"Agora, meu amigo, quando você se depara com essa dor, é ela realmente apenas a dor que você experimentou um dia quando criança? Será essa realmente a frustração que a criança sofreu por causa dos pais e nada mais? Não, isso não é inteiramente correto. É verdade que essa dor e essa frustração originais afetaram a flexibilidade da sua psique, sua capacidade de adaptação, e assim o tornaram incapaz de lidar com elas. Esses eventos fizeram com que você lhes virasse as costas e procurasse por 'soluções' insatisfatórias. Mas a dor que você experimenta agora é muito mais a dor presente da insatisfação, causada pelos seus padrões improdutivos. Você não pode distinguir isso conscientemente e não pode sequer ter consciência da dor infantil original. Pode ser preciso muito tempo e muita auto-observação para chegar mesmo a distinguir a dor. Depois que o fizer, você verá que a dor mais aguda é o seu desespero com a sua vida e com você mesmo agora, e não no passado. Este é importante somente porque ele fez com que você instituísse os modos improdutivos responsáveis pela sua dor atual.
Se você não fugir da dor, mas a enfrentar, passar por ela, tomando consciência do seu significado, você vai se dar conta de que as suas necessidades atuais não satisfeitas provocam a dor. Sua frustração será com a sua inviabilidade atual para produzir satisfação. Você ainda não é capaz de ver o que pode fazer a esse respeito, sentindo-se preso na sua própria armadilha, incapaz de enxergar a saída e, assim, ficando dependente de intervenção exterior, sobre a qual não tem nenhum controle. Só depois de ter corajosamente se tornado consciente de todas essas impressões e reações é que você gradualmente verá uma saída e, portanto, diminuirá o seu desamparo e aumentará a sua força independente e o seu tirocínio.
Numa palestra anterior nós discutimos as necessidades humanas. Ante que você descubra as suas várias 'camadas protetoras', você não pode nem ao menos ter plena consciência das suas necessidades reais.Você pode conhecer algumas das suas necessidades irreais, superpostas, mas só após uma compreensão mais completa de si mesmo é que você se torna gradualmente consciente das necessidades básicas, nuas, que você mantinha reprimidas. Quando você experimenta a dor antes de cruzar o limiar para a maturidade emocional e padrões produtivos, você tem a possibilidade, se assim escolher, de ficar precisamente consciente dessas necessidades. Isso é inevitável se você deseja sair do seu presente estado de viver improdutivo.
A medida que passa pelo processo de tomada de consciência das suas necessidades e da frustração causada pela sua insatisfação, você descobrirá primeira a imperiosa necessidade de ser amado exatamente como a crinaça precisa receber amor e afeição. Contudo, não se pode dizer que a necessidade de ser amado é infantil e imatura. Só é assim que a pessoa adulta trancou a sua alma e se recusou a crescer em sua própria capacidade de dar amor, de forma que a necessidade de receber permanece isolada e também encoberta. Através dos seus padrões destrutivos você empurrou a sua dolorosa necessidade de receber amor para o inconsciente. Devido a essa falta de consciência e aos seu mecanismos de defesa de várias espécies, a sua capacidade de dar jamais pôde crescer no interior da sua psique.
Todavia, durante todo o trabalho que temos feito, você não apenas se tornou consciente de tudo isso que estava oculto, mas, como eu disse antes, você começou a dissolver certos níveis nefastos. Isso, como que inadvertidamente, fez com que a sua capacidade de dar amor emergisse, mesmo que você não possa ainda se dar conta disso, de forma completa. Ao encontrar a dor, você realmente experimenta a tremenda pressão das suas necessidades. Por um lado, você encara a necessidade de receber, que continua insatisfeita enquanto os padrões destrutivos prevalecem. É preciso algum tempo para conseguir a força necessária e o tirocínio requerido para produzir a satisfação da necessidade de receber. Por outro lado, a necessidade de dar não pode encontrar um escoadouro até que esse estágio seja atingido. Assim, uma dupla frustração é causada - e isso gera uma tremenda pressão. É uma pressão que é tão dolorosa. Ela parece parti-lo em pedaços." ... continua.
(Eva Pierrakos e Donovam Thesenga - Não Temas o Mal - Ed. Cultrix, São Paulo, 1993 - p. 111/113)
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