OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


Mostrando postagens com marcador desejo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desejo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 20 de março de 2025

PAIXÃO E AMOR (1ª PARTE)

"(...). '907. Será substancialmente mau o principio originário das paixões, embora esteja na natureza?

"Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.'


O desenvolvimento da afetividade decorre do amadurecimento psicológico do ser que cresce, a esforço moral, ampliando a capacidade de entendimento emocional e cultural. Nem sempre, porém, resulta da aquisição de cultura, mas sim da perfeita harmonia entre sentir e saber, de modo que se possam evitar os distúrbios que, não raro, surgem durante o processo de evolução.

A afetividade é de incomparável necessidade para a afirmação dos sentimentos e da consciência humana, em razão da constituição espiritual, emocional e psíquica de que todos são constituídos.

Quando irrompem as emoções em catadupas, ante o encontro com outra pessoa, que produz impacto de alta expressão, que se transforma em desejo, esse não é um real sentimento de amor, mas sim de paixão. A paixão, invariavelmente, é um fenômeno de transferência psicológica, mediante o qual o indivíduo se deslumbra por si mesmo, refletido naquele que o atrai e lhe provoca encantamento. A sua porção feminina, quando se trata de um homem, ou masculina, quando seja mulher, expressa nos conteúdos psicológicos anima e animus, é projetada para o outro, que passa a habitar uma galeria mitológica, tornando-se um alguém irreal que necessita ser conquistado. 

Todo o empenho é desenvolvido para consegui-lo, e os estímulos orgânicos se tornam poderosos em face da atração magnética de ordem sexual que é experienciada, atuando de maneira a levar o apaixonado a triunfar sobre a sua presa que, adorada, sintetiza todas as ambições e necessidades do conquistador. É semelhante às ocorrências do mesmo gênero no panteão mitológico dos deuses. O ser humano, no entanto, não é deus algum, mas ser com sensibilidade e sentimentos comuns...

No começo o relacionamento é intenso, a admiração é constante, porque a imagem projetada inspira todo esse encantamento e interesse.

À medida, porém, que a convivência demitiza o sobrenatural da afetividade desequilibrada, a realidade assume o inevitável papel de controle das emoções, e o despertamento traz o desencanto e a amargura que passam a conviver com os parceiros, quando não o desentendimento, a agressividade, a violência, o crime...

Normalmente, após o estabelecimento de qualquer fenômeno de paixão afetiva, surgem o acordar da consciência e o conflito de comportamento, que levam a sofrimentos que poderiam ser evitados, caso se houvesse agido com equidade e maturidade psicológica.   

Esse tipo de arrebatamento que conduz ao imaginoso, à fantasia, ao mítico, atribuindo virtudes e belezas a outrem, que os não possui, de um para outro momento, é como o fogo fátuo, de efêmera duração, sendo efeito da combustão de gases que evolam dos cemitérios e pântanos, que brilham e logo desaparecem...

Nessa projeção de belezas com promessas de felicidade perene, em breve tempo sucumbem as aspirações cultivadas e logo surgem os conflitos perturbadores, que também são reflexos da personalidade atribulada e insatisfeita, que busca prazeres sexuais e outros, distante das emoções enriquecedoras e de alto significado.

Esse tipo de busca - a do sexo sob impulsos de desordenadas aspirações do prazer - não satisfaz, deixando sempre um sentimento de culpa, quando não se dá também o de frustração, que envilece e amargura.

Raramente se transforma em motivo de aprimoramento moral, porque o indivíduo se escraviza e se entrega, perdendo a sua realidade, quando se prolonga por algum tempo mais esse tipo de chama abrasadora.

As consequências são sempre infelizes. A história da literatura oferece exemplos muito significativos que merecem reflexão.(...)." 

Texto extraído do livro "Lições para a Felicidade", de Divaldo Franco/Joanna de Ângelis, Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador/BA, 2003, p. 151/153.
Imagem: Pinterest


quinta-feira, 6 de março de 2025

O ÚNICO DESEJO BOM

"Tudo isso é simples; é necessário somente que compreendas. Há, porém, algumas pessoas que renunciam à busca de objetivos terrenos somente com o intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos renascimentos; neste erro não deves cair. (§23)

C. W. L. - É principalmente na Índia que se encontra o desejo de libertação pessoal dos renascimentos, porque a maioria das pessoas lá acreditam na reencarnação. Para o cristão comum, o céu é também uma libertação da Terra. Estas instruções foram dadas a um menino indiano; portanto, antes e acima de tudo elas se referem às condições indianas, embora as ideias possam também ser aplicadas ao nosso mundo ocidental. Nós, teósofos, não estamos particularmente propensos a fazer esforços violentos para obter a felicidade do mundo céu, no qual os homens passam centenas e até mesmo milhares de anos entre encarnações. Muitos de nós prefeririam retornar rapidamente para trabalhar na Terra, e isso é possível àqueles que realmente o desejam. Para isto, porém, é preciso uma certa quantidade de força, já que, então, devemos transportar os mesmos corpos mental e astral para o novo corpo físico.

