OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

QUEM TEM FÉ EM DEUS ESTÁ LIVRE DA DÚVIDA


Resultado de imagem para QUEM TEM FÉ EM DEUS ESTÁ LIVRE DA DÚVIDA"Cada um de nós possui o livre arbítrio. Essa liberdade interna da vontade é, em realidade, a liberdade do Atman interior. Sri Ramakrishna costumava dizer: 'Despertem o poder desse Atman que reside em seu interior.' Afinal de contas, qual é o significado e o propósito das práticas e disciplinas espirituais? É fortalecer a vontade, a vontade de alcançar Deus nesta mesma vida. À medida que a mente se purifica, a vontade se torna cada vez mais forte. Trata-se de pura indolência relaxar essa vontade e acreditar que irão realizar Deus num futuro próximo. Pensem em Buda. Que homem determinado era ele! Depois de anos de busca incessante, finalmente sentou-se sob uma árvore determinado a realizar Deus ali e naquela mesma hora, ou morrer na tentativa. Isso é o essencial. 

Vou lhes revelar um segredo. Vocês talvez não compreendam seu significado agora, mas, com o tempo, reconhecerão essa verdade: a vontade e a mente de cada homem conduzem-no progressivamente para Deus. Alguns são levados por vias espinhosas, outros por caminhos mais suaves; todos, porém, alcançam a mesma meta. Sabendo disso, alguns mestres iluminados aconselham a prática da seguinte disciplina espiritual: deixe que a mente e a vontade vagueiem sem rumo certo. Mantenham-nas, porém, sob cuidadosa vigilância. Sejam espectadores. Dessa maneira, mesmo que por algum tempo a mente possa correr atrás de sujeiras e vaidades do mundo, se o aspirante espiritual realmente mantiver constante vigilância, com o tempo, ela lentamente se voltará para Deus. 

Ah! Quem pode compreender os desígnios de Deus infinito? Tentar expressá-Lo através da mente ou da palavra é limitá-Lo. (...)"

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 261/262)


quinta-feira, 25 de julho de 2019

A ELIMINAÇÃO DAS IMPUREZAS

"28. O propósito da disciplina do Yoga é eliminar as impurezas causadas pelo processo de condicionamento, de modo que a Luz do Puro Percebimento Incondicionado possa brilhar. 
Em função do sütra acima, o propósito da disciplina do Yoga é negativo em sua natureza. Ele não objetiva construir alguma coisa com um conteúdo positivo, pois o positivo nasce naturalmente no campo da negatividade. O positivo é descendente do alto e não o produto do esforço da mente. Também não é forjado pela Vontade, conquanto forte e resoluta possa ser. E, de fato, Patañjali afirma que o propósito das práticas do Yoga é eliminar os obstáculos que possam ter sido acumulados devido ao processo de condicionamento. A expressão utilizada é asuddhi-ksaye, a eliminação das impurezas. Quando isso é feito, a Luz do puro percebimento brilha por si mesma. Ao serem abertas as portas e as janelas da casa, os raios do sol entrarão imediatamente. Não é preciso convidar o sol para iluminar o quarto, até então, escuro. Há apenas algo a ser feito - remover as obstruções que mantêm fora a luz. Na verdade, a disciplina sobre a qual Patañjali fala neste sütra está na natureza de remover as obstruções que interceptam o fluxo natural da vida. Ele afirma que, com a eliminação das impurezas, brilha a luz da sabedoria, e é nesta luz que vem o percebimento da Realidade. Para se ver, é preciso haver luz, e quando há luz, as coisas aparecem naturalmente à visão como são. Assim, a disciplina indicada aqui objetiva criar um estado de negatividade, no qual tão somente o positivo pode nascer."

(Rohit Mehta - Yoga A arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 105)


terça-feira, 16 de julho de 2019

UM SENSO DE VALORES

"(...) Existem certos valores que duram para sempre; mas todos estão resumidos na mais elevada felicidade humana atingível na Terra. Uma vez que cada homem (na verdade cada forma animada) busca mais vida, - e a felicidade experimentada no fluxo da vida - a busca instintiva por esse objetivo não é incompatível com os valores que promove a felicidade universal e individual e o aumento de vida expresso, não em parasitismo, mas em criatividade e contribuição para o bem geral. Na verdade, qualquer civilização que corporifique valores assim não precisará ser mantida por supressão ou força, pois servirá às necessidades fundamentais do povo que dela participa.

Numa civilização assim se pode confiar que cada indivíduo aceitará esses valores por suas próprias observações e experiência. Não precisam ser-lhe impingidos pelos métodos adotados em estados autoritários para condicionar as mentes de seu povo. Uma lei verdadeira precisa apenas ser enunciada no estabelecimento dos fatos que ela ilumina e resume.

A guerra mundial, enquanto durou, elevou o contraste entre os ideais defendidos pelas nações combatentes respecivamente. Foi uma época de tensão, de visão e valores exacerbados. Quando vida, felicidade e fortuna eram largamente sacrificados, não se podia fixar valor mais elevado à causa do que essas bênçãos, normalmente tão estimadas em tempos de paz. Mas os valores experimentados quando os fios da consciência humana são tensionados e depois erguidos para reverência, estão prontos para dissolver quando o momento tiver passado, e houver não apenas reversão à estreiteza de nosso viver trivial, mas até mesmo uma reação pela tensão imposta pelo esforço. Numa era de contatos fugazes, de competição incessante e dura, é mais difícil do que sempre foi, para qualquer indivíduo, ver com clareza e manter seu senso de valores. Todavia, os verdadeiros valores constituem o único mapa e bússola que possuímos para alcançar nossa meta última."

