"(...) Se você examinar as dores que lhe sobrevêm dia sim, dia não, logo perceberá que boa parte delas é emocional ou mental e não física. E mesmo em se tratando de for física, costumamos agravá-la com toda espécie de preocupações que nos fazem penar muito além dos efeitos de nossa condição corporal.
Buda viu tudo isso com bastante nitidez. As Quatro Nobres Verdades esclareceram o que os psicólogos só agora começam a considerar a causa do sofrimento humano: nossa fixação mental em crenças, apreensões e fantasias suscitadas pelo medo. Depois de cuidadoso exame, constatamos que o ímpeto de fugir ao sofrimento é diretamente responsável pela maior parte de nossas ansiedades e desejos. Só quando estamos sofrendo é que reagimos tentando fazer algum coisa para nos sentirmos melhor.
Depois de banir o medo subjacente, eliminamos a ansiedade. E depois de eliminar a ansiedade, modificamos nossa situação - nossa mente se aquieta, nossa percepção se apura, nosso coração se abre... e nosso espírito adeja.
Aqui, o desafio consiste em fazer pausas regulares para meditar, sintonizar a respiração... o coração... a presença no aqui e agora... e, sem julgamentos, observar-nos no instante atual, reparando nas emoções que sentimos e nos pensamentos, atitudes e crenças que as engendram. Podemos então ver claramente que essas atitudes e crenças nos estão fazendo sofrer. E, obtida essa constatação, decidimos renunciar a elas.
Tal é o processo curativo e, como Buda enfatizou repetidamente, tudo o que ele requer é uma visão direta e uma aceitação honesta do que descobrimos. Visão e aceitação por si sós geram mudança, capacitando-nos a acolher a realidade porque seria insensato combatê-la. Nessa aceitação, podemos abrir nosso coração para o mundo que nos cerca e permitir que a compaixão flua livremente..."
(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2004 - p. 95/96)