Não é que o corpo astral e o corpo mental sejam capazes de fadiga, como o cérebro físico. Existe, no entanto, outra consideração: os corpos astral e mental que possuímos nesta vida são as expressões de nós mesmos como éramos ao final da última encarnação. À medida que seguimos pela vida nós os modificamos consideravelmente, mas isso não pode ser feito além de um certo ponto. Existe um limite ao qual, por exemplo, um automóvel é suscetível de ser consertado, e muitas vezes é melhor comprar um carro novo do que reformar o antigo. É quase que a mesma coisa com os corpos astral e mental. Uma mudança radical neles levaria muito tempo, e, no final das contas, poderia talvez ser apenas parcialmente realizado. Se as capacidades do homem nesta vida foram grandemente aumentadas, pode ser melhor para seu progresso que ele obtenha um novo corpo astral e mental para se expressar, em vez de tentar remendar e alterar o corpo antigo. Portanto a encarnação rápida não é sempre algo impraticável. Contudo, podemos ver que qualquer pessoa que tenha trabalhado bem nesta vida e tenha sérios desejos de passar por uma encarnação imediata, para continuar no serviço, pode ser capaz de realizar seus desejos.

Existe um prosseguimento da vida após a morte que é comum a todos os homens, e para aqueles que passam por isso não há necessidade de fazer qualquer ajuste especial; mas se o homem deseja evitar isso, ele tem que fazer o que equivale a um pedido, ou tem de ser feito por ele. Tem de ser submetido a uma autoridade superior, que pode dar permissão se essa autoridade pensar ser desejável; mas é quase certo que Ela vá recusar se não pensar que esteja nos melhores interesses da pessoa. Entretanto acredito que aqueles que estão ansiosos sobre este assunto devem repousar suas mentes, pois aqueles que trabalharam bem, certamente terão agora oportunidades futuras de continuar esse trabalho. O homem que deseja a reencarnação rápida deve tornar-se indispensável, de modo que será conhecido como alguém que seria útil se retornasse imediatamente. Esta também, consequentemente, é a melhor maneira de ajustar os corpos mental e astral à condição necessária."

Annie Besant/C. W. Leadbeater, A Senda do Ocultismo, Comentários de Aos Pés do Mestre, Vol. ', Ed. Teosófica, Brasília, 2022, p.159/161.
Imagem: Pinterest

                  

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O SEGREDO DA FORÇA

“Força para avançar é a principal necessidade daquele que escolheu esta senda. Onde encontrá-la? Olhando em volta, não é difícil ver onde outro ser humano encontra sua força. Sua origem está em sua profunda convicção. Através desse grande poder moral, aquilo que o capacita a prosseguir, e que ele conquista, por mais frágil que seja, é trazido à luz em sua vida natural. Conquistar o quê? Nem continentes nem os mundos, mas a si mesmo. Por meio dessa vitória suprema obtém-se a entrada no Todo, onde tudo o que pode ser conquistado e obtido por esforço se converte ao mesmo tempo, não em algo, mas em si mesmo.

Colocar armaduras e sair para a guerra, tendo as chances de morte, na pressa de lutar, é uma coisa fácil; permanecer quieto em meio ao balanço do mundo, para preservar a quietude do tumulto do corpo, para manter silêncio em meio aos milhares de gritos dos sentidos e desejos, pegar a serpente mortal do self e matá-lo, estando despojado de toda a armadura e sem pressa ou excitação, não é uma coisa fácil. No entanto, é isso que deve ser feito; e isso apenas pode ser realiza- do no momento de equilíbrio, quando o inimigo está desconcertado com o silêncio.

Para esse momento supremo é necessária uma força tal, como a que nenhum herói do campo de batalha necessita. Um grande soldado deve ser preenchido com as profundas convicções da justiça de sua causa e da correção de seu método. O indivíduo que combate contra si mesmo e vence a batalha, somente age dessa forma quando sabe que é algo que vale a pena ser feito e que assim agindo, ele ganhará o céu e o inferno como seus servos. Sim, ele permanece em ambos. Ele não precisa de um céu onde o prazer vem como uma recompensa há muito prometida; ele não teme o inferno onde a dor espera para puni-lo por seus pecados. Pois ele conquistou, em si mesmo, uma vez por todas, aquela serpente que se move de um lado para o outro em seu constante desejo de contato, em sua busca perpétua por prazer e dor. Nunca mais (uma vez que a vitória foi alcançada) tremerá, ou crescerá exultante com qualquer pensamento acerca do que o futuro lhe reserva. Aquelas ardentes sensações, que pareciam ser as únicas provas de sua existência, não mais lhe pertencem. Como, então, saber que vive? Sabe apenas por argumentos. E, com o tempo, não cuida sequer de arguir acerca do mesmo. Para ele, então, há paz; e nela encontrará o poder cobiçado. Então conhecerá essa fé que remove montanhas.” 

Mabel Collins, Através dos Portais de Ouro, Ed. Teosófica, Brasília, 2019, p. 107/109.
Imagem: Pinterest




quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

CRISE E OPORTUNIDADE

“Ainda estamos atrasados em nossa evolução espiritual? Seria razoável essa nossa maneira de ser? Um progresso científico extraordinário e uma ética questionável!