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 21/22)


sábado, 21 de abril de 2018

O IDEAL DO BODDISATTVA

"A Voz do Silêncio expressa de maneira magnífica a meta ou o ideal a aspirarmos. Nesse texto, o caminho é conhecido como a Senda do boddhisattva e descrito nestas palavras, que despertam todas as nossas inspirações interiores de mente e coração:
Sabe que a corrente de conhecimento super-humano e a Sabedoria Dévica que conquistaste devem, por meio de ti, o canal de Alaya, ser despejada em outro leito.
Sabe, tu da Senda Secreta, que as águas puras devem ser usadas para tornar mais doces as amargas ondas do oceano - aquele poderoso mar formado pelas lágrimas dos homens.
[...] logo que te tiveres tornado como a estrela fixa no céu elevado, aquele claro orbe celestial deve brilhar nas profundezas espaciais para todos - salvo para ti; dá luz a todos, mas não a tome de ninguém. [...]
Autocondenado a viver através de futuros kalpas sem agradecimento e sem ser percebido pelos homens; uma cunha de pedra com inúmeras outras pedras que formam a 'Muralha Guardiã', tal é teu futuro.  
Esse futuro, diz-nos Luz no Caminho, é um futuro no qual nos tornamos capazes de 'tomar parte na parceria da alegria', muito embora sua conquista exija de nós 'trabalho terrível' e 'profunda tristeza'. Contudo, é um caminho autoescolhido que nos leva a um futuro assim, pois estamos verdadeiramente 'autocondenados', como diz A Voz do Silêncio. E cada um de nós deve comprometer-se com a busca, 'buscar o caminho', por meio da qual vencemos as dificuldades e seguimos rumo ao nosso destino."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 47/48)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O OBJETIVO DA VIDA

"O terceiro aspecto de nosso mundo, que está oculto à maioria, é o plano e o objetivo da existência. A maior parte das pessoas parece desnorteada na vida, sem qualquer objetivo definido, salvo talvez a luta meramente física para fazer dinheiro ou alcançar o poder, porque supõe, erroneamente, que isso lhe trará felicidade. Não tem uma ideia precisa da razão pela qual está aqui, nem certeza alguma quanto ao futuro que a espera. Tais pessoas nem mesmo fazem ideia de que são almas e não corpos, e de que, assim sendo, o seu desenvolvimento é parte de um grande esquema de evolução cósmica. 

Quando essa verdade sublime despontar no horizonte da humanidade, haverá uma transformação, que as religiões ocidentais chamam conversão – uma palavra sutil, que infelizmente tem sido deturpada por associações inadequadas, por ser usada, muitas vezes, para significar nada mais que uma crise de emoção hipnoticamente induzida pelas ondas agitadas da excitação, procedentes de uma multidão exaltada. Seu verdadeiro significado corresponde exatamente ao que sua etimologia indica: 'voltar-se com'. Até agora o ser humano, ignorando a maravilhosa corrente da evolução, tem lutado contra ela, sob a ilusão do egoísmo; mas, desde o momento em que a magnificência do Plano Divino refulge ante seus olhos atônitos, a sua atitude passa a ser a de colocar todas as suas energias ao esforço de cooperar no cumprimento do desígnio supremo, 'voltar-se e acompanhar' a esplêndida corrente do amor e da sabedoria de Deus. 

Seu único objetivo, então, é capacitar-se para ajudar o mundo, tendo todos os seus pensamentos e ações dirigidos a essa meta. Podemos esquecê-la por um instante, sob a pressão das tentações; mas o esquecimento será apenas temporário, e este é o sentido do dogma eclesiástico de que o eleito não pode falhar jamais. O discernimento há de chegar, as portas da mente hão de se abrir – para adotar os termos da fé antiga para essa transformação. A pessoa agora sabe o que é real e o que é irreal, o que merece ser adquirido e o que carece de valor. Vive como uma alma imortal, que é uma Centelha do Fogo Divino, em vez de viver como um animal que perece – para usar de uma frase bíblica, que, aliás, carece de correção, visto que os animais não perecem, exceto no sentido de sua reabsorção na respectiva alma-grupo. 

A essa pessoa desvelou-se, em verdade, um aspecto da vida que antes estava oculto à sua percepção. Seria mais exato dizer que agora, pela primeira vez, ela começou realmente a viver, ao passo que, antes, toda a sua existência simplesmente se arrastava, improfícua e sem finalidade."

(C.W. Leadbeater - O Lado Oculto das Coisas - Ed. Teosófica, Brasília - p.  36/37)


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O EMPREGO DA VONTADE EM OCULTISMO (1ª PARTE)

"Quando aplicamos tudo isso no emprego da vontade para chegar à meta da perfeição, vemos facilmente porque tão amiúde fracassamos. Determinamo-nos a alcançar o objetivo, atingir aquilo que é nosso destino espiritual. Ao fazê-lo, traçamos uma linha de conduta segundo certos princípios que consideramos essenciais. Pois bem; se apenas mantivermos a vontade focada nesse único propósito, com exclusão de tudo quanto ameace contrariá-lo, não depararemos com dificuldades nem conflitos. O que em realidade fazemos é que, quando se nos oferece ocasião de seguir a linha de conduta que nós traçamos, começamos a pensar nas vantagens e desvantagens, no agradável e no desagradável da ação particular que nos propusemos realizar. E uma vez criadas as imagens mentais ou formas-pensamento, como as chamamos, nós as fortalecemos com emoção ou desejo, de modo que se tornam obstáculos em nosso caminho quando tentamos cumprir nossa intenção original. Começa então a luta com todos os seus males adjacentes, com sofrimento próprio, fadiga dos corpos e do risco de fracassarmos no empreendimento. Tudo isso é apenas inadequado mas também dispensável.

