"Traduz-se por testemunha silente. Um dos meios de pairar acima dos acontecimentos é essa posição difícil de espectador vigilante, mas distanciado. Quando você pratica a
purgação mental está exercitando
sakshi. Está desenvolvendo essa capacidade de não se deixar contaminar pelo que acontece. É como ficar sentado na margem para assistir ao livre fluir da corrente.
A desidentificação só é acessível aos que são capazes de se manterem imunes sem renunciar ao mundo ou dele fugir, mas, ao contrário, nele viver ativa e produtivamente. Os incapazes de praticar sakshi se diluem dentro do processo mundano. Perdendo a consciência do que são e sem poder salvar um pouco de autenticidade para si mesmo. O homem vulgar é comumente um diluído dentro do ambiente em que se encontra. O mundano o ameaça, distrai, alegra, contamina, fascina, absorve e consome. Dele pouco sobra de verídico e imune. É visando a evitar o contágio, e a defender sua mente, seu caráter, suas virtudes, que alguns místicos se fazer eremitas e fogem para o ermo. Quem desenvolve essa sadia atitude espiritual e psicológica chamada sakshi atingindo a isenção, não obstante vivendo em contiguidade física com o mundano, fica, espiritualmente, à parte. Não se perde. Não se confunde. Não se identifica. Não se corrompe.
Sri Ramakrishna compara a personalidade fraca que se dilui no mundo com o leite que, se misturando com a água, é impossível separar. Aquele que tem maturidade espiritual, ele compara com a manteiga, que mergulhada na água, não se mistura.
Quando a pessoa está metida num cordão de carnaval, confundida com os outros, dança, canta, pratica uma série de saracoteios que, se estivesse sóbria, não faria. Enquanto está misturada com os foliões é apenas um deles, e age como eles. Somente depois que se afasta, e, a distância, considera o que vê os outros fazendo, só então, tem uma ideia do que andou também a fazer. (...)"
(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 153/154)