Nossos desejos são insaciáveis, não importa em que nível. Olhamos à nossa volta e não aceitamos a realidade. Porém agimos sem considerar as consequências, e quando elas se apresentam ficamos surpresos e reclamamos. Parece-nos estranho conviver com o Bem, o Bom e o Belo.

A vida é cheia de ilusões. Uma delas é a de que existe algo permanente.

Ninguém muda ninguém, a não ser a própria pessoa e a partir de sua vontade e consciência. Tente mudar a si mesmo, se for esse o caso. A dor é o aguilhão que nos impele à mudança. Mas mudar em quê? Como saber?

Os maiores Mestres da humanidade nos deixaram sugestões há séculos e até milénios. Até agora, em vão. Olhar para fora é fácil. Difícil e oportuno é olhar para dentro de nós, para ver quem somos, o que sentimos e como pensamos. Autoconhecimento, sem julgamento.

Valorizamos excessivamente o dinheiro e bens materiais em geral. Nossa sociedade só pensa nisso. Quanta pobreza!

Crise e oportunidade estão ligadas. Que esse momento seja útil para descobrirmos quem realmente somos e qual o principal motivo de termos nascido agora, neste país e nesta família. Será que nascemos para fazer só isso que temos feito até aqui? “

Escrita Divina, A comunicação da alegria, de Fernando Mansur, Edição do Autor, 2017, p. 131.
Imagem: Pinterest

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

DEFINIÇÃO DE VIRTUDE E VÍCIO

"Do que foi visto até agora, conclui-se imediatamente que as virtudes e os vícios da humanidade são apenas as Emoções se tornando permanentes e abrangentes: são apenas estados de humor da mente (no sentido do desejo), permanentes ou habituais, guiando modos de ação, geralmente em relação aos outros. No caso dar virtudes elas são Emoções do lado do Amor; no caso dos vícios, aquelas do lado do Ódio. Por exemplo, a emoção do Amor, originalmente sentida em relação a um círculo pequeno, por razões pessoais especiais, laços de sangue, etc., se torna a virtude do amor (amorosidade, cordialidade, uma natureza afetuosa, benevolência) quando sentida em relação a todos com quem se tem contato, reconhecida (deliberada ou instintivamente) como uma obrigação devida a cada um e baseada na ideia básica da Unidade do Eu. A emoção do amor parental, sentida pelo filho, se torna a virtude da compaixão, da ternura e proteção, quando exercitada em relação a qualquer um que seja inferior ou desamparado. Por isso, o Manu oferece ao homem considerar todas as mulheres mais velhas como suas mães, todas as pessoas jovens como seus filhos, ampliando a Emoção pessoal em sua virtude correspondente. Por isso, também, uma descrição budista do Arhat fala de seu amor como infinito, abarcando a todos, considerando todos como uma mãe considera seu primogênito. Por isso, novamente, uma escritura cristã diz que 'amor é o cumprimento da lei', já que todo esse dever pode se estabelecer como virtude, o amor se derrama espontaneamente em sua medida mais plena. Assim, do outro lado, ataques passageiros de raiva, ou desprezo, se tornando habituais, compõem o vicio da irritação, ou malevolência. Assim, então, nós vemos que se um homem age com todos como com seus próprios, sob o balanço do amor, ele será um homem virtuoso; se ele se comporta em relação aos outros geralmente como o faz em relação aos objetos especiais de seu desgostar, ele será perverso. Nós podemos corretamente dizer, então, que virtudes são Emoções do lado do Amor, vícios aquelas do lado do ódio. Tanto realmente é assim, que mesmo sem que isso seja claramente reconhecido, a mesma palavra muitas vezes denota tanto uma emoção particular quanto a virtude ou vício correspondente a ela; por exemplo, compaixão e orgulho. Basta apenas nomear as Emoções correspondentes e as virtudes e os vícios lado a lado, respectivamente, para mostrar de vez a verdade da afirmação feita acima. (...)"

Bhagavan Das, A Ciência das Emoções, Ed. Teosófica, Brasília, 2023, p. 77/78.
Imagem: Perintest

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

ENTRAR EM CONTATO COM O MEDO

"Há o medo físico. Quando você vê uma cobra, um animal selvagem, instintivamente sente medo. Esse é um medo normal, saudável, natural. Além de medo, é um desejo de se proteger - e isso é normal. Mas a proteção psicológica de si mesmo - ou seja, o desejo de estar sempre seguro gera medo. Uma mente que busca sempre estar segura é uma mente morta, porque não há certeza na vida, não há permanência... Quando você entra em contato direto com o medo, há uma resposta dos nervos e de todo o resto do corpo. Quando a mente não está mais escapando por meio de palavras ou de qualquer tipo de atividade, não há divisão entre o observador e a coisa observada como medo. Só a mente que está escapando se livra do medo. Mas quando há um contato direto com o medo, não há observador, não há uma entidade que diz: 'Estou com medo'. Então, no momento em que você está diretamente em contato com a vida, com qualquer coisa, não há divisão - é ela que gera a competição, a ambição, o medo. 

Portanto, o importante não é como se livrar do medo. Se você busca uma maneira, um método, um sistema para se livrar do medo, estará permanentemente preso a ele. Mas se entende o medo o que só pode ocorrer quando você entra diretamente em contato com ele, como quando está em contato com a fome ou ameaçado de perder o emprego, então você faz algo: só então descobrirá que todo medo termina (todo medo, não apenas este ou aquele tipo)."

