeneração. Aí entra o livre-arbítrio: qual a direção que vamos tomar agora? Que rumo vamos dar à nossa existência? 

Podemos começar, purificando nossa mente com bons pensamentos, os quis geram bons sentimentos e ações ponderadas e sensatas. É um aprendizado diário. Precisamos de confiança e perseverança, até que brilhe em nós a Joia Suprema do Discernimento. 

Discernimento, desapego, boa conduta e contentamento. Como sugere o livro 'Aos Pés do Mestre'.

Estamos juntos nesse barco!

Vamos!"

Fernando Mansur, Escrita Divina, Edição do Autor, 2017, p. 116.
Imagem: Pinterest.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O PODER DA PLENA ATENÇÃO

"Como resultado de inovações tecnológicas, o homem moderno desfruta de muitos confortos. No entanto, faltam-lhe paz e harmonia. Há muito estresse e tensão, ganância e luxúria, ódio e crueldade, e tudo isso traz ansiedade, desarmonia e sofrimento. Cada vez mais pessoas são afetadas por neuroses, psicoses e outras doenças. 

A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. Todos os problemas humanos têm origem na mente. A purificação da mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida. Isso não pode ser obtido por nenhuma ginástica intelectual, estímulos emocionais, dramas religiosos ou drogas. É difícil educar a mente de maneira a perceber o novo. É preciso muita paciência; é preciso estar vigilante e alerta. 

É urgente aprendermos a gerenciar nossa mente de maneira apropriada. A mente fica desorientada porque é constantemente atraída por muitas forças. A pessoa deve analisar suas próprias condições de maneira objetiva e desapaixonada, com o auxílio da meditação, uma ferramenta que abre o caminho para a solução dos mais complexos problemas. 

Estamos sempre buscando fora, até mesmo a nossa alegria, e não procuramos internamente. Raramente examinamos nossos próprios pensamentos, palavras e ações. Permanecemos desconhecidos por nós mesmos. Mas, por meio da auto-observação, podemos obter insights sobre a nossa própria natureza. Isso exige um esforço contínuo.  

Com a mente purificada e equilibrada, podemos perscrutar as profundezas de nós mesmos. Se a mente estiver cheia de pensamentos maus, Patañjali propões preenchê-la com pensamentos opostos. Krishnamurti afirma que devemos desenvolver a percepção constante, uma condição mental 'que considera tudo com a mais completa atenção'. Ele diz que 'a chama da atenção', calcina todas as impurezas. Buda chama isso de 'o fogo da plena atenção'. 

O Dhammapada devota um capítulo à plena atenção, que significa estar desperto, em guarda, jamais ser pego de surpresa. Se a pessoa tiver plena atenção, consegue mudar cada circunstância, palavra, pensamento e ação. A plena atenção avisa se estamos para fazer uma escolha errada. Com a mente protegida pela plena atenção, os sentidos externos não perturbam nossa tranquilidade. 

Buda disse que a única maneira de vencer as impurezas da mente é continuar examinando seu conteúdo repetidamente, para que as tendências más sejam arrancadas e apenas as boas tendências floresçam. Por meio da percepção constante, sabemos que a mente prega peças devastadoras. A plena atenção, portanto, é essencial.

A purificação deve ocorrer em toda a mente, nos níveis conscientes e inconscientes. Nosso esforço deve alcançar as profundezas da mente inconsciente. Devemos adotar uma técnica de meditação que nos leve aos níveis profundos onde estão as camadas de impurezas. Alguns métodos de meditação funcionam apenas no nível superficial; embora possam trazer paz e calma, a real purificação da mente não ocorre.

Aqueles que conquistaram o domínio sobre a mente 'consciente' e 'inconsciente' conseguem alcançar o estado 'superconsciente', o estado mais puro, que é comunhão com o Atman (Espírito universal). Tudo o que precisamos é um desejo ardente e um esforço incansável para nos transformar."        

(V. V. Chalam - O poder da plena atenção  - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 15)
Imagem: Pinterest 


quinta-feira, 3 de junho de 2021

A BUSCA DA VERDADE - excertos 8 e 9

"8.  Sadaprarudita, que buscava seriamente o verdadeiro caminho da Iluminação com o risco da própria vida, havia abandonado toda a tentativa ao lucro ou honra. Certo dia, uma voz vinda do céu lhe disse: 'Sadaprarudita! Vá direto ao leste. Não se preocupe com o calor ou com o frio, não dê atenção ao louvor ou desprezo mundanos, não se preocupe com as discriminações entre o bem e o mal, apenas se preocupe em ir para o leste. Neste longínquo leste, encontrará um verdadeiro mestre e alcançará a Iluminação.

Sadaprarudita, contente por ter tido esta precisa instrução, imediatamente, encetou viagem rumo ao leste. Quanto a noite chegava, dormia onde se encontrasse, em um ermo campo ou nas agrestes montanhas. Sendo forasteiro em terras estranhas, sofria as mais diversas humilhações; vendeu-se como escravo, desgastou, por causa da fome, a sua própria carne, mas, finalmente, encontrou o verdadeiro mestre e lhe pediu instruções.

'Boas coisas custam muito caro', eis um ditado que se assenta bem no caso de Sadaprarudita, pois ele teve muitas dificuldades em sua viagem à procura do caminho da Iluminação. Sem dinheiro para comprar flores e incenso para oferecer ao mestre, tentou vender seus serviços, mas não encontrou ninguém que o empregasse. O infortúnio parecia rondá-lo em toda a parte que fosse. O caminho do Iluminação é muito árduo e pode custar a vida a um homem.

Finalmente, Sadaprarudita conseguiu chegar à presença do procurado mestre, mas aí teve nova dificuldade. Não possuía papel nem pincel ou tinta para escrever. Então, feria o punho e com o próprio sangue tomava notas do ensinamento dado por este mestre, Desta maneira, conseguiu a preciosa Verdade.

9.  Havia, certa feita, um menino de nome Sudhana, que também desejou a iluminação e procurou seriamente o seu caminho. De um pescador aprendeu as tradições do mar. De um médico aprendeu a ter compaixão dos doentes em seus sofrimentos. De um homem rico aprendeu que a poupança é o segredo de toda a fortuna; e com isso concluiu que é necessário conservar tudo aquilo que se obtém no caminho da Iluminação, por mais insignificante que seja.