Quando usamos a vontade como ela deve ser empregada, para abraçar um propósito e nada mais, não há dificuldade. Mas no momento em que permitirmos que a interferência ou influência de um pensamento entre em nossa consciência e requeira sua atenção, estaremos perdidos. Sem dúvida, devemos considerar as circunstâncias empregando sempre o bom senso e o julgamento deliberado, mas não devemos consentir que influências estranhas nos desviem de nossa linha de conduta.

Portanto, tratemos de realizar essa vontade em nosso interior; percebamos que ela ocupa nossa consciência tal qual uma deslumbrante luz branca; sintamos que ela é irresistível, com o poder de manter firme um propósito até atingi-lo. (...)"

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 48/49)
www.editorateosofica.com.br


domingo, 21 de janeiro de 2018

O CAMINHO DA VONTADE (1ª PARTE)

"O Caminho da Vontade é de longe o mais árduo de todos. Aquele que o palmilhará deve invocar em seu auxílio todas as forças de seu ser e concentrá-las em um único ponto, uma única direção. Esta direção é, para ele, a onipotência, tal é a meta. O homem da vontade deve usar os poderes de sua natureza como um general usa seu exército; deve descartar qualquer fraqueza e trocá-la por força; deve reforçar todos os pontos nas paredes que guardam a cidadela de sua divindade; deve cuidadosamente preparar sua armadura e suas armas, pois não deve falhar na batalha. Assim, o essencial é que passe suas forças em revista. Sentado em seu carro - um grande cavalo de guerra de brancura imaculada, simbolizando a verdade, rodeado de seus capitães, ele faz uma esplêndida imagem, completamente arnesado, seu estandarte flutuando na brisa, de uma elevação passa as tropas em revista; ele examina sua disposição e todos os apetrechos necessários para a guerra que decidirá o destino do reino que ele está para governar.

Primeiramente ele averigúa seus recursos físicos e analisa suas forças e fraquezas. Cada célula de seu corpo é para ele um soldado que deve cumprir o dever da obediência; cada órgão é um regimento, e cada membro uma brigada; as fibras de seus nervos são mensageiros que ele, cabeça e coração, emprega para dirigir as manobras e operações das forças sob seu comando. Seu corpo deve ser saudável, forte, viril, sensível, educado e refinado, e todos os instintos que assinalam sua origem animal devem ser transmutados em poderes, usados conscientemente pela mente e pela vontade. O corpo deve ser impedido de ter quaisquer iniciativas, exceto aquelas cabíveis a um exército bem treinado no que se refere aos detalhes e às emergências que podem surgir durante o cumprimento das ordens do comandante-chefe. À parte disto, o corpo deve ser meramente um instrumento com suas forças completamente controladas, e deve render estrita obediência à vontade que lhe dá vida.

O mesmo no que tange aos sentimentos e pensamentos; estas divisões da armada devem ser igualmente controladas e treinadas, e deve direcioná-las para o único objetivo, que é o cumprimento de seu destino. Ele deve aprender a reconhecer um obstáculo como uma oportunidade, a ver no fracasso de hoje o sucesso de amanhã, a acolher resistências como amigos que testam e intensificam seus poderes; auxiliado pelos obstáculos, falhas e resistências, ele deve marchar em direção à meta em que seus olhos se fixaram. Se se desvia, é apenas para corrigir um erro, para compartilhar sua força com os demais, para estudar as razões de sua queda ou de seu sucesso.

Assim como o soldado deve encontrar o perigo, o sofrimento e a morte, assim o homem da vontade, no decurso de sua vida, encontrará seu caminho cheio de desastres. Ele deve aprender a conhecer tanto o horror como a glória da guerra; seu horror é a crueldade física e a morte que lhe é inseparável; sua glória é a regeneração espiritual oriunda de seu heroísmo, autossacrifício e coragem. (...)" 

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association)


terça-feira, 4 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (PARTE FINAL)

"(...) Os budistas acreditam que o caráter é a soma de nosso passado. Os ensinamentos teosóficos explicam essas ideias, dizendo que a memória é armazenada na parte superior de nossa natureza; ela é vislumbrada ocasionalmente e vista claramente no momento da morte. Livres dos embaraços terrenos, vemos em retrospectiva as causas, as inter-relações, o propósito e a justiça de tudo que ocorreu na vida. (...) 

Todos os seres vivos existiram antes de sua atual aparição na Terra. Orígenes, um padre da Igreja Primitiva, explicou que as almas humanas existiam no mundo espiritual dentro do ambiente divino, antes de encarnarem. Platão foi além, explicando que as almas não apenas existiam no universo antes de entrar neste reino de experiência, mas que, quando libertas dos vínculos de suas limitações, retornavam à morada anterior para repousar e assimilar as experiências terrenas. Depois de certo tempo, elas novamente seguem adiante, revigoradas e prontas para enfrentar as novas provações por meio das quais obtêm conhecimento da vida e visualizam as alturas que um dia alcançarão.

Quantas vidas vivemos? No livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, a sábia gaivota expressa um ponto de vista interessante: 'Você tem alguma ideia de quantas vidas devemos ter vivido antes de sequer termos a primeira ideia de que existe mais coisas com relação à vida do que comer, lutar, ou o poder do rebanho? Mil vidas, Jon, dez mil! E depois outra centena de vidas até que comecemos a aprender que existe algo chamado perfeição, e mais cem vidas novamente até adquirirmos a ideia de que nosso propósito para viver è encontrar essa perfeição e manifestá-la.'

