"(...) Alguém de espírito crítico poderá arguir que conhece indivíduos que são ateus e, no entanto, vendem saúde. Assim como existem carolas, neurastênicos, irascíveis, estressados, sofrendo de úlceras, aerofagia, asma, insônia... É certo que muitos que parecem religiosos andam por aí como verdadeiros 'poços de doença', em contraste com 'materialistas' cheios de saúde e paz.
Como reconhecer tal verdade e ainda manter a tese de que saúde e paz são riquezas dos que mais amam a Deus e O servem? Para começar, é preciso definir o ateu.
Costuma-se dizer que ateu é aquele que diz não acreditar em Deus. Entretanto, conheço muitos que negam existir Deus, mas vivem como o melhor dos crentes. Efetivamente existem 'santos ateus'. Conheci um assim. Dr. Luis Antônio dos Santos Lima, natalense, médico dos cancerosos, inteiramente devotado ao serviço inegoístico (Karma Yoga) e seu mais ardente desejo era encontrar Deus, mas um Deus que não aquele que tem sido ensinado ao público. Ele queria um Deus que escapasse ao antropomorfismo, e, com isso, parecia ateu.
Sri Ramana Maharshi foi um divino santo da vedanta. Sidharta, o Buda, é considerado um avatar, isto é uma encarnação da própria Divindade. Vedanta e budismo são escolas de ascetismo ateu. Existem santos, que, por muito amor a Deus, não aceitam Deus, aquele que os homens conceberam. Muitos sábios silenciaram sobre um Deus pessoal, preso ao tempo, às formas e aos nomes. Não definiram nem descreveram Deus. A meta de um vedantino é mukti e a de um budista, o nirvana, e para ambos o meio de alcançar tal libertação é a iluminação. Esta não se consegue sem uma disciplina muito austera, que lhes dá a aparência religiosa. Seriam portanto, religiões sem Deus, pelo menos um Deus tecido pela mente humana.
Quando se é ateu, se é em relação a determinado Deus, a um Deus concebido por uma mentalidade primitiva. É-se ateu, às vezes, por sábia insatisfação. À medida que se galga um maior grau de consciência, as noções mais primitivas que se fazem da Divindade vão sendo deixadas para trás, para as mentes que ainda as aceitam. E as noções mais altas, as mais libertadoras e grandiosas, as menos antropomorfizadas vão sendo alcançadas somente pelos que mais se aprofundam em ciência, em filosofia e meditação. (...)"
(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 165/167)