Krishnamrti, O Livro da Vida, Ed. Planeta do Brasil Ltda. 2016, São Paulo, p. 106.
Imagem: Pinterest.

 

quinta-feira, 27 de junho de 2024

FRUTOS

"Desejos - ações - frutos das ações - o Karma não é punitivo, é educativo. À medida que o tempo passa, vamos experimentando os efeitos de nossas ações. Segundo essa lei de ação e reação, tudo que fazemos produz resultados. Somente boas dão bons frutos; os erros também trazem consigo suas consequências.  

Diz um provérbio árabe que nosso destino vem amarrado ao nosso pescoço. Não há como fugir dele. Mas se o destino já vem conosco, onde fica o livre-arbítrio? E onde e quando foram geradas as causas embutidas no fardo que trazemos para esta vida?

Isso sugere a possibilidade de um passado do qual podemos não ter lembrança, ou de algum propósito de Deus para nós.

Porém, como foi dito no início, não se trata de castigo e sim de uma oportunidade de correção de rumo e chances de regeneração. Aí entra o livre-arbítrio: qual a direção que vamos tomar agora? Que rumo vamos dar à nossa existência? 

Podemos começar, purificando nossa mente com bons pensamentos, os quis geram bons sentimentos e ações ponderadas e sensatas. É um aprendizado diário. Precisamos de confiança e perseverança, até que brilhe em nós a Joia Suprema do Discernimento. 

Discernimento, desapego, boa conduta e contentamento. Como sugere o livro 'Aos Pés do Mestre'.

Estamos juntos nesse barco!

Vamos!"

Fernando Mansur, Escrita Divina, Edição do Autor, 2017, p. 116.
Imagem: Pinterest.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

LIBERTAÇÃO

"O fim da longa estrada para a libertação é o coração do próprio homem. Se ele ao menos soubesse que ele e a senda são um! Quando do animal ele se torna uma alma, o mistério da consumação final está entretecido em tudo o que ele pensa, sente e faz, mesmo em seu primitivo estágio como selvagem. Pois ser uma alma significa que cada dia ele se aproxima mais da Libertação, como resultado do seu esforço.

O esforço para a Libertação é mostrado no instinto da criação que está em todos os homens. Mesmo o selvagem deseja simbolizar algo estranho ou assustador, algo novo. O homem civilizado é sempre um criador com seus sentimentos, pensamentos e ações. Pois, à medida que a alma evolui estágio a estágio, ela se torna um cadinho mais das energias da vida; torna-se o solo para nutrir as sementes da maravilha divina. Cada faculdade que ele aperfeiçoa é o ventre onde está crescendo uma criança cujos lábios transmitirão uma mensagem de salvação. Até que o ventre expila aquilo que nutriu, a alma fica inquieta e ansiosa. A dor termina quando a criança nasce, e a imaginação pode colocar-se à parte de sua criação. Onde o maior número está empenhado na criação, aí está a melhor civilização.

Quando a alma se liberta da servidão do desejo, a libertação está próxima. Essa libertação começa quando ela dedica seus dons à criação. Algo novo deve ser acrescentado dos recessos da alma à vida comum dos homens. Uma alma criará um hino, um discurso, um poema; outros criarão com pintura e escultura, com arquitetura e música, com dança e canção. A alma anseia e suspira por criar algo grande e nobre; coração e mente são levados a ações de oferecimento. O tamanho não importa; uma pequena ação amorosa, mesmo que seja um sorriso amistoso, contém a mesma grandeza que o dom da própria vida. A piedade que o amor envia conduz então à criação, e a alma não consegue repousar até que grandes planos de regeneração social sejam realizados, e consequentemente as misérias do homem sejam diminuídas. A alegria que a vida envia conduz à criação, e a alma deve simbolizar algo belo para inspirar os homens. A paz que a sabedoria envia leva à criação, e a alma deve abrir novas sendas para homens com novas filosofias e ciências. Ninguém consegue trilhar a senda para a Libertação até que saiba como criar. Pois Libertação significa que os muitos tornam-se o Um, e somente treinando cada faculdade do espírito, para criar em cada plano de vida, consegue o homem, a unidade, entender sua misteriosa identificação com o Todo. 

Como a alma irá criar? - Você pergunta. Mas o propósito da vida, quando a alma está liberta do desejo, é ensinar a arte da criação. Cada grito de dor, quando sob a escravidão do desejo, tem em si, em algum lugar, um elemento de sabedoria ou beleza para outrem. Quando a alma é livre, ela vê a mensagem para os outros em sua própria dor. Embora o homem jamais consiga salvar a si próprio, contudo ele sempre pode salvar outros. A mensagem oculta de cada dor é que o destino do homem é ser um salvador do mundo."

C. Jinarajadasa, Libertação, Editora Teosófica, Brasília, 2022, p. 55/58.
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 13 de junho de 2024

CAUSAS ATUAIS DAS AFLIÇÕES (1ª PARTE)

"4. As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou se quisermos, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir. Uma têm sua causa na vida presente: outras fora desta vida. 

 Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e da conduta dos que os suportam.

Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder ou por não terem sabido limitar seus desejos!

Quantas uniões infelizes, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade, e nas quais o coração não tomou parte alguma! 

Quantas dissensões e disputas funestas se teriam evitado com mais moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!

Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram as más tendências desde o princípio! Por fraqueza ou indiferença deixaram que neles se desenvolvessem os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem com a sua falta de respeito e a sua ingratidão. 

Que todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida interroguem friamente suas consciências; que remontem passo a passo à origem dos males que os afligem e verifiquem se, na maior parte das vezes, não poderão dizer: Se eu tivesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante situação.

A que, portanto, deve o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios, mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a chance desfavorável, a má estrela, quando sua má estrela está na sua própria incúria. 

Os males dessa natureza fornecem, seguramente, um notável contingente nas vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar pelo seu aprimoramento moral, tanto quanto o faz pelo seu melhoramento intelectual."

Texto extraído do livro "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, Ed. FEB, Brasília, 2018, p. 74/75.
Imagem: Pinterest. 


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

AS LEIS DIVINAS FUNCIONAM INFALIVELMENTE

"Uma oração forte e profunda receberá resposta certa de Deus. Mas, se você não fizer um esforço sincero para orar, certamente não sentirá resposta alguma. Em uma época ou outra da vida, todos nós já tivemos algum desejo atendido pela oração. Quando a vontade é muito intensa, toca o Pai, que concede a realização do desejo. Quando 
Ele quer, toda a natureza toma conhecimentoDeus realmente responde quando você ora profundamente, com fé e determinação. Às vezes, responde plantando um pensamento na mente de alguém, que o capacita a realizar seu desejo ou necessidade; esse indivíduo servirá de instrumento divino para produzir o resultado desejado. 

Você nem imagina quão maravilhosamente funciona este grande poder; é matemático, infalível, sem condicionamentos. É isso que a Bíblia chama de fé: a prova das coisas que não se veem. 

Se praticar a presença de Deus, saberá que o que digo é verdade. Volte-se para Deus; ore e clame por Ele, até que Ele revele como funcionam Suas leis e lhe dê orientação. Lembre-se: melhor do que raciocinar um milhão de vezes é sentar-se e meditar em Deus até ficar interiormente calmo. Então, diga ao Senhor: 'Eu não poderia resolver este problema sozinho, mesmo que tivesse um número ilimitado de pensamentos diferentes; mas posso resolvê-lo colocando-o em Tuas mãos, pedindo primeiro Tua orientação e, depois, indo até o fim sem deixar-me desviar ou abater, pensando nos vários ângulos de uma possível solução.' Deus realmente ajuda a quem se ajuda. Quando sua mente estiver calma e cheia de fé, após orar a Deus na meditação, você será capaz de vislumbrar várias respostas para os seus problemas; e como a mente está tranquila, você poderá escolher a melhor solução. Coloque-a em prática e terá êxito. Isto é aplicar a ciência da religião na vida diária."

Texto de Paramahansa Yogananda, extraído do livro "O Romance com Deus", da Self-Realization Fellowship, p. 41/42.
Imagem: Pinterest.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

A MENTE COMPASSIVA

"O propósito da evolução é permitir à consciência alcançar a perfeição na manifestação humana como seres altruístas, com as qualidades de amor e compaixão, à imagem da divina inteligência que é a fonte de toda a vida. O amor dessa inteligência é visível em toda a sua criação, criada com infinita compaixão. Isso fica evidente nas miríades de espécies de vida com as habilidades especiais que lhes foram fornecidas pela natureza para sua sobrevivência.

Mahavira, o grande instrutor e reformador do Jainismo, declarava que não bastava a não violência como credo. Ele estendia esse princípio à solidariedade e ao auxílio a outros seres vivos, para se viver naturalmente, de acordo com as leis da natureza. A Nova Era exige sensibilidade e compaixão, mantendo em mente a interconexão e interdependência da vida em todos os níveis.

No Nobre Caminho Óctuplo de Buda, o primeiro passo, Reta Visão, é considerado de vital importância. Isso significa a compreensão da unidade da vida e das leis que governam o universo, Buda ensinou que trishna, ou desejo, é a causa do sofrimento. Os seres humanos se prendem ao ciclo de vida e morte por meio de desejos incessantes que causam um imenso sofrimento. A ignorância do propósito da vida mantém as pessoas escravizadas.

A mente humana, condicionada por coisas como raça, religião, classe social, etc., está encurralada num modo preconceituoso de considerar o mundo. Para compreender esse condicionamento é necessário sabedoria para descobrir suas causas. Os preconceitos a respeito das pessoas são as causas da divisão que cria conflito e sofrimento. Com a percepção, esse condicionamento pode ser reconhecido e a pessoa pode se libertar dele.

A. P. J. Kaalam, ex-presidente da Índia, falando perante o Parlamento Europeu, citou o antigo poeta tamil Kaniyan Pungudranar: 'Eu sou um cidadão do mundo e todos os cidadãos do mundo são meus parentes e amigos. Onde há retidão no coração há beleza no caráter. Onde há beleza no caráter há harmonia no lar. Onde há harmonia no lar há ordem na nação. Onde há ordem na nação há paz no mundo.'