A mesma regra aplica-se a nós; escolhemos nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, o próximo mundo será semelhante, com todas as limitações e pesos para superar."

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30/31)


sexta-feira, 23 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (3ª PARTE)

"(...) Depois desse momentâneo relancear de olhos, nunca mais aquele peregrino será o mesmo, porque embora apenas por um instante, compreendeu quais eram a meta e a finalidade. Viu o ápice rumo ao qual está galgando, e viu também o caminho íngreme, mas muito mais curto, que sobe diretamente do flanco da montanha até o lugar onde o templo resplandece. Compreende, naquele momento, que a estrada tem um nome - 'serviço' - e que os que enveredam pelo caminho mais curto devem entrar através de uma porta, onde as palavras 'Serviço do Homem' estão brilhando com letras douradas. A Alma compreende que, antes de poder alcançar pelo menos o Pátio Externo do Templo, deve passar através daquela porta e compreender que a vida é feita para o serviço e não para a autoprocura, que a única maneira de subir mais rapidamente é fazê-lo por amor dos retardatários, a fim de que o auxílio mais eficaz, vindo do Templo, possa ser enviado ao encontra dos que vêm subindo, o que de outra forma não seria possível. 

Essa visão não passou de um vislumbre fugaz, foi apenas um rápido olhar ziguezagueante, porque os olhos foram colhidos por um único dos raios de luz dimanados do alto da montanha. Há tantas coisas atraentes dispersas ao longo daquela estrada em espiral, que o relancear dos olhos da Alma facilmente se deixa atrair para elas. Mas, uma vez recebida aquele cintilação, existe a possibilidade de a alma obtê-la de novo, com maior facilidade. Quando a meta procurada, o dever e o poder do serviço lograram essa momentânea e imaginativa compreensão da Alma permanece ali o desejo de trilhar uma senda mais curta e encontrar o caminho que leve diretamente, pelo flanco da montanha, ao Pátio Externo do Templo.

Após aquela primeira visão, a Alma é visitada amiúde pelos raios de luz, cujo brilho vai se tornando cada vez mais intenso. Vemos que essas Almas, que apenas por um momento reconheceram que há um escopo, um propósito na vida, começaram a subir com maior resolução do que suas semelhantes. Embora ainda estejam dando voltas em torno da montanha, observamos que começam a agir com maior firmeza no que se refere às virtudes, e que se dedicam com maior persistência ao que reconhecemos como religião, essa religião que se esforça por ensinar-lhes como podem subir, e como o Templo pode finalmente ser alcançado. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 11/13)


quinta-feira, 22 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A marcha se nos afigura muito lenta porque eles não veem seu ponto de chegada, a sua meta, e não percebem em que direção estão viajando. Observando alguns caminhantes, vemos que estão sempre se desviando para os lados, atraídos para cá e para lá, sem qualquer propósito em seu caminhar. Não andam diretamente para a frente, atentos ao que fazem, mas perambulam, como crianças, correndo atrás de uma flor ali, tentando apanhar uma borboleta acolá. Assim, temos a impressão de que todo seu tempo é desperdiçado, e apenas um pequeno avanço chega a ser consquistado quando a noite cai sobre eles e o dia de marcha termina. 

Não parece sequer que o próprio progresso intelectual, lento como também é, torne o passo mais rápido. Quando observamos aqueles cujo intelecto é escassamente desenvolvido, eles dão a impressão de que, depois de cada dia vivido, mergulham no sono e dormem quase que no mesmo lugar que ocuparam na noite anterior. E quando voltamos os olhos para aqueles que se mostram mais altamente evoluídos, no que se refere ao intelecto, também esses estão viajando devagar, muito devagar, e a cada dia de vida parecem fazer pequeno progresso. Olhando assim para eles, nosso coração sente-se fatigado com aquela subida, e ficamos a pensar por que não erguem os olhos e entendem em que direção seu caminho os está levando. 

Agora, o Pátio Externo, que alguns dos caminhantes da vanguarda estão alcançando, aquele Pátio Externo do Templo, dá a impressão de que pode ser atingido não apenas pelo caminho circulante, volta por volta, tão longo em torno da montanha, mas também por caminhos mais curtos que não a circundam, mas que podem ser escalados diretamente pelos flancos, se o coração do viajante for corajoso e suas pernas se mostrarem resistentes. Ao tentar ver como os homens encontram um caminho mais rápido para o Pátio Externo do que aquele que vem sendo trilhado por seus companheiros de viagem, parece que percebemos que o primeiro passo é dado para fora dessa longa espiral quando alguma Alma, que talvez por milênios tenha estado viajando volta por volta, compreende, pela primeira vez, o propósito da viagem, e vislumbra, por um momento, uma cintilação vinda do Templo, lá do ápice. Porque aquele Templo branco envia raios de luz sobre os flancos da montanha. De vez em quando um viajante levanta os olhos, afastando-os das flores, das pedrinhas e das borboletas que estão pelo caminho, e aquele cintilação atrai o seu olhar. Olha para cima, para o Templo, e, por um momento, ele o vê. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 9/11)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (1ª PARTE)

"Se nos fosse possível colocar-nos, em pensamento, num centro do espaço, do qual pudéssemos ver o curso da evolução, e estudar a história da nossa cadeia de mundos, tal como podem ser vistos pela imaginação mais do que pelo aspecto que apresentam, poderíamos interpretar o todo num quadro. Vejo uma grande montanha situada no espaço, com um caminho que vai girando em torno dela até atingir seu ápice. As voltas que esse caminho dá são sete, e em cada volta há sete estações onde os peregrinos ficam durante algum tempo. Dentro dessas estações eles têm de subir, volta por volta. Quando traçamos o caminho que sobe por aquela trilha em espiral, vemos que ele termina no topo da montanha, e leva a um majestoso Templo, como que feito de mármore, de uma brancura radiante, e que ali se ergue, cintilando contra o azul etéreo.

