"Este termo, que
literalmente significa o lugar a morada do desejo, é como já foi indicado, uma
parte do plano astral, não uma região separada do resto do plano, como se fosse
uma localidade distinta, mas caracterizada pelas condições de consciência das
entidades que ali se encontram¹.
São aqueles seres humanos privados de seus corpos físicos pela morte, e
destinados a passar por certas transformações purificadoras antes que possam
entrar na vida pacífica e feliz que pertence ao homem propriamente dito, isto
é, à alma humana.²
Esta região representa e engloba as
condições atribuídas aos diferentes estados intermediários, infernos e
purgatórios, que todas as grandes religiões consideram como a residência
temporária do homem após o abandono de seu corpo físico e antes de atingir o ‘céu’.
Não inclui nenhum lugar de tortura eterna, porque o inferno eterno, no qual
acreditam alguns fanáticos, é apenas um pesadelo de ignorância, ódio e medo. Mas
esta região compreende, na verdade, condições de sofrimento, temporárias e
purificadoras em sua natureza, experimentadas pelo homem quando elabora as
causas postas em ação durante a sua vida física; essas condições são tão
naturais e inevitáveis como quaisquer efeitos causados neste mundo pela nossa
ação errada, porque vivemos em um universo de lei e cada semente deve
frutificar conforme a sua natureza. A morte em nada altera a natureza mental e
moral do homem, e a mudança de estado que se dá na passagem de um mundo para
outro apenas elimina o corpo físico, sem tocar no resto de sua natureza. (...)
Quando o corpo físico é abatido pela morte, o duplo
etérico, arrastando consigo prana e acompanhado de todos os outros
princípios, isto é, o homem completo, com exceção do corpo denso, retira-se do ‘tabernáculo
da carne’, termo que designa admiravelmente o invólucro exterior do ser. Todas
as energias vitais que irradiavam para o exterior são reconduzidas para o
interior e ‘recolhidas’ por prana, e esse recolhimento se manifesta pelo
entorpecimento que invade os órgãos físicos dos sentidos. Os órgãos estão lá,
como sempre, prontos para entrar em atividade, mas o ‘Regente Interno’ está
indo, ele que, por meio deles, via, ouvia, tocava, sentia; entregues a si
mesmos são simples agregados de matéria, matéria viva, é verdade, mas sem
nenhum poder de ação perceptiva. Lentamente o senhor do corpo se retira,
envolto no duplo etérico violeta cinza, e absorto na contemplação do panorama
de sua vida passada, que se desenrola diante dele, na hora da morte, completo
até nos menores detalhes. Neste quadro estão todos os acontecimentos de sua
vida, grandes e pequenos. Vê suas ambições realizadas ou falidas, seus
esforços, triunfos, derrotas, amores e ódios. A tendência predominante do
conjunto surge claramente, o pensamento diretor da vida se afirma e se imprime
profundamente na alma, assinalando a região onde passará a maior parte de sua
existência póstuma. Solene é o momento em que o homem, frente a frente de sua
vida, ouve sair dos lábios do seu passado o vaticínio de seu porvir. Durante um
breve período de tempo, ele se vê tal qual é, reconhece a finalidade de sua
vida e adquire convicção de que a Lei é poderosa, justa e boa. Em seguida, o
laço magnético entre o corpo denso e o duplo etérico se rompe; assim
se separam os dois associados de uma vida inteira, e salvo casos excepcionais,
o homem cai numa plácida inconsciência."
(Annie Besant - A Sabedoria Antiga - p. 53/55)