"O Karma não é uma lei cega, nem,
de forma alguma, sem endereço. Há grandes inteligências à sua retaguarda, e
assim deve ser, especialmente para a direção de suas diversas correntes, e
para a orientação quanto ao tempo, a forma e o lugar do renascimento. Todas as
Mitologias têm algo a dizer a esse respeito. Os gregos foram mestres no
personalizar ou tornar de certa maneira concretas as maravilhosas e algumas
vezes deslumbrantes abstrações dos Sábios e Filósofos do Oriente. O Oriente
entrega-se a infinitas e ilimitadas abstrações; o Ocidente personaliza. Assim,
por exemplo, o Karma do Oriente é transformado, nos ensinamentos do Ocidente,
na Deusa Nêmesis, ou Fatalismo, com os Três Destinos e as Três Fúrias. Outro
exemplo: a imortalidade e a persistência dos pensamentos e ações, como são
ensinados no Oriente, passam a ser, no Ocidente, a doutrina do Anjo
Registrador, que anota nossos atos, bons ou maus.
Vamos lançar os olhos para as
personificações das Inteligências Kármicas. Os Governantes Kármicos são,
realmente, Quádruplos, mas sua quádrupla natureza às vezes esconde-se sob o
número três. No Apocalipse, vemos a presença de Quatro Anjos dos Quatro
Quartos da Terra. Estacionados simbolicamente nos quatro pontos cardeais,
mostram-lhes que são dirigentes dos assuntos mundanos. E, em Ezequiel, temos
uma visão gráfica das Quatro Criaturas Vivas, cuja 'voz era a do
Todo-Poderoso'. Os escandinavos acreditam nos Três Norns ou Destinos
(Urd, Verdandi e Skuld). O pai deles completa os Quatro. Os gregos tiveram
maior sucesso na personificação dos Deuses Kármicos. Eles são, na verdade,
inigualáveis nessa arte. O quádruplo Poder de Karma está representado em
Nêmesis e nos Três Destinos. Nêmesis é às vezes chamada de Adrastia (Justiça) e
às vezes de Necessitas (Fatalismo) e pelos teósofos neoplatônicos também é
designada como 'Natureza', e, ainda, como o 'Divino
Héracles' ou Hércules. Nêmesis é o melhor nome, sendo Ela a recompensadora
do Bem e a castigadora do Mal; mas há uma grande verdade em cada um dos outros
nomes, pois trazem à tona alguma característica do Karma: Ela é Justa
(Adrastia), Fatal (Necessitas), o Caminho de toda a Natureza (Natureza) e é
forte e poderosa (Héracles). Como castigadora do Mal, Ela usa as Três Fúrias —
Tisffone, Megera e Alecto. Quando recompensa o Bem, as Fúrias tornam-se as Três
Eumênides (As Benevolentes). Mas os dirigentes da Lei Kármica, além de Nêmesis,
foram os Três Destinos: Cloto, que preside ao nascimento; Láquesis, que tece o
fio da vida e Átropos, que corta o fio da vida com a sua tesoura. Ao que se
supõe, todo o Bem e todo o Mal vêm delas, e são consideradas como inexoráveis,
mas, ainda assim, dignas de respeito e reverência.
Na tradição secreta que a
Teosofia tornou conhecida, esses Poderes são chamados o Quádruplo Lipika
(literalmente 'Escribas', ou 'Registradores') que são os
reguladores ou assessores do destino que um homem criou para si próprio. (Ver
Estâncias de Dzyan, traduzidas por Helena P. Blavatsky.) Esses Quatro Santos
estão dentro, fora e atrás da Lei Kármica e, por seu intermédio, o Senhor
Supremo controla as operações do homem e da Natureza, karmicamente."