Esse Templo é a meta da peregrinação, e os que estão no seu interior terminaram o seu percurso - no que se refere à montanha - e ali permanecem apenas para auxiliar os que ainda estão subindo. Se observarmos o Templo mais atentamente, constataremos, ao tentar ver a sua construção, que ele tem, ao centro, um Santo dos Santos. Em torno desse centro estão os quatro Pátios, circundando o Santo dos Santos como círculos concêntricos. Todos estão dentro do Templo.

Uma parede separa cada Pátio do que lhe é contíguo, e para passar de um Pátio para o outro o caminhante deve atravessar uma porta, apenas uma em cada parede circundante. Assim, todos os que alcançarem o centro terão de passar por aquelas quatro portas, uma por uma. Fora do Templo ainda há outro recinto fechado - o Pátio externo - e esse Pátio acolhe muitos peregrinos, mais do que os que estão dentro do Templo propriamente dito. 

Olhando para o Templo e para os Pátios, e para o caminho que sobe em espiral pela montanha, vemos esse quadro da evolução humana e a trilha ao longo da qual a raça está caminhando, bem como o Templo, que é a sua meta. Ao longo daquele caminho que dá voltas à montanha, vasta massa de seres humanos vai de fato subindo, mas subindo vagarosamente, passo por passo. Às vezes, tem-se a impressão de que cada passo para a frente corresponde a um passo para trás, e embora a tendência de toda aquela massa seja para subir, a ascensão é tão lenta que os passos mal se fazem perceptíveis. Essa evolução eônica da raça, subindo sempre, parece tão lenta, extenuante e dolorosa que nos perguntamos como podem os peregrino ter ânimo para subir durante tanto tempo. Dando voltas à montanha, milhões de anos se passam, e na marcha de milhões de anos o peregrino segue. Enquanto ele caminha por ali durante esses milhões de anos, uma infindável sucessão de vidas parece passar, todas despendidas na subida. Cansamo-nos só de observar as imensas multidões subindo tão lentamente, caminhando, volta por volta, na escalada daquela estrada em espiral. Observando-as, indagamo-nos: 'Por que sobem com tanto vagar? Por que esses milhões de homens empreendem uma viagem tão longa? Por que se esforçam para alcançar aquele Templo situado lá no ápice?' (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 7/9)


sábado, 3 de junho de 2017

O MALTRATO DOS ASPIRANTES (1ª PARTE)

"Um dos piores erros em que o ocultista pode incorrer é frustrar o cumprimento da aspiração de alguém recentemente desperto para a vida espiritual.

Um exemplo extremo seria zombar de suas tentativas de vivenciar a mais alta moralidade, ridicularizar seus ideais e a ele por segui-los, distrair deliberadamente a sua atenção e seduzi-lo propositadamente para afastá-lo de sua meta, e de qualquer maneira impedir ou dificultar o seu engajamento na vida oculta. Isto não só é extremamente danoso para a vítima, mas é a causa do carma mais adverso para a pessoa que comete este erro.

Uma das fases mais críticas e maravilhosas da vida da Mônada é o período prolongado durante o qual a personalidade gradativamente se volta para a vida espiritual. Este é o período em que a influência da Mônada através do Ego pode direcionar sucessivas personalidades para a Senda, ou ser impedida de fazê-lo por pessoas ignorantes, invejosas ou voltadas somente para a materialidade.

Alguns que já fizeram um certo grau de progresso, consciente ou inconscientemente, temem com inveja que os neófitos possam ultrapassá-los, e assim colocam obstáculos em seu caminho. O ocultista sábio faz exatamente o oposto. Ele percebe a grande importância para a Mônada-Ego e para a humanidade de cada novo aspirante desperto. Assim sendo, ele ajuda de todas as maneiras ao seu alcance, orientando, alertando, mostrando amizade e protegendo, especialmente durante as dificuldades iniciais quando a mudança está sendo efetuada. Na verdade, esta é uma parte muito importante da vida do ocultista, ajudar os outros a encontrar e a trilhar a Senda. Ainda que não tenham esta motivação, estes ajudantes geram um carma muito auspicioso durante sua própria ascensão na suprema realização espiritual através da ioga. (...)"

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Yoga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 157/158


quarta-feira, 26 de abril de 2017

A EVOLUÇÃO DA ALMA (1ª PARTE)

"Muitos concluem apressadamente que não existe um significado para a vida. A morte seria o fim, e isso é tudo. Mas isso só acontece porque essas pessoas não se preocuparam em conhecer o verdadeiro propósito da vida.

Estabelecemos para nós mesmos metas de curto prazo. Enquanto tivermos alguma meta, sentimos que nossa vida tem significado. Mas as nossas metas são transitórias. Realizamos uma e já estamos atrás de outra. Precisamos compreender que a busca do significado da vida é um busca espiritual que cada um tem que empreender.

A vida de todos nós é significativa, contanto que mudemos nossa atitude com relação àquilo que ela nos traz. A vida de um professor ou de um estudante, de um médico, de um engenheiro, de um homem de negócios ou de um varredor, enfim, a vida de todos poderia ser significativa se cada um vivesse com o objetivo de autorrealização e autotranscendência.

