A obstinação diz, 'Oponho-me a qualquer outro modo exceto ao meu'. E esse 'meu modo' é por vezes contrário à vida, contrário a Deus. A obstinação opõe-se à verdade, ao amor e à união - mesmo que pareça querer essas coisas. Quando ocorre um recrudescimento da obstinação, os aspectos divinos não podem se manifestar.
O orgulho é a resistência à unidade entre as entidades. Ele se separa dos outros e se eleva - resistindo, assim, à verdade e ao amor, ambos manifestações criativas da vida. O orgulho é o oposto da humildade, não da humilhação. A pessoa que se opõe à humildade será humilhada porque a resistência sempre tem de chegar por fim a um ponto culminante. A recusa quanto a se expor à verdade e admitir algo se deve ao orgulho. Este causa a resistência tanto quanto é resultado dela.
De um modo semelhante, a resistência gera o medo e o medo gera a resistência. O estado de tensão da resistência e a diminuição do ritmo do movimento energético toldam a visão e o objetivo da experiência. A vida é percebida como algo ameaçador. Quanto mais resistência, mais medo - e vice-versa. A resistência à verdade advém do medo de que a verdade possa ser nociva, e, por sua vez, a resistência à verdade gera esse medo. O ocultamento torna-se cada vez mais difícil e a exposição cada vez mais ameaçadora.
O medo da verdade - portanto, a resistência - nega a qualidade benigna do universo, nega a verdade do eu, com todos os seus pensamentos, sentimentos e intenções. Essa negação de si mesmo, enraizada na resistência, é, e cria, o mal.
Quando vocês querem evitar seus sentimentos, seus pensamentos e suas intenções ocultas, vocês criam a resistência. De uma ou de outra forma, essa resistência sempre está ligada ao seguinte pensamento: 'Não quero ser ferido' - quer esse ferimento seja real ou imaginário. A resistência pode se ligar à obstinação, que diz: 'Eu não devo ser ferido'; ao orgulho, que diz: 'Nunca admitirei que possa ser ferido'; ao medo, que diz: 'Se eu for ferido, provavelmente morrerei.' A resistência expressa a falta de confiança no universo. Na verdade, a mágoa deve passar, pois, tanto quanto o mal, não se trata de um estado definitivo. Quanto mais se vive o sofrimento em sua completa intensidade, mais rápido esse sofrimento volve ao seu estado original - energia fluida, movente, que cria a alegria e a bênção.
Não importa se a resistência advém da pertinácia, do orgulho ou do medo, da ignorância ou da negação do que é. A resistência obstrui Deus, o fluxo vital. Ela cria muralhas que os separam da verdade e do amor - de sua unidade interior.
Uma pessoa na senda da evolução, que busque e tateie encarnação atrás de encarnação - realizando sua tarefa, acha-se num estado interior de conflito, como vocês sabem. Num ser humano como vocês, uma grande parte já está livre e desenvolvida; mas há também em vocês desarmonia, cegueira, má vontade, resistência e mal."
(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 178/179)