De um monge que medita aprendeu que a mente pura e tranquila tem o miraculoso poder de purificar e tranquilizar outras mentes. Certa vez, encontrou uma mulher de extraordinária personalidade e ficou impressionado com sua benevolência, dela aprendeu que a caridade é o fruto da sabedoria. Certa ocasião, encontrou um velho viandante que lhe contou que, para chegar a um certo lugar, teve de escalar uma montanha de espadas e atravessar um vale de fogo. Assim, com suas expêriencias, Sudhana aprendeu que sempre há um verdadeiro ensinamento a ser colhido e assimilado em tudo aquilo que se ver ou ouvir.

Ele aprendeu paciência de uma pobre mulher, fisicamente imperfeita; aprendeu a pura felicidade, observando as crianças brincarem na rua; e de um gentil e humilde homem, que nunca desejou aquilo que os outros desejavam, aprendeu o segredo de viver em paz com todo o mundo.

Ele aprendeu uma lição de harmonia, observando a composição dos elementos do incenso, e uma lição de gratidão estudando arranjo de flores. Certo dia, passando por uma floresta, parou à sombra de uma árvore, para repousar. Enquanto descansava, viu, perto de uma velha árvore caída, uma minúscula plantinha; deste fato aprendeu uma lição da incerteza da vida.

A luz solar do dia e as cintilantes estrelas da noite constantemente refrescavam sua mente. Assim, Sudhana aproveitou bem as experiências de sua longa jornada.

Aqueles que buscam a Iluminação devem fazer de suas mentes uns castelos e decorá-los. Devem abrir, de par em par, os portões do castelo de suas mentes, para, respeitosa e humildemente, convidar Buda a entrar em sua recôndita fortaleza, aí lhe oferecendo o fragrante incenso da fé e as flores da gratidão e alegria."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 317/323)


 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

PRATIQUES O DARMA AGORA (1ª PARTE)

"Buda disse que, enquanto os seres sencientes estiverem sob a influência da ignorância, terão de experienciar as quatro características do samsara: 1) o nascimento conduz inevitavelmente à morte; 2) aquilo que é reunido, por fim, deve se dispersar; 3) aqueles que ocupam posições elevadas, por fim, caem em estados inferiores; 4) todos os encontros, por fim, resultam em separação. Devemos examinar essas quatro características com muito cuidado. Quem quer que possua um status elevado, uma boa reputação ou riqueza verá isso, por fim, diminuir, decair e, em última instância desaparecer. Existe algum real prazer a ser extraído dessas aquisições e alguma delas pode nos ajudar na hora da morte? Quem pode nos ajudar nessa hora - nosso cônjuge, amigos, familiares, nossas posses ou o governo do nosso país? Pensar que viveremos neste mundo para sempre é enganar-se grosseiramente. Este mundo não possui moradores permanentes. Dos bilhões de indivíduos que hoje estão vivos, quem ainda estará aqui em cem anos? Somos simplesmente viajantes passando por este mundo e, como viajantes, devemos pensar em nos abastecer corretamente para a nossa jornada. O que precisamos levar conosco? Nenhum dos prazeres temporários antes mencionados terá qualquer valor na hora da morte; somente a prática do Darma - o treino, o controle e a purificação da nossa mente - pode nos proteger do sofrimento.

Algumas pessoas rezam para que sejam capazes de praticar o Darma na sua próxima vida, pois acham que não têm a oportunidade de praticar agora. Isso é tolice. Tivemos um renascimento humano perfeito, encontramos os ensinamentos mahayana e temos a rara oportunidade de praticar o Darma. Se não aproveitarmos essa oportunidade agora, quando reencontraremos outro renascimento humano perfeito no futuro? É raro que um Buda apareça neste mundo, raro ter um precioso renascimento humano plenamente dotado e raro gerar fé num ser iluminado. Portanto, visto que já obtivemos todas essas circunstâncias preciosas, devemos praticar o Darma agora.

Não devemos desperdiçar este precioso renascimento humano, conquistado a custa de muito esforço, em nome do conforto da vida atual. Em vez disso, precisamos usar essa rara oportunidade para gerar a preciosa mente do bodichita. Atualmente temos visão clara, audição acurada, mente lúcida e boa saúde. Se não praticarmos o Darma agora, quando tivermos oitenta ou noventa anos, se é que viveremos até lá, será tarde demais para fazê-lo. Ainda que tenhamos a intenção de praticar o Darma, nossos sentidos estarão em declínio, a nossa mente instável e o nosso corpo doente. Como diz um provérbio tibetano: 'Se não praticares o Darma enquanto és jovem, quando a velhice chegar, te arrependerás'.(...)" 

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 151/152)


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

AS PORTAS DA PERCEPÇÃO

"Como já disse, o modo como percebemos o mundo depende inteiramente de nossa visão cármica. Os mestres usam um exemplo tradicional: seis diferentes tipos de seres se encontram na margem de um rio. O ser humano do grupo vê o rio como água, uma substância para lavar o corpo ou saciar a sede; para um animal como o peixe, o rio é seu lar; um deus o vê como o néctar que lhe traz a bênção; para o semideus é uma arma; para o fantasma faminto, pus e sangue pútrido, e o ser dos infernos vê ali lava derretida. A água é a mesma, mas ela é percebida de maneiras diferentes e até contraditórias.

Essa profusão de percepções nos mostra que todas as visões cármicas são ilusões; já que uma substância pode ser percebida de tantas maneiras diferentes, como é que algo pode ter qualquer realidade verdadeira e inerente? Ela também nos mostra como é possível que algumas pessoas sintam este mundo como o céu, e outras como o inferno.

Os ensinamentos nos dizem que há basicamente três tipo de visão: a 'visão cármica, impura' dos seres ordinários; a 'visão da experiência', que se abre aos praticantes da meditação e é o caminho ou o meio de transcendência, e a 'visão pura' dos seres realizados. Um ser realizado, ou um buda, perceberá este mundo como espontaneamente perfeito, um reino de completa e deslumbrante pureza. Uma vez que eles purificam as causas da visão cármica, veem tudo diretamente na sua sacralidade desnuda e primordial.