Por isso é importante compreender a vida como uma escola e uma estrada - e o homem como aluno e peregrino. Mas que homem? É a individualidade, o ego que é o ator, o experienciador e também o eterno peregrino. É esse ego ou ator que escolhe o mundo como palco para atuar. Ele escolhe as circunstâncias, seu papel, sua família, seus pais, sua personalidade etc.

A palavra personalidade deriva da palavra latina persona, que significa máscara. Por trás da máscara o ator permanece anônimo. Esses diferentes papéis desempenhados pelo ator são as nossas personalidades. Estamos tão absortos em representar nosso papel nesse mundo que raramente estamos perceptivos do nosso verdadeiro eu.

Numa determinada vida, podemos estar desempenhando o papel de mãe, irmão, funcionário, magnata ou varredor. Devemos tentar desempenhar nosso papel da melhor maneira, não importanto quão insignificante seja.

Às vezes, num filme vemos que o desempenho de um coadjuvante é elogiado mais que o do herói - um papel insignificante ganha destaque. Mas, na verdade, não existem papéis insignificantes. É a nossa atitude que importa. O sucesso do filme depende de cada um fazer bem o seu papel, na vida real, também dependemos de outros atores. (...)"

(D. B. Sabnis - A evolução da alma - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 13)


quarta-feira, 1 de março de 2017

HABILIDADE PARA LIDAR COM A DOR (PARTE FINAL)

"(...) Annie Besant afirmou certa vez que, fazendo uma retrospectiva de sua vida, concluiu que poderia ter vivido sem todas as alegrias e prazeres, mas não sem as dores e os sofrimentos. Por meio dessas dores ela se tornou a grande mulher que foi. 'Muitos homens devem a grandeza de suas vidas às tremendas dificuldades por que passaram', disse Charles Spurgeon. (...)

Uma vida de tranquilidade traz decadência. Uma vida de dificuldades estimula o crescimento. Francis Bacon observou que 'a prosperidade revela melhor o vício e a adversidade revela melhor a virtude'. Ele escreveu também: 'A virtude da prosperidade é a temperança; a virtude da adversidade é a firmeza, que em termos de moral é a mais heróica virtude.'

Vencendo as adversidades comuns da vida - grandes e pequenas -, começamos a compreender o que está vinculado à busca daquela meta final de todo ser humano: a libertação total, a autorrealização; tornar-se um ser perfeito, livre da roda de nascimentos e mortes.

Não é de se admirar que os grandes instrutores não recomendem seguir o caminho estreito do discipulado a não ser que tenha chegado a hora em que o discípulo esteja pronto, tendo atravessado as dores e as lições da vida humana e sido aprovado. Somente então ele estará preparado para os testes finais da vida - testes tão formidáveis capazes de esmagar até mesmo homens de coragem e firmeza.

Numa carta a A. P. Sinnett, o mestre K. H. descreveu esse desafio em poucas palavras: 'Permitimos que nossos candidatos sejam tentados de milhares de maneiras diferentes, para extrair a totalidade de sua natureza interior e permitir-lhes a oportunidade de permanecerem conquistadores de uma maneira ou de outra. (...) Todos nós fomos testados assim. A coroa da vitória é apenas para aquele que prova ter valor para usá-la. (...) Não foi uma frase sem significado do Tathagata [Buda] que 'Aquele que domina o eu é maior que aquele que vence milhares de homens em batalha': não existe outra batalha tão difícil.'

Devemos, portanto, dar o valor devido a cada adversidade e a cada desafio por que passamos. Deixemos que sejam o fogo que forja o aço em nosso caráter, o polimento que é necessário à pedra preciosa de nossas almas."

(Vicente Hao Chin Jr - Oportunidades para crescer - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 34/35)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

INSTRUÇÃO E INTUIÇÃO

"O homem pode ser simbolizado por uma correnteza, às vezes fluindo de maneira prazerosa, ampla e plácida, por prados sorridentes, ou prados estreitos e profundos, rugindo à medida que avança entre penhascos, sobre um leito de pedra. Isso é uma corrente, não de água, mas de reproduções de fatos entremeados com fantasias na mente, uma corrente coberta com bolhas representando fatos e fantasias que se formam e se quebram repetidamente. A consciência do homem é conduzida ao longo dessa correnteza, sorvendo, à medida que segue em frente, as delícias e tristezas do prazer e da dor. Os homens pensam que vivem uma vida material externa, mas na verdade vivem nessa corrente.

Na correnteza, à medida que ela passa entre as margens, são soprados todos os tipos de folhas e poeira, e às vezes pedras desabam dos penhascos; logo essas coisas chegam ao fundo ou ficam à deriva e se dirigem às margens, mas formaram suas bolhas na corrente - fatos certos ou errados -  que a memória forma e que o esquecimento quebra repetidamente. Por meio dos sentidos, novos fatos penetram a correnteza de vida e de consciência, instruíndo o homem.

Tudo significa algo segundo o que cada pessoa é. Um homem pode construir vários significados a partir de uma experiência - uma informação é para o corpo, outra para a mente, outra para a alma. O mundo é como um livro: algumas partes em letras grandes, de modo que até os apressados conseguem ler; outras em letras pequenas e outras ainda em caracteres de diamante; algumas são para todos, e algumas são especiais para cada necessidade.

Mas além dessas instruções do mundo e dos objetos materiais, frequentes nas horas de vigília, existem também intervenções sutis. Lampejos de luz solar penetram nessa corrente vindos de cima, iluminando sua superfície e às vezes suas profundezas e, quando chegam, o homem compreende alguns fatos, num sentido novo e mais profundo. Isso é intuição, o trabalho do pensamento mais profundo do que aquele que é levado pela corrente.

