Quando a consciência é inocente, há menos impureza a obstruir a luz, e sente-se a beleza mais profundamente. Pensamentos ruins, preconceitos e ideias preconcebidas fazem a vida parecer enfadonha e árida. A inocência de uma criança é um complemento à beleza; nessa inocência, há também virtude. A verdadeira virtude é a beleza da luz divina se irradiando do nosso interior.
As palavras de uma canção ou o tema de um quadro não tornam a arte religiosa. Para ser verdadeiramente religioso, devemos abandonar o desejo de estar numa forma individual e fluir para a beleza do universal. Sem sensibilidade para o universal, podemos estar engajados não apenas em um ritualismo vazio, mas também em formas de arte vazias. As formas podem ser tecnicamente excelentes, mas não contêm a essência da arte, e portanto não possuem a qualidade religiosa.
O princípio da verdade não pode ser captado enquanto a mente estiver poluída com desejos e atividades autocentradas. Só quando estamos livres do desejo a virtude pode penetrar em nosso coração. Então temos uma visão da totalidade, que é a verdadeira religião.
Para que a virtude possa surgir, tudo o que é supérfluo deve ser removido. Assim como o escultor desbasta o mármore para revelar uma forma, devemos desbastar o que foi acrescentado à nossa natureza, até que emoções e pensamentos sejam puros e inocentes. Krishnamurti chamava isso de austeridade; ele dizia que austeridade é 'a simplicidade da mente purgada de todo conflito, que não está presa ao fogo do desejo, mesmo o desejo mais elevado. Sem essa austeridade não pode haver amor'.
A religião da beleza é o caminho para a pureza e a harmonia com tudo. Isso significa virtude e amor. Com uma mente silenciosa e o coração aberto ao grande oceano da vida, com todas as suas belezas, nenhuma outra religião é necessária."
(Radha Burnier - A religião da beleza - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 6)