Vemos tudo à nossa volta do modo como vemos porque temos estado solidificando uma e outra vez e do mesmo modo, vida após vida, nossa experiência da realidade interna e externa, e isso levou à convicção equivocada de que aquilo que vemos é objetivamente real. De fato, quando vamos mais fundo no caminho espiritual, aprendemos como trabalhar com as nossas percepções fixas. Todos os nosso velhos conceitos do mundo, da matéria ou mesmo de nós próprios são purificados e dissolvidos, e um campo de visão e de percepção inteiramente novo, que se pode chamar de 'divino', abre-se diante de nossos olhos. (...)

Na maioria de nós, no entanto, o carma e as emoções negativas obscurecem a capacidade de ver a nossa natureza intrínseca, a natureza da realidade. Como resultado, nós nos agarramos à felicidade e ao sofrimento como coisas reais, e em nossas ações desajeitadas e ignorantes continuamos disseminando as sementes do nosso próximo nascimento. Nossas ações nos mantêm atados ao ciclo contínuo da existência mundana, à roda sem fim do nascimento e da morte. Assim, tudo depende de como vivemos agora, neste exato momento: o modo como vivemos agora pode nos custar todo nosso futuro.

Essa é a razão real e urgente pela qual precisamos nos preparar agora para nos deparar com a morte de um modo sábio, para transformar nosso futuro cármico e evitar a tragédia de cair na ilusão de novo e sempre, repetindo o doloroso ciclo de nascimento e morte. Esta vida é o único momento e lugar em que podemos nos preparar, e só podemos fazê-lo verdadeiramente pelas práticas espirituais (...)." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 156/158)
www.palasathena.org


quinta-feira, 19 de março de 2020

VIVER COM ÉTICA

Resultado de imagem para VIVER COM ÉTICA"Viver com ética envolver realizar cada ação de maneira que, de momento a momento, ocorra uma purificação. Toda ação tem por objetivo a purificação da psique, do coração e também da mente.

Há pessoas que usam suas atividades para promover as próprias ambições. Um dos traços mais comuns da mente é que ela tenta explorar tudo para benefício próprio. Mas a questão não é tanto o que fazer a respeito de pessoas que agem assim; é muito mais importante descobrir nossa própria reação interior. Essa purificação ocorre em nossa mente como resultado de enfrentarmos os fatos?

Cada ser humano precisa encarar o fato de que vive num mundo que é uno e, contudo, está cheio de distinções múltiplas. Como enfrentarmos esse desafio? De uma maneira que disperse as nuvens da má vontade, do egoísmo, da ignorância, para que nossa natureza interior se torne mais luminosa? Ou será que vivenciamos os problemas e as dificuldades nos enclaururando ainda mais nas trevas?

A grande lei da harmonia que rege o universo contínua e infalivelmente provê oportunidades para cada indivíduo, sem exceção. Ela é infalível, inabalável, e traz a cada um, na devida medida, aquilo de que ele precisa. No entanto, deve-se aprender a receber a mensagem não apenas em grandes momentos, mas nos pequenos eventos da vida. 

O modo ético de viver é um modo de inteligência crescente. Aquele que é capaz de responder de maneira inteligente aos pequenos e aos grandes eventos da vida aprende a agir corretamente. Inteligência e ação, inteligência e amor, inteligência e um senso de harmonia e paz não podem ser divorciados. Nossas ações, encontros e contatos podem nos ensinar a crescer em plenitude.

Nós nos limitamos porque não conseguimos reconhecer que a partir do coração podem florescer maravilhosas capacidades que agora estão ocultas. O propósito da vida é tornar possível o florescimento da beleza e do esplendor latentes em cada ser humano."

(Radha Burnier - Viver com ética - Revista Sophia, Ano 16, nº 74 - p. 13)


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O CONFLITO E A CRISE

Resultado de imagem para O CONFLITO E A CRISE espiritual"O ser humano que se acha num estado de liberdade interior parcial - a verdade, o amor e a luz, por um lado; a teimosia, o orgulho e o medo, por outro - terá de encontrar a saída para esse conflito. Uma parte da personalidade opõe-se à verdade de que esses sentimentos e atitudes negativas lá estão, e assim procede desistindo dessas coisas, ao passo que a outra parte se esforça por desenvolver-se e se purificar. Esse estado dualista deve acarretar a crise. Permitam-me enfatizar que essa crise é inevitável. Quando dois movimentos opostos, duas formas de tensão existem numa pessoa, é mister que se chegue a um momento decisivo, que se manifesta na forma de uma crise na vida da pessoa. Um movimento diz: 'Sim, quero admitir o que é o mal; quero enfrentar a mim mesmo e deixar de lado o fingimento, que não é senão mentira. Quero desenvolver-me e dar o melhor de mim para que eu possa contribuir com a vida, assim como espero receber coisas dela. Quero renunciar às posturas infantis e de enganação, a partir das quais tento me agarrar ansiosa e ressentidamente à vida, enquanto me recuso a dar-lhe algo exceto minhas exigências e frustrações. Quero dar um basta em tudo isso e suportar com confiança os reveses da vida. Quero amar a Deus aceitando a vida como ela é.'

O outro lado insiste em dizer: 'Não. Quero que as coisas sejam do meu jeito. Quero até mesmo me desenvolver, ser decente e honesto, mas sem ter de pagar o preço de encarar, revelar ou admitir algo que me incrimine demasiadamente.' A crise resultante deve pôr abaixo a estrutura interior deficiente.

Quando a orientação destrutiva é consideravelmente mais fraca do que a construtiva, a crise é um tanto menor, pois as deficiências podem ser extirpadas sem que se prejudique toda a organização psíquica. Pelas mesmas razões, se o movimento para o desenvolvimento e a verdade é consideravelmente mais fraco do que o movimento de estagnação, de resistência e de energia negativa, a crise maior pode uma vez mais ser evitada por algum período; é possível que a personalidade permaneça estagnada por muito tempo. Entretanto, quando o movimento para o bem é forte o bastante, e ainda assim a resistência continua a bloquear o movimento da personalidade como um todo - tornando-se confusa, sem horizontes e presa de atitudes falsas e destrutivas - alguma coisa deve ceder."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 179/180)


quinta-feira, 24 de outubro de 2019

VIVER COM ÉTICA

Resultado de imagem para viver"Viver com ética envolve realizar cada ação de maneira que, de momento a momento, ocorra uma purificação. Toda ação tem por objetivo a purificação da psique, do coração e também da mente.

Há pessoas que usam suas atividades para promover as próprias ambições. Um dos traços mais comuns da mente é que ela tenta explorar tudo para benefício próprio. Mas a questão não é tanto o que fazer a respeito de pessoas que agem assim; é muito mais importante descobrir nossa própria reação interior. Essa purificação ocorre em nossa mente como resultado de enfrentarmos os fatos?

Cada ser humano precisa encarar o fato de que vive num mundo que é uno e, contudo, está cheio de distinções múltiplas. Como enfrentamos esse desafio? De uma maneira que disperse as nuvens da má vontade, do egoísmo, da ignorância, para que nossa natureza interior se torne mais luminosa? Ou será que vivenciamos os problemas e as dificuldades nos enclausurando ainda mais nas trevas?

A grande lei da harmonia que rege o universo contínua e infalivelmente provê oportunidades para cada indivíduo, sem exceção. Ela é infalível, inabalável, e traz a cada um, na devida medida, aquilo de que ele precisa. No entanto, deve-se aprender a receber a mensagem não apenas em grandes momentos, mas nos pequenos eventos da vida.

O modo ético de viver é um momento de inteligência crescente. Aquele que é capaz de responder de maneira inteligente aos pequenos e aos grandes eventos da vida aprende a agir corretamente. Inteligência e ação, inteligência e amor, inteligência e um senso de harmonia e paz não podem ser divorciados. Nossas ações, encontros e contatos podem nos ensinar a crescer em plenitude.

Nós nos limitamos porque não conseguimos reconhecer que a partir do coração podem florescer maravilhosas capacidades que agora estão ocultas. O propósito da vida é tornar possível o florescimento da beleza e do esplendor latentes em cada ser humano. (...)"

(Radha Burnier - Viver com ética - Revista Sophia, Ano 16, nº 74 - p. 13)


quinta-feira, 11 de julho de 2019

A MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA ALMA

"(...) A Vida Divina ama todos os filhos que envia a este mundo, seja qual for sua posição, seja qual for o grau de sua evolução, por muito inferior que seja. Porque o amor do Divino, de onde tudo emana, nada tem fora de si próprio. A Vida Divina é o âmago de tudo o que existe, e Deus está presente tanto no coração do malfeitor como no coração do santo. No Pátio Externo, o Divino deve ser reconhecido, não importando quão espessos sejam os véus que o escondem, pois ali os olhos do Espírito abri-se-ão e não haverá véus entre ele e o Eu dos outros homens. Portanto, aquela nobre indignação tem de ser depurada de tudo quanto seja cólera, e transformada numa energia que nada marginaliza do seu âmbito auxiliador, amparando tanto o tirano como o escravo, e encerrando, no mesmo abraço, tanto o opressor como o oprimido. Porque os Salvadores dos homens não fazem acepção entre os que Eles devem servir - Seu Serviço não conhece limitações. O que são servidores de todos não odeiam ninguém no Universo. O que antes era cólera tornou-se, pela purificação, proteção aos fracos, oposição impessoal aos grandes males, justiça perfeita pra todos.

E o que fez com a cólera deve fazer com o amor. O amor começa a manifestar-se na Alma sob seu aspecto mais pobre, sob seu aspecto inferior, quando ela começa a progredir. Talvez sob o aspecto que só conhece a procura exterior do outro, e que, em sua autossatisfação, nem mesmo se preocupa com o que acontece àquela que amou. Quando a Alma se faz mais elevada, o amor transforma seu aspecto, faz-se mais nobre, menos egoísta, menos, pessoal, até ligar-se aos elementos superiores do bem-amado, em vez de ligar-se ao invólucro externo. O amor, que era sensual, torna-se moralizado e purificado. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo,1995 - 26/27)
www.pensamento-cultrix.com.br


quarta-feira, 18 de abril de 2018

O QUE É BUSCAR O CAMINHO?

"Precisamos avaliar onde estamos, o que aprendemos, que trabalho foi efetuado, se realmente aprendemos e pelo menos começamos a agir com base nas regras iniciais, e, o que é mais importante, talvez, quais possam ser nossos motivos para buscar a iluminação, a autorrealização, ou a sabedoria espiritual. Por que queremos entrar no Caminho Sagrado?

As regras iniciais primeiramente dirigiram nossa atenção para a eliminação dos elementos em nossa personalidade que enevoam nossa visão, elementos que aumentam nosso senso de egoísmo e separatividade. Depois nossa atenção foi dirigida para a obtenção, mediante o uso correto do desejo, daquelas faculdades e capacidades que, como nos diz o comentário,  'pertencem apenas à alma pura', capacidades que são adquiridas 'para o espírito unido da vida que é o seu único e verdadeiro eu'.

Tal trabalho preparatório não é suficiente: agora deve ocorrer uma genuína transformação. Mais uma vez São Paulo diz, na citação acima, que não devemos conformar-nos com este mundo, mas 'ser transformados pela renovação de nossa mente'. No livro Ocultismo Prático, Blavatsky escreveu sobre a transformação que 'atira aquele que a pratica (isto é, o modo de vida indicado pelos dois primeiros conjuntos de regras do nosso texto) completamente para fora do cálculo das fileiras dos vivos'. Agora tudo está mudado. Não há retorno possível. Não temos alternativa senão 'buscar o caminho' e prosseguir. Uma 'senda ulterior' deve ser descoberta. Assim a nota continua, afirmando que agora se abre perante nós o mistério do novo caminho - uma senda que leva para fora de toda experiência humana. [...] É necessário ter a certeza de que o caminho é escolhido por amor ao caminho.

Assim, voltando mais uma vez a fazer referência à admoestação de São Paulo, podemos 'provar o que é essa vontade boa, aceitável e perfeito' do Supremo.

O próprio processo de examinar as obstruções psicológicas que existem dentro de nós e que não nos permitem 'a verdadeira busca' resulta numa tremenda liberação de energia que deve agora ser usada de maneira apropriada. É como se toda reserva de energia que foi liberada pelo processo de purificação devesse ser trazida para o foco num único empreendimento: 'Buscar o caminho'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 44/45)

sexta-feira, 23 de março de 2018

TEXTO ZAZEN WASAN

"Desde o princípio todos os seres são Budas.

Como a água e o gelo, sem água não há gelo,

Fora de nós não há Budas

Quão próximos da verdade, todavia quão longe a buscamos.

Como alguém dentro d'água gritando 'Tenho sede'.

Como uma criança de rica linhagem

vagueando neste terra como se fosse pobre,

nós vagueamos eternamente e damos voltas aos seis mundos.

A causa de nossa dor é a ilusão do ego.

De um caminho sombrio a outro vagueamos nas trevas,

Como podemos nos livrar da roda de samsara?

A passagem para a liberdade é o Samadhi Zazen,

além da exaltação, além de nossos louvores,

o puro Mahayana.

A observação dos preceitos, o arrependimento e o doar-se,

as incontáveis boas ações e o caminho do reto viver

surgem todos de Zazen.

Assim, um verdadeiro Samadhi extingue os males;

purifica o carma, dissolvendo as obstruções.

Então, onde estão os caminhos sombriso que nos fazem extraviar?


A Terra do Lótus Puro não é distante.

Ouvir esta verdade, coração humilde e agradecido,

louvá-la e abraçá-la, praticar sua sabedoria,

traz bênçãos intermináveis, montanhas de mérito.


Mas se nos voltarmos para o interior e provarmos de nossa Verdadeira natureza,

que o Verdadeiro eu é não eu,

que o nosso próprio Eu é não eu,

vamos além do ego e das palavras astutas.

Então o portal que leva à unidade de causa e efeito é aberto.

Nem dois e nem três, em frente segue o Caminho.

Sendo a nossa forma agora a não forma,

para virmos e irmos jamais saímos de casa.

Sendo o nosso pensamento agora não pensamento,

as nossas danças e as nossas canções são a voz do Dharma.

Como é vasto o céu de ilimitado Samadhi!

Como é claro e transparente o luar da sabedoria!

O que existe fora de nós, o que nos falta?

O Nirvana está totalmente aberto aos nossos olhos.

Esta terra onde estamos é a Terra do Lótus Puri.

É este mesmo corpo, o corpo de Buda."

(Hakuin Zenji - Além do Despertar - Ed. Teosófica, Brasília, 2006 - p. 27/28)


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O DISCIPULADO E A LEI

"Antes de encontrar o Primeiro Portal, o peregrino, com alma sedenta e mente desconcertada, exasperadamente procura algo que valha a pena ser amado, que valha a pena servir.

Defronta-se com a Imutável Esfinge do Mistério. Compreende que não encontrará nenhuma ajuda fora de si mesmo. Consegue entender a Lei de desvinculação e, contudo, a sua personalidade mortal ainda anela simpatia e compreensão. 

A crueldade da vida, a incerteza da hora da morte, continuam projetando sombras sobre sua Senda. Para dissolvê-las, terá que deixar de olhar para trás.

A parte mais penosa do seu caminho é ver que, justamente aqueles aos quais procurou servir, não compreendem seu trabalho. Rebelam-se contra ele, condenando e destruindo tudo aquilo que procura fazer com tanto esforço.

Aquele que passou o Primeiro Portal deve aprender a estender a taça da compaixão a todos que dela necessitam, recusando um só gole para si, permanecendo sedento até que algum companheiro, percebendo a sua sede, também lhe dê de beber.

A mesma Lei que impede o instrutor espiritual de se defender, obriga o discípulo a resguardar tudo aquilo que seu Mestre representa e a defendê-Lo contra qualquer agressão. O discípulo que não reagir em defesa de seu Mestre, não deverá ficar surpreso ao encontrar fechado o Portal do Conhecimento.

O discípulo se eleva e decai junto com seu Mestre e, uma vez tendo-O reconhecido, não pode repudiá-Lo.

O homem que quer perceber o Divino, primeiramente precisa apagar de si a própria imagem.

Entre dez mil homens, nenhum reconheceria um Mestre que estivesse em sua companhia.

Os homens costumam dizer: 'Se os Iniciados existem, por que não vivem entre nós?' Não se apercebem de que a vida que levam impossibilitaria a um Iniciado permanecer entre eles.

Quando o homem purificar seus vários conceitos, criados pela personalidade inferior, convencer-se-á, por si mesmo, da existência da Loja dos Mestres.

Antes de falar sobre as obrigações para com a sociedade, a religião, a ciência e o trabalho, é preciso não esquecer o simples dever fraterno – do som da voz, do toque da mão – para com seu irmão ou sua irmã."

(K. Barkel - Cruz, Estrela e Coroa, Ensinamento de Whitehawk - Universalismo - p. 6/7)


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

MELHORE SUA CONCENTRAÇÃO DURANTE A MEDITAÇÃO

"Para que você melhore em concentração durante a meditação, reduza suas pretensões e desejos. Olhe cada coisa como se você fosse uma simples testemunha desinteressada; não se precipite; não se deixe envolver. Quando as algemas caírem, você se sentirá feliz e leve.

Meditação é a função do homem interno. Envolve quietude subjetiva, esvaziamento da mente e o sentir-se uno com a luz que emerge da Divina Centelha interior. Tal disciplina nenhum livro-texto pode ensinar. Nenhuma aula pode comunicar dhyana. Purifique suas emoções. Clareie seus impulsos. Cultive Amor. Tal domínio é o propósito do processo da meditação ou dhyana.

A mãe pode sentar-se junto do filho e pronunciar palavras que o encorajem a falar, mas o filho tem de usar sua própria língua e fazer seus próprios esforços. Assim, também, uma pessoa pode lhe ensinar como sentar-se e manter o torso vertical, as pernas dobradas, as mãos corretas, os dedos cruzados, a respiração firme e lenta, mas quanto poderá lhe ensinar a controlar a agitação mental?

Quando a meditação So-Ham⁹⁴ atingiu a estabilidade, você pode começar a estabilizar na mente a Forma (rupa) de seu Ishatadevata, isto é, aquela forma do Senhor que você escolheu para sobre Ela meditar. Faça (mentalizando) uma pintura da Forma, da cabeça aos pés, durante cerca de quinze ou vinte minutos. Isso ajudará a fixar no altar do seu coração a Divina Forma. 

Depois você começará a ver somente aquela Sagrada Forma em toda parte. Em todos os seres descobrirá somente Ela. Você virá a realizar o Uno manifestado como muitos. Sivoham - seu sou Shiva. Soham, eu sou Ele. Unicamente ele É.

Pode-se fazer adoração ou dhyana, conforme a própria convicção, na privacidade do lar."

⁹⁴ Um dos métodos de meditação (dhyana) que Swami aprova é aquela que consiste em pronunciar mentalmente o mantro SO na inspiração e o mantra HAM na expiração. A respiração não é comandada, mas tão somente testemunhada pela consciência enquanto acompanhada pelos dois mantras.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 131/132)


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

OS DEVERES

"O primeiro dos deveres teosóficos é o de cumprir o próprio dever para com todos os homens e principalmente com aquelas pessoas com as quais temos obrigações especiais, seja por tê-las assumido voluntariamente, como por exemplo os laços do matrimônio, seja por termos sido ligados a elas pelo destino, como as que devemos a nossos pais ou parentes. 

Deve-se reprimir e vencer ao seu inferior por intermédio do superior. Purificar-se interna e moralmente; não temer a ninguém nem a nada além do tribunal de sua própria consciência. Não fazer nada pela metade; isto é, quando se acredita fazer uma coisa boa, deve-se fazê-la aberta e francamente e se é má, apartar-se dela completamente. 'É dever de um teósofo aliviar sua carga pensando no sábio aforismo de Epitecto: Não te deixes apartar de teu dever por qualquer reflexão que possa fazer a teu respeito o néscio mundo, porque suas censuras não estão em teu poder e consequentemente não devem importar em nada...

Nenhum homem pode dizer que nada pode fazer pelos demais, sob nenhum pretexto. 'Cumprindo sua obrigação na ocasião conveniente, o homem pode tornar-se credor do mundo', disse um escritor inglês. Um jarro d'água oferecido a tempo ao viajante sedento é mais valioso e digno que uma dúzia de manjares oferecidos a pessoas que podem pagar por eles. Um homem que não sinta isso jamais será teósofo; poderá, entretanto, continuar sendo membro de nossa Sociedade. Não temos regras para obrigar um homem a ser um teósofo prático se este não deseja ser." 

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 83/84)


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ALMA E ESPÍRITO

"Platão define a alma (Buddhi) como 'o movimento capaz de mover a si próprio'. 'A alma, acrescenta (Leis, X), é a mais antiga das coisas e o princípio do movimento', chamando assim a Atma (Buddhi) de 'alma' e a Manas de 'Espírito', o que também é feito por nós. 

'A alma foi criada antes que o corpo e este é posterior e secundário, sendo, de acordo com natureza, governado pela alma. A alma que rege todas as coisas que se movem em todas as direções, rege igualmente os céus. A alma, consequentemente, governa as coisas no céu e na terra, bem como no mar, por seus movimentos cujos nomes são: querer, considerar, vigiar, consultar, opinar justa ou erroneamente, ter alegria, confiança, medo, ódio, amor, juntamente com todos os movimentos primitivos unidos a estes. Sendo uma deusa, tem sempre a Noûs, um deus, como aliado e ordena as coisas de forma correta e feliz; porém, quando se une a Annóia (negação de Noûs) trabalha sempre em sentido oposto nas coisas.' 

Nesta linguagem, bem como nos textos budistas considera-se o negativo como existência essencial. O aniquilamento é explicado de uma forma semelhante. O estado positivo é o ser essencial, porém não a manifestação como tal. Em linguagem budista quando o espírito entra no Nirvana perde a existência objetiva, porém conserva o ser subjetivo. 

Em sua dedução filosófica 'acerca dos sonhos', Aristóteles expõe com a maior clareza esta doutrina da alma dupla, ou seja, alma e espírito. 'É preciso que averiguemos em que porção da alma aparecem os sonhos', diz ele. Todos os antigos gregos acreditavam que no homem existia não uma alma dupla, mas sim tripla. E encontramos também a Homero designando por thumos à alma astral ou alma animal chamada 'espírito" por Draper e à divina: noûs, nome pelo qual também é denominado, por Platão, o espírito mais elevado. 

Os jainistas acreditam que a alma, à qual dão o nome de Jiva, tenha sido unida desde a eternidade a dois corpos etéreos e sublimados, um dos quais é invariável e formado dos poderes divinos da alma mais elevada; o outro variável e composto das mais grosseiras paixões do homem, de suas afecções sensuais e atributos terrestres. Quando a alma foi purificada depois da morte une-se a seu Vaycarica ou espírito divino e converte-se num deus. Os partidários dos Vedas, os sábios Brâmanes expõem a mesma doutrina nos Vedanta. A alma, segundo seus ensinamentos, como uma parte do divino espírito universal ou inteligência é capaz de se unir com a essência de sua Entidade mais elevada. 

Este ensinamento é explícito, os Vedanta afirmam que todo aquele que lograr conhecimento completo de seu deus se converte em deus, ainda que permaneça em seu corpo mortal, e adquire poder sobre todas coisas. Citando da teologia védica o verso que diz: 'Verdadeiramente existe apenas uma Divindade, o Espírito Supremo, ele é da mesma natureza que a alma do homem', Draper mostra como as doutrinas budistas chegaram à Europa Oriental através de Aristóteles. Consideramos esta afirmativa pouco digna de crédito, posto que Pitágoras e depois dele, Platão, ensinaram-nas muito anteriormente a Aristóteles. Se posteriormente os últimos platônicos admitiram em sua dialética os argumentos aristotélicos acerca da emanação foi unicamente porque suas opiniões coincidiam em alguns pontos com aquelas dos filósofos orientais."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 49/51)


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

LIÇÕES A SEREM APRENDIDAS ATRAVÉS DO CONHECIMENTO DO KARMA (2ª PARTE)

"(...) 3. A Autoconfiança. Assim como, no passado, fi­zemos de nós o que somos hoje, também pelo que agora fizermos nosso futuro será determinado. O conhecimen­to e a lembrança desse fato e de que a glória do futuro é ilimitada devem, com o tempo, dar-nos grande autocon­fiança, e afastará aquela tendência a apelar para o auxí­lio externo, que, na verdade, em nada auxilia. Thoreau disse: 'Não conheço fato mais encorajador do que a in­discutível capacidade do homem para elevar sua vida, através de um empenho consciente.' E as derradeiras palavras de Buda foram: 'Trabalhai com diligência por vossa salvação!' No Dhammapada diz-se, também, que 'pela própria pessoa o mal é feito, pela própria pessoa vem o sofrimento; pela própria pessoa o mal é anulado, pela própria pessoa vem a purificação. Pureza e impu­reza pertencem à própria pessoa, e ninguém pode puri­ficar outrem'.

4. A Restrição. Naturalmente, se compreendermos que o mal que fazemos se voltará contra nós, saberemos ser muito cuidadosos para não fazer ou dizer coisa algu­ma que não seja boa, pura e verdadeira. O conhecimen­to do Karma evitará que façamos coisas erradas, por amor dos outros como de nós próprios. Fiscalizemos os pensa­mentos; o pecado é feito por um pensamento positivo, mesmo que esse pensamento não seja levado à ação, por­que os pensamentos são tão reais no mundo mental co­mo as ações o são no mundo material. Jesus disse: 'Quem olhar para uma mulher com o desejo de luxúria, já co­mete adultério com ela, em seu coração.' (Mat., v, 28.) O envio constante de bons pensamentos para outros é de importância muito grande, fazendo-se a melhor das ora­ções — mas ponhamos intenção, energia e vontade neles. Outra coisa a ser aprendida é que devemos combater todo pensamento errado que nos vier à mente, através do po­der do Eu Superior.

5. A Responsabilidade. O fato de haver unidade es­piritual na Raça Humana, já que ela, em sua raiz, é uma apenas, traz, também, o fato da nossa responsabilidade uns para com os outros. No início do Capítulo XIII, dis­semos o quanto somos interdependentes uns dos outros, e como se torna dever nosso, para com a Humanidade em geral, abandonar o Mal e praticar o Bem.

6. O Poder. Quanto mais fizermos da Doutrina do Karma uma parte de nossas vidas, mais poder ganhare­mos, não só para dominar o Mal, mas para dirigir, em grande extensão, o nosso futuro, e ajudar com maior efi­cácia o nosso próximo. Isso se dá porque, tornando-nos autoconfiantes, atraímos força do Eu Superior interno. Por aquele Ser Divino interno nossa vida deve ser guiada e, com a Sua força, dominamos as limitações, destruí­mos os grilhões que nos mantêm fora do Nirvana, e nos tornamos Auxiliares Conscientes da Humanidade. (...)"

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 39/40)

quarta-feira, 17 de maio de 2017

AMAR É CONHECER (2ª PARTE)

"(...) Buda afirmou que os pensamentos de amor poluem a mente, enquanto o próprio amor limpa e purifica. Krishnamurti falou que quando a ação surge do pensamento não há amor. Nos seus Comentários sobre a vida, ele disse que os sentidos de tempo, espaço, separação e dor nascem do pensar, e que só quando cessa o pensamento pode haver amor.

Buda não explicou em detalhes o que é o amor, mas explicou a causa da ausência de amor na vida do ser humano. A abordagem de Krishnamurti é diferente, mas tem por meta o mesmo estado de bondade e amor. Ele nos instiga a descobrir que o que cria a servidão não é o amor verdadeiro, mas a sentimentalidade, o apego às pessoas num relacionamento emocional. Quando existe esse tipo de sentimentalismo e de autopromoção por meio de outra pessoa, a coisa pode facilmente mudar e se tornar ira, frustração ou crueldade. Podemos encontrar muitos casos semelhantes na vida comum, quando o assim chamado amor transforma-se em animosidade e depois em ódio.

Portanto, o que chamamos de amor traz consigo complicações e tumulto interior. Krishnamurti disse: 'O que vamos fazer é descobrir o valor do conhecido, olhar para o conhecido. Quando se olha para ele com pureza, sem condenação, a mente liberta-se do conhecido. Somente então podemos saber o que é o amor.' O teste talvez esteja na sensação de perda, de solidão, se essa posse não mais for possível. E o teste maior está na morte, quando ela traz o sentimento de que tudo foi perdido.

Helena Blavatsky afirmou, num de seus escritos, que, 'quando existe amor verdadeiro, não há absolutamente qualquer senso de separação'. A pessoa pode se examinar e verificar se o senso de separação é realmente compatível com o amor, ou se ele surge junto com o desejo de possuir. Quando há o sentimento de que algumas pessoas importam tremendamente e outras não, será isso realmente amor, ou alguma forma de busca egoísta? (...)"

(Radha Burnier - Amar é conhecer - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 25)


quarta-feira, 19 de abril de 2017

O PODER DO PENSAMENTO E SEU USO (PARTE FINAL)

"(...) Outro uso para esse poder seria a ajuda a alguma boa causa, enviando-lhe bons pensamentos, ou a ajuda a um amigo que está enfrentando dificuldades, enviando-lhe pensamentos de conforto, ou a ajuda a um amigo que busca a verdade, enviando-lhe pensamentos claros e definidos das verdades que o leitor conhece. Você pode enviar para a atmosfera mental pensamentos que elevarão, purificarão, inspirarão todos os que forem sensíveis a eles, pensamentos de proteção, para ser o anjo-da-guarda das pessoas que você ama. O pensamento correto é uma bênção contínua que cada qual pode irradiar, como uma fonte que espalha águas refrescantes.