O pensamento informa ao homem o significado das coisas conforme os interesses de sua personalidade. Diz como conhecer coisas e planejar seu uso, para que o corpo, as emoções e a mente possam estar seguros, tornando-o um bom aluno para quem a instrução é útil. Mas a instrução não pode explicar o significado das coisas para a alma, e assim remover o sentimento de desassossego e o desejo de um propósito e uma meta na vida."

(Ernest Wood - Instrução e intuição - Revista Sophia, Ano 9, nº 33 - p. 27)


terça-feira, 15 de novembro de 2016

LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DA AÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) As pessoas voltam-se para o ócio sob a alegação de que nada existe para fazerem, porque todo o curso de eventos cósmicos está estabelecido e não pode ser influenciado por suas ações.

Mas a incompreensão jaz no fato de que, uma vez que as sutilezas dos princípios cósmicos não se aplicam às atividades comuns da vida humana, o homem é incapaz de seguir esse princípio de não ação até que seja elevado ao estado de realização cósmica. Tal paradoxo aparente é semelhante à situação na esfera da física. As Leis do Movimento de Newton muito contribuíram para o conforto material, mas não conseguiram explicar os mistérios fundamentais da natureza. Com um insight mais profundo e com a ajuda da Teoria da Relatividade de Einstein, as imperfeições da Leis de Newton foram reveladas. Mas, de qualquer maneira, as descobertas técnicas, baseadas nas leis, retèm sua utilidade. Isso acontece porque, enquanto a Teoria da relatividade é essencial para o estudo da ultraestrutura da matéria, para os propósitos mais grosseiros como as explicações técnicas, as inexatidões das Leis de Newton podem ser ignoradas. 

De modo semelhante, para as atividades comuns à vida diária, a lei de ação produzindo frutos é bastante útil; muitos vivem por meio dessa máxima, ganhando dinheiro, alcançando a fama, e exercendo o poder. A imperfeição da lei mal é notada quando aplicada às atividades mundanas, mas é bastante óbvia quando se tenta segui-la na busca de objetivos mais elevados e mais nobres. Aqui, o princípio da não ação deve entrar em cena; mas, para aplicar esse princípio, a pessoa deve levantar o véu da ignorância. Com a combinação de razão e experiência espiritual, a pessoa pode começar a apreciar esse propósito cósmico altruístico. 'Seja feita a Vossa vontade, Ó Senhor', torna-se a aspiração constante da pessoa. E assim Krishna ensina a Arjuna, 'Dedicando todas as ações a mim, com teus pensamentos no Eu Supremo, livre das ambições e do egoísmo, e curado da febre mental, empenha-te na luta'.

Em todo nosso esforço para conseguir fama, poder, riqueza, ou eminência intelectual, estamos buscando a bem-aventurança. Mas essa bem-aventurança é um fim em si mesma. Somente a bem-aventurança que surge da iluminação é que deve tornar-se a meta de nossa vida. Convencidos de que essa bem-aventurança pode ser atingida através da ação, a questão é: 'Qual é a melhor ação? - a do sábio, a do guerreiro, a do artista, ou a do erudito?'."

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 21/22)


sábado, 5 de novembro de 2016

ASPIRANTE AO MUNDO DO ESPÍRITO

"17 - Somente é considerado digno de inquirir sobre o Espírito [Brahman] aquele que tem discernimento, não tem apegos ou desejos, tem shama e as outras qualificações, e que possui a vontade de emancipar-se.

COMENTÁRIO - Uma série de qualificações foram alinhadas. São condições indispensáveis para o aspirante ao mundo do Espírito. Sem elas nada será possível, a não ser o contínuo borboletear nas malhas de samsãra (vir-a-ser). Mas, acima de tudo, é indispensável uma firme determinação (desejo) para alcançar a meta suprema. É ela que nos dá a força interior para vencer o desânimo e os obstáculos materiais que atingem o cansado viajante. Essa determinação é como um pavio que mergulha no combustível da lamparina. Sem ele não haveria a luz."

(Viveka-Chudamani - A Joia Suprema da Sabedoria - Comentário de Murillo N. de Azevedo - Ed. Teosófica, Brasília, 2011 - p. 21)


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

TENHAM CONFIANÇA EM SI MESMOS

"O gosto pela vida espiritual não pode ser adquirido de uma vez só. Não! É preciso lutar duramente por ele. Todas as nossas energias devem ser concentradas unicamente nessa meta sem serem desperdiçadas em outras direções. Sigam sempre adiante, sempre adiante. Nunca fiquem satisfeitos com seu atual estado de desenvolvimento. Tentem alimentar dentro de si uma ardente insatisfação. Digam a si mesmos: 'Que progresso estou fazendo? Nenhum.' - e apliquem-se de maneira ainda mais incansável à tarefa. No fim do dia, Sri Ramakrishna costumava exclamar: 'Ó Mãe, mais um dia se passou e eu não consegui vê-La!'

Toda noite, antes de dormir, pensem por um momento no tempo em que passaram realizando boas ações e no tempo que desperdiçaram; no que dedicaram à meditação e no que se entregaram à preguiça. Fortaleçam suas mentes por meio (...) da prática da meditação.

Deus não é algo que se pode comprar. A visão de Deus só é concedida por Sua graça. Isso significa que vocês não precisam praticar disciplinas espirituais? É claro que devem praticá-las, de outra forma as paixões irão destruí-los.

O homem rico contrata um porteiro cujo dever é impedir que ladrões, vacas, ovelhas ou qualquer outro intruso invada sua propriedade. A mente do homem é seu porteiro, e quanto mais forte ela se tornar, melhor. A mente também tem sido comparada a um cavalo selvagem. Um cavalo assim pode conduzir seu cavaleiro pelo caminho errado; apenas quem é capaz de segurar as rédeas e controlar o animal pode se manter no caminho certo."

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro - Ed. Vedanta, São Paulo - p. 232)

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

MATA A AMBIÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Nenhum ambicioso jamais é feliz porque o que ele quer está no futuro, e assim existe sempre um senso de que algo está faltando no presente. E, quando finalmente alcança sua meta, ela não o satisfaz, e ele fica desapontado, frustrado. 'A distância empresta encantamento à visão', e, quando verdadeiramente chegamos à cena, descobrimos que a grama não é tão verde quanto pensávamos ser. A satisfação cessa e então queremos algo mais. Finalmente, todas as nossas ambições azedam, por 'trabalhar para o eu é trabalhar para o desapontamento'. É muito importante que compreendamos isso, pois nas muitas coisas que fazemos existe a autobusca por adulação, elogio e adiantamento. 

Assim, o comentário diz: 'Mas, embora esta primeira regra pareça tão simples e fácil, não a ultrapasse muito rapidamente'. Podemos pensar que estamos livres da ambição, mas é muito difícil que assim seja. Esse trabalhar para o eu é realmente o produto de nossos apegos, que podem ser as coisas em diferente níveis - físico, astral, mental. Assim, podemos estar apegados a uma pessoa, a nossas posses, ou a nossas ideias. Qualquer que seja a natureza do apego, seu centro é o eu, e trabalhar para o eu é estar descontente porque sua própria natureza é buscar mais. 

O artista puro que ama sua arte, simplesmente gosta de praticá-la, e ele o faz. Mas muito raramente encontramos alguém assim. Muitos artistas são muito autoenvolvidos, intolerantes e têm ciúmes de outros que atingiram a mesma eminência. Certamente, existem artistas que pintam ou compõem desinteressadamente e não para a glória do eu e seus componentes. Mas podemos enganar-nos ao acreditar que estamos fazendo tudo para a glória de Deus com a implicação de que o que quer que façamos tenha sua aprovação; ou podemos pensar que o fazemos em nome do Mestre, carimbando assim nossas ações com seu nome. A mente pode enganar-se extraordinariamente. Devemos estar cônscios de todas essas sutilezas, dos vários processos de autodecepção, antes que possamos dizer que somos verdadeiramente sinceros."

(N. Sri Ram - Mata a ambição - Revista Theosophia, Ano 100, Outubro/Novembro/Dezembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 16) 


sábado, 17 de setembro de 2016

A JUSTIÇA E A COMPAIXÃO DA LEI KÁRMICA

"A Lei é Justa, porque dá a cada um precisamente o que é devido ao bem e ao mal. Ninguém sofre mais do que o que mereceu. Ninguém gozará recompensas que não te­nha conquistado e ninguém será exaltado a expensas de outrem. A Lei é Justa, porque é a Lei, ou o Método de Deus. Temos tendência para confundir nossa arbitrária noção de justiça com a Justiça que é de Deus. Nossa jus­tiça está, invariavelmente, mesclada a outras qualidades, consciente ou inconscientemente; daí que 'Seus cami­nhos não são os nossos caminhos, nem Seus pensamentos são os nossos pensamentos'. Ainda não. Quando nossa maneira de ser e nossos pensamentos forem os Seus, tere­mos alcançado a Meta, tornando-nos unos com Ele — 'perfeitos como nosso Pai Celeste é perfeito' — que é o Grande Todo-Eu em cada coração. Pensamos que estamos sofrendo injustamente, e achamos que, não fosse por esta ou aquela ação de determinada pessoa, poderíamos ter evitado esse sofrimento. Realmente! Que conhecimen­to temos nós de todos os trabalhos ocultos da Lei? Pen­samos que um bom Deus castiga pelo que não foi come­tido? Podeis estar certos de que o braço que nos golpeia é o nosso próprio braço, levantado contra nós mesmos; é o resultado de alguma coisa que fizemos no passado. A escuridão que nos envolve é uma neblina que nós mes­mos criamos.

Sendo, como é, divinamente justa, a Lei, por isso mesmo, é divinamente compassiva. Ela é Amor. Por isso, nunca devemos temer não receber aquilo que merecemos.  Além disso, as próprias aflições e dores da vida tornarnam-se, através dessa Lei, outras tantas lições preparadas para nosso bem, outras tantas misericordiosas purificações, outros tantos meios de crescimento verdadeiro, porque é resistindo e dominando o mal que nos purificamos, 'como que pelo fogo'. E quanto mais percebemos a verdade sobre o Karma, mais capazes somos de suportar desgostos e dores. Não há dúvida sobre isso. Quando aprendemos a lição do sofrimento, ele cessa, ou é transformado no doce e voluntário sofrimento que aceitamos para bem de outros. A verdade é que o Homem da Dor, Jesus, também foi o Senhor da Alegria, e o Buda Doloroso foi o Feliz."

Embora essa Lei seja compassiva e justa, encarada do baixo ponto de vista em que estamos, a grande verdade é que não vem a ser uma coisa nem outra. Visto níveis superiores, o Karma é imparcial e destituído de ideia de Justiça ou Misericórdia: ele é Verdadeiro. Porque não é realmente a Lei que nos pune ou recompensa, mas nós próprios. Se não pusermos o dedo no fogo, jamais ele nos queimará. Portanto, se nunca transgredirmos a Lei, ela não nos pode ferir e, se a servirmos, ela nos auxilia. Ela é o "Braço de Deus", e podemos ser erguidos por ele, ou cair, ferindo-nos, se deixarmos de nos agarrar a ele."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Editora Pensamento, São Paulo - p. 26)
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