"Cada ser humano experimenta algum tipo de angustia emocional e mental na vida. Podemos nos preocupar com nossa segurança financeira, ter dores em razão de um amor perdido, ter preocupações com o bem estar de nossos parentes amigos ou nós mesmos, ou experimentar muitas outras situações e eventos perturbadores, Seria ótimo se nossos problemas simplesmente fossem embora ou outras pessoas cuidassem deles para nós. Contudo, intimamente sabemos que devemos resolver nossos próprios problemas. Devemos mudar a nós mesmos, crescer, desenvolver-nos e tornarmo-nos fortes sem perder a compaixão. Mesmo assim, a maioria de nós só muda quando as fraquezas nos forçam a fazê-lo.
O processo é algo assim. Se não temos autoconfiança, podemos ser dominados pelos outros. Podemos até mesmo prover uma oportunidade para que pessoas sem ética tirem proveito de nós. Se permanecemos tímidos, não conseguimos expressar adequadamente nosso próprio potencial. A falta de autoconfiança resulta em frustração que eventualmente se torna mais do que conseguimos suportar. A dor emocional resultante pode então nos forçar a desenvolver nossa própria vontade e coragem.
As pessoas que usualmente estão zangadas logo se afastam dos outros e descobrem que não têm amigos. Dai pode resultar a solidão. Ao ser deixado de fora dos eventos sociais, esses indivíduos podem aprender a substituir a raiva pela paciência, tornarem se mais flexíveis e ate menos egocêntricos.
Se somos desorganizados, descobrimos que somos ineficientes. Nossos supervisores no trabalho também descobrem isso e, se não tomarmos uma atitude para mudar essa postura, podemos perder o emprego. Essas consequências kármicas podem os forçar a treinar nossa mente.
Esse processo de ser confrontado pelas consequências de nossas fraquezas e de nossas ações erradas gradualmente nos leva a um maior insight e ao desenvolvimento do caráter. Após uma extensão de tempo quase incalculável ao longo de muitas encarnações, esse processo eventualmente desperta o eu interior para a vida consciente, e eventualmente para a iluminação.
Há, no entanto, uma rota mais direta uma rota que somente poucos ousam seguir.
Assim como o processo evolutivo externo prossegue através de estágios ordenados, definidos, o mesmo se dá com o lado interno da evolução humana consciente. A maioria dos seres humanos viaja pela estrada ampla que serpeia sempre muito lentamente em torno da montanha rumo ao topo, Poucos seguem uma rota mais direta e árdua, às vezes chamada de 'senda'. Eles seguem essa rota difícil não com desejo de benefício pessoal, mas a partir de um anelo direcionado a servir a humanidade sofredora de modo mais eficaz. Cada passo nessa senda é marcado por uma grande mudança na consciência - um tipo de renascimento.
A rota mais difícil tem recebido vários nomes em diferentes tradições místicas. Na China, é o Tao; no Hinduísmo, 'a Senda da Iniciação; no Budismo, 'o Nobre Caminho Óctuplo'; no Judaísmo, 'o Caminho da Santidade'; no Cristianismo, 'o Caminho da Cruz'. Platão a descreveu em sua analogia da caverna, e, em A Voz do Silêncio, H.P. Blavatsky fala de seus estágios como 'portais'. Todas essas fontes indicam que a senda é difícil e perigosa, mas que, se o peregrino for bem-sucedido, traz uma recompensa inenarrável.
Para entrar na senda a pessoa deve estar consumida, como diz Blavatsky, 'por um inefável anelo pelo infinito'. Em termos bíblicos, 'tu deves amar o Senhor teu Deus, com todo teu coração, e com toda tua alma, e com toda tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo'. E a pessoa desejar enfrentar os perigos e as dificuldades no caminho que se estende adiante, desejosa de sacrificar a própria vida pelo bem do infinito, para encontrar a vida eterna.
Quando passamos por momentos difíceis, poderemos nos lembrar de cavar dentro de nós para encontrar os recursos, a força, o talento até então desconhecidos e profundamente ocultos dentro de nosso próprio ser. Crescemos ao enfrentar os problemas de frente e vencendo as resistências.
As árduas provações e as esperanças luminosas dessa senda mística para a paz interior estão sucintamente expressas por Blavatsky num curto fragmento intitulado simplesmente 'Há uma estrada': 'Há uma estrada, íngreme e espinhosa, assolada por perigos de toda espécie, mas ainda assim uma estrada. E ela leva ao coração do universo.
Eu posso dizer-lhe como encontrar aqueles que irão mostrar a passagem secreta que se abre apenas internamente, e que se fecha firmemente e para sempre atrás do neófito.
Não existe perigo que a coragem intrépida não consiga conquistar.
Não existe provação que a pureza imaculada não vença.
Não existe dificuldade que o intelecto forte não consiga superar.
Para aqueles que seguem adiante com esforço, existe a recompensa inefável: o poder de abençoar e salvar a humanidade.
Para aqueles que fracassam, existem outras vidas nas quais pode surgir o sucesso.'
Sob essa forma poética, Blavatsky fala das dificuldades, mas assegura também que não existem problemas insolúveis. Podemos ser bem sucedidos se dermos ouvidos a um de seus instrutores, que escreveu: 'Nós temos uma palavra para todos os aspirantes: tentai.'"
(Edward Abdill - A senda mística para a paz interior - Revista Sophia, Ano 12, nº 48, p. 32/33)
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