Não devemos esquecer o reverso desse belo quadro. O pensamento errado é tão veloz para o mal quanto o pensamento certo o é para o bem. O pensamento pode ferir assim como pode curar; pode levar angústia como pode levar conforto. Maus pensamentos atirados à atmosfera mental envenenam as mentes receptivas; pensamentos de cólera e vingança dão força aos golpes mortais; pensamentos que prejudicam outros ferem a língua do maldizente, dão asas a farpas atiradas injustamente. A mente ocupada pelos maus pensamentos atua como um ímã para atrair pensamentos iguais da parte de outros, intensificando assim o mal original. Pensar no mal está a um passo de fazer o mal, e uma imaginação poluída favorece a realização de suas próprias criações maléficas. 'Tal como o homem pensa ele se torna' – é a Lei para os maus pensamentos, como para os bons. Além disso, acalentar um mau pensamento despe-o aos poucos da sua repulsividade e impele o pensador a realizar uma ação que o materializa.

Tal é a Lei do Pensamento, tal é o seu poder. 'Se sabes essas coisas, feliz serás se as seguires.'"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)
fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


sábado, 25 de março de 2017

CRIATIVIDADE (1ª PARTE)

"O carma, assim, não é fatalista nem predeterminado. Carma significa a nossa habilidade de criar e mudar. É criativo porque podemos determinar como e por que agimos. Nós podemos mudar. O futuro está em nossas mãos, e nas mãos do nosso coração. (...)

Como tudo é impermanente, fluido e interdependente, o modo como agimos e pensamos inevitavelmente muda o futuro. Não há situação, por mais que pareça desesperançada ou terrível, como uma doença terminal, que não possa ser usada para crescermos através dela. E não há crime ou crueldade que o arrependimento sincero e a verdadeira prática espiritual não possam purificar.

Milarepa é considerado, no Tibete, o maior dos iogues, poetas e santos. Lembro-me, ainda criança, da emoção que sentia ao ler a história de sua vida e estudar minuciosamente as pequenas ilustrações pintadas em minha cópia manuscrita de sua biografia. Ainda jovem, Milarepa treinou-se para ser feiticeiro, e por vingança matou e arruinou incontáveis vidas com sua magia negra. Ainda assim, pelo remorso e com os sacrifícios que fez sob a orientação de seu grande mestre Marpa, conseguiu purificar-se de todas essas ações negativas. Finalmente iluminou-se, tornando-se aquele que inspirou milhões de pessoas através dos séculos. 

Dizemos no Tibete: 'A ação negativa tem uma qualidade boa: ela pode ser purificada'. Assim, sempre há esperança. Mesmo os assassinos e os malfeitores mais cruéis podem mudar e superar o condicionamento que os conduziu aos seus crimes. Nossa condição presente, se a usarmos com habilidade e sabedoria, pode servir de inspiração para nos libertar do cativeiro do sofrimento. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 132/133)
www.palasathena.org


domingo, 23 de outubro de 2016

O BOM E O MAU KARMA, E OS LUGARES ONDE SÃO EFICIENTES

"O Bom e o Mau Karma operam em um ou em todos os Três Mundos da Existência.

1. O Mau Karma (Akusala-karma, literalmente karma inábil) só é colhido em Kamaloka. Kamaloka é o Mun­do dos Sentidos, e consiste na vida sobre a Terra e na vida no Hades. Geralmente, na Literatura Teosófica, essa pala­vra se limita ao 'Hades', ou Estado entre a Terra e o Devachan; mas, metafisicamente falando, refere-se a todos os Mundos ou Estados resultantes dos Desejos (Kama) e nos quais o Desejo é expresso. Refere-se, também, aos Infernos (Narakas), ou regiões de purificação (Pêtalas), que são os mais baixos subplanos do Mundo Astral. Na vasta maioria dos casos, o mau Karma é esgotado em am­bas essas partes do Kamaloka. Nas vidas terrenas poste­riores, ajustamos os males feitos ao nosso próximo e apren­demos as lições nas quais falhamos, enquanto nos Nara­kas e Pâtalas esgotamos nossas tendências passionais.

2. O Bom Karma (Kusala-karma, literalmente, 'karma hábil') é trabalhado em todos os Três Mundos — o dos Sentidos (Kamaloka), os Céus da Forma (Rupa-Loka) e os Céus Sem-Forma (Arupa-Loka). Nesse caso, até onde se refere ao Kamaloka, isso acontecerá nos níveis supe­riores, ou em seus subplanos, onde qualquer bem pode ser colhido, e essas regiões correspondem ao Paraíso da terminologia cristã, aos Campos Elísios da filosofia grega e ao Amenti da religião egípcia. Trata-se de um estado de prazer destituído de espiritualidade, e pode reter a Alma por mais tempo, adiando sua entrada no Devachan, ou Céu, mais ainda do que o fazem Narakas e Pâtalas, por causa de certas satisfações que dá à personalidade. Trata-se de uma espécie de pequeno céu, para aqueles que são simples e fazem o bem visando apenas o próprio bem-estar.

Todas as nossas punições e todas as nossas alegrias são feitas por nós mesmos e, segundo o grau de nossas aspirações, assim iremos ascender. O Senhor Krishna disse que 'aqueles que veneram os Deuses irão ter com os Deu­ses', mas 'os que me veneram, virão ter Comigo'. 'Ao fim da vida, a Alma se vai sozinha para onde apenas as nossas boas ações nos ajudam' (Fo-Sho-Hing-Tsan-King, v. 1560); e no Mulamuli podemos ler: 'Quando uma pes­soa faz o mal, acende fogo no inferno e queima-se em seu próprio fogo.' E no Chhândogya Upanishad, iii, xiv, l, há estas palavras definitivas: 'O Homem é uma criatu­ra, de Vontade. Conforme seja sua Vontade neste mundo, assim será quando tiver partido desta vida.' Tudo isso mostra nosso grande poder — potencial ou real — porque todos esses Estados de Céus e Infernos que existem, es­tão, também, dentro de nós, e é construindo dentro de nós e na nossa natureza elementos pertencentes a esses estados que nos tornamos semelhantes a eles. Ou antes, é o fato de nos desembaraçarmos de todos aqueles Véus de Ignorância e Pecado, que ocultam a Glória Interior. 'Eu próprio sou Céu e Inferno', canta Omar Khayyam."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Editora Pensamento, São Paulo - p. 25)