São necessários, portanto, corretos valores e corretas formas de educação que resultem em indivíduos responsáveis e compassivos. Há muita coisa errada numa sociedade baseada apenas em valores materiais. Não deveria haver sensibilidade e compaixão para compartilhar os limitados recursos do mundo com aqueles que são menos afortunados que nós? A extrema ganancia de políticos, patrões e outros, com suas práticas ardilosas, é responsável por muita iniquidade no mundo.

Essa doença é visível nos níveis individual, social e nacional do mundo. Há muito sofrimento no continente africano, que é explorado por seus recursos naturais e vida selvagem. O tráfico de 'diamantes de sangue' e outras pedras preciosas abastece as indústrias de armamento que fornecem armas para milícias e tribos inimigas. Essas práticas nefastas são responsáveis por assassinatos, estupros e saques.

Em diversas partes do mundo há extrema crueldade contra cães e outros animais, que são cozidos vivos para deleite de pessoas que apreciam esse tipo de culinária. Radha Burnier escreveu: 'Viver de maneira compassiva no mundo moderno dificilmente parece ser um ideal, já que atrapalha grandes e imediatos lucros de negócios e entra em conflito com a procura de novos prazeres e satisfações.'

Outra causa de conflito é a doutrinação religiosa, que cria sociedades intolerantes. No discurso que fez nas Nações Unidas, a jovem Malala Yousufzai enfatizou a necessidade da educação promover um pensamento liberal e a não violência, citando os exemplo de Buda, Cristo, Maomé, Gandhi e Pashtun Badshah Khan..

Para o mundo mudar, o individuo precisa mudar. Uma mente que tenha preocupação compassiva com o bem-estar global deve estar envolvida em ações proativas. Nelson Mandela disse: 'Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados. E de sermos poderosos além da conta. É a luz, e não as trevas que nos assusta. Quem sou eu para ser tão brilhante, talentoso e famoso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Brincar de ser pequeno não serve ao mundo... Nascemos para tornar magnifica a glória de Deus que que está dentro de nós.'"

(Bhupendra Vora - A Mente Compassiva - Revista Sophia, Ano 18, nº 87, p. 43)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 19 de maio de 2022

SENSUALIDADE E SUA CORREÇÃO

"A sensualidade (uma dificuldade do segundo, quarto e sexto raio) é a falha mais difícil de suportar. Para quem aspira trilhar a Senda, a condescendência ao excesso, sob qualquer forma, é uma doença insuportável para o coração. Traz em seu bojo uma profunda humilhação, irreverência, desrespeito e remorso. 

Para escapar das agonias desses efeitos posteriores, a princípio tentamos muitas vezes justificar nossa tolerância como liberdade de expressão, o direito de viver como queremos e com nossa emancipação das convenções restritivas. Isso é fundamentalmente um mecanismo de defesa, uma forma de encobrir a verdade sobre nós mesmos. Tal atitude produz uma cegueira mental que nos permite continuar tolerando nossas falhas, desafiando sem a dor ou os autocorretivos valiosos da humilhação, desrespeito e remorso. Com isso, a vida precisa nos levar a lidar conosco pelo método longo e doloroso de tentativa e erro e seus resultados desastrosos para a psique e para o caráter. 

Mas, quando a doença da autoindulgência nos ataca e é vista e aceita pelo que é, o desejo ou falha de conduta tendo sua satisfação negada e a condição da doença suportada incansavelmente, então os corretivos da sensualidade que vasculham a alma podem iniciar sua função de cura. Pois todas essas agonias acabarão ocorrendo, não apenas depois ou durante a condescendência, mas, eventualmente, antes que ela ocorra e, assim, se tornarão um seguro preventivo. Essas agonias são os 'ingredientes' com os quais a força moral e a fibra são incorporadas ao caráter. O pensamento e o forte desejo de pureza devem ser concentrados diariamente e a cada hora, a fim de substituir o desejo por sua virtude oposta. 

Da mesma maneira, outras fraquezas dos Raios podem ser trabalhadas e substituídas pelas maravilhosas virtudes opostas. Pelo princípio de substituir o erro pela virtude oposta, construímos nossa natureza imortal enquanto ainda estamos no corpo."

(Geoffrei Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 147/148)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 17 de maio de 2022

CAIR NA REDE DAS EMOÇÕES É ESQUECER DEUS

"Ser aprisionado pelo temor, pela ira, pela cobiça ou por qualquer outra emoção violenta ou impulsiva é esquecer Deus. Se seus sentidos, que governam as emoções, estão sob controle, você é um santo. Só você mesmo sabe se é senhor ou servo dos sentidos. Lembre-se: tudo o que domine o seu autocontrole leva à destruição do sistema nervoso. O guloso se alimenta e o homem de autocontrole também. O primeiro come demais para gratificar sensualmente seu corpo, mas o segundo come para manter seu bem-estar físico. Se o amor de uma pessoa se concentrar mais em Deus e menos nos sentidos, todo o abuso sensorial será vencido. Quando você for tentado, ore ao Senhor: 'Torna-Te mais tentador que a tentação. Por mais que me testes, Senhor, vou me agarrar a Ti.' O sistema nervoso, quando repleto de pensamentos de amor e paz por Deus, é recarregado pelo poder divino. Krishna disse: 'Quando chitta (o sentimento) fica absolutamente subjugado e tranquilamente estabelecido no Eu (a alma), diz-se que o iogue, desprovido assim de apego a todos os desejos, está unido a Deus'.²

As estrelas de cinema e outros artistas são considerados as pessoas invejáveis dos Estados Unidos. Por que, porém, a vida pessoal delas é tão frequentemente uma confusão de infelicidade e múltiplos divórcios? A maior parte dessas pessoas vive com a excessiva energia nervosa concentrada nos sentidos. Excesso de alimento, sexo promíscuo, intoxicação com bebidas alcoólicas e drogas - tudo isso produz uma contrafração da felicidade. Só em Deus encontramos a alegria sempre-nova, que jamais pode ser obtida por meio de qualquer dos sentidos. Se você está nas garras de qualquer abuso dos sentidos - seja qual for-, afirme continuamente sua liberdade: 'Não sou escravo deste hábito, meu amor por Deus é supremo e maior do que qualquer coisa."

² Bhagavad Gita VI:18.

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Felowship, 2014 - p. 87/88).


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER

"... 'O que um homem pensa ele se torna, pense, portanto, no eterno', diz a escritura hindu. É assim. Estamos construindo o nosso caráter, o tempo todo, pela natureza de nossos pensamentos habituais. Se continuarmos repetindo determinadas linhas de pensamento, formaremos hábitos mentais, pois, em certo sentido, nossa personalidade é gerada por nossos hábitos. Mas a Teosofia diz que podemos mudar nossos hábitos e, quando o fazemos, mudamos a nós mesmos. Nós literalmente nos tornamos novas criaturas. Uma das descobertas mais encorajadoras da psicologia moderna é que a pessoa pode formas novos hábitos em qualquer momento da vida. 

O que um homem pensa, ele se torna, e essa é uma parte importante do caminho para a autorredenção, a autocura, a autocorreção, pelo exercício de seus pensamentos. Consiste em uma operação inversa do mesmo processo pelo qual o hábito original foi formado. Se acharmos que temos um mau hábito, que ele está ficando mais forte, que está nos incomodando e que  é um sinal desagradável no ser humano, então há uma maneira pela qual podemos curá-lo. Se é algo sério, como raiva repentina ou irritabilidade aguda, não se concentre no problema, mas no seu oposto. O contrário da raiva é o amor, o domínio próprio, o equilíbrio. Todos os dias você terá que dedicar um quarto de hora. Você precisa pensar neste caso no amor, um amor completamente impessoal, sem pensamento de retorno, de autodomínio e equilíbrio. 'Amor', você deve pensar. Diga a palavra se quiser. Continue e insista até você se sentir pleno com a palavra que você está usando. Dessa forma, você é modificado pela forma-pensamento que você criou.   

O que acontece fisicamente no cérebro e em nosso sistema nervoso à medida que aprendemos um novo hábito ou quebramos um antigo? Quando realizamos um ato, estabelecemos uma espécie de caminho cerebral ou nervoso, levando aos centros motores e à matéria dos corpos astral e mental. Assim, na próxima vez que o impulso ou o desejo da ideia de realizar o ato nos atingir, uma vez que o caminho já está marcado, um impulso ou desejo mais fraco percorrerá o mesmo caminho, levando-nos a agir, realizar o desejo, ou o impulso, ou a ideia. Isso pode continuar indefinidamente até que, conforme repetimos o processo, as células nervosas e a matéria dos corpos astral e mental se tornam tão bem-organizadas e integradas que o comportamento resultante se torna quase automático. 

Por esses processos e pelo pensamento constante ao longo das linhas desejadas, podemos reconstruir nossas personalidades e adicionar qualidades que até agora não eram aparentes. Você pode mudar a si mesmo. No entanto, gostaria de alertar sobre a preocupação excessiva consigo mesmo, com a introspecção mórbida e o interesse excessivo nos próprios estados mentais e emocionais. Em vez disso, pratique o desinteresse, o esquecimento e o serviço."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 56/57)


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

ALTRUÍSMO LIVRE DE APEGO

"Porém, até que esse nível de percepção seja atingido, cada momento de sua vida surge da dependência de outro. Você usa roupas e se senta em cadeiras feitas por outras pessoas. Come alimentos cultivados e cozidos por outras pessoas. Por mais que queira acreditar que alcançou realizações com seus próprios esforços, você está unido a todos os outros seres. 

Essa percepção de nossa interdependência leva diretamente a um senso de responsabilidade e à necessidade de abrir mão do desejo de aquisição. Até que tenhamos atingidos o verdadeiro altruísmo, livre da ignorância, podemos começar devolvendo aquilo que recebemos para beneficiar os outros da melhor maneira possível.

Podemos chamar isso de compaixão, amor, cuidado. O significado é o mesmo: em suas ações, palavras e pensamentos, você considera os outros antes de você mesmo. Alguns de nós praticamos a meditação para alcançar essa compreensão; outros são capazes de entender isso por si sós. Mas não importa falar a respeito da compaixão - o importante é praticá-la.

Você precisa de sabedoria para se olhar internamente e ver que tipo de pessoa você é. Compaixão significa abrir mão da autoidentidade, parar de tentar provar sua identidade o tempo todo. Significa que você trabalha da maneira como o vento trabalha, como o sol trabalha, como o ar trabalha. O ar assume a forma de um aposento. Ele não diz 'vou lhe dar este espaço para respirar, desde que você respire da maneira que eu quero'. o mesmo se dá com o sol; ele não para de brilhar quando há nuvens no céu.

Dessa maneira, o altruísmo livre do apego - a compaixão usada com sabedoria - significa ir além do modo como você quer fazer as coisas. Se você consegue abrir mão de se tornar a pessoa mais importante do mundo, haverá mais capacidade e mais espaço dentro de você para trabalhar com os outros. Você descobrirá mais espaço, tempo e energia dentro de si. Imagine, por exemplo, que você consiga trabalhar como voluntário num hospital, mas descubra que há restrições e que você não pode fazer as coisas da maneira como quer. Você luta contra o sistema, fica exausto e conclui que sua compaixão não está sendo usada da melhor maneira. Mas o que precisa ser compreendido, ao aplicar a sabedoria à sua compaixão, é o quanto de solidez você está trazendo para a situação. Ao insistir em como as coisas deveriam ser, você cria uma frustração que prejudica a criatividade que poderia aplicar à situação.

Quando queremos gerar compaixão, terminamos trabalhando com nossas próprias emoções. Descobrimos que uma situação nos oprime na mesma medida em que nós a solidificamos. Portanto, sem sabedoria, a compaixão não atuará. A sabedoria é o que nos permite ser imparciais em nossas ações. Com sabedoria, não estamos limitados a uma causa ou propósito; fazemos o melhor que podemos numa determinada situação e seguimos em frente. 

Sem sabedoria, frequentemente focamos um único problema ou questão que pensamos ser mais importante. Mas vivemos num mundo que é habitado por seres humanos, e enquanto houver bilhões de humanos não haverá uma única coisa que todos aceitem. Muitas coisas não são feitas da maneira como você gostaria. 

Diferentes filosofias surgiram da compaixão - Cristianismo, Budismo, Islamismo, Hinduísmo. Mas eu acredito que esta é a correta, você acredita que aquela é correta, e uma terceira pessoa acredita em outra. Mesmo um conceito tão universal quanto a compaixão, os budistas chamam de bodhicitta, os hindus chamam de karuna, os cristãos chamam de amor. Nós nos aferramos a nossos próprios termos."

(Khandro Rinpoche - Compaixão para uma vida melhor - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 10)
Imagem: Pinterest


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO

"O relacionamento é inevitavelmente doloroso, o que é mostrado na nossa existência cotidiana. Se no relacionamento não houver tensão, ele deixa de ser um relacionamento e se torna apenas um confortável estado de latência, um entorpecente - o que a maioria das pessoas quer e prefere. O conflito se dá entre esse desejo de conforto e o factual, entre a ilusão e a realidade. Se você reconhece a ilusão, então pode, colocando-a de lado, dar sua atenção ao entendimento do relacionamento. Mas se busca segurança no relacionamento, ele se torna um investimento no conforto, na ilusão - e a grandeza do relacionamento é sua própria insegurança. Se sua busca for por segurança no relacionamento, você está impedindo sua função, que é provocar suas próprias ações e infortúnios peculiares. 

Certamente, a função do relacionamento é revelar o estado de bem-estar da pessoa. O relacionamento é um processo de autorrevelação, de autoconhecimento. Essa autorrevelação é dolorosa e exige constante ajustamento, flexibilidade do pensamento e da emoção. É uma luta dolorosa, com períodos de paz iluminada. 

Mas a maioria de nós evita ou põe de lado a tensão no relacionamento, preferindo a calma e o conforto da dependência satisfatória, uma segurança não desafiada, um porto seguro. Então, a família e outros relacionamentos tornam-se um refúgio, o refúgio do imprudente.

Quando a insegurança desliza para a dependência, como inevitavelmente acontece, então esse relacionamento particular é posto de lado e um novo é assumido na esperança de encontrar uma segurança duradoura, Mas não há segurança no relacionamento, e a dependência só gera medo. Sem entender o processo da segurança e do medo, o relacionamento se transforma em um estorvo compulsório, e uma forma de ignorância. Então, toda a existência passa a ser luta e sofrimento, e não há saída para isso exceto no pensamento correto, que surge por meio do autoconhecimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 93/94)


terça-feira, 21 de setembro de 2021

UMA CURA PARA O PLANETA

"Segundo a tradição budista, o universo se manifesta por meio da força kármica coletiva e individual de todos os seres sencientes. A força kármica favorável gera formas que estão em sintonia com o processo vital, e o universo vivo cria um universo não vivo em sintonia com ele. Essa força positiva tem o poder de converter formas que não estejam em sintonia com o universo em formas que estejam sintonizadas. 

Durante o surgimento, o crescimento e a vida madura de um planeta existe coesão entre suas formas vivas e sua própria natureza. Isso é chamado de Era de Ouro, ou Satya Yuga. Mas, após um período de tempo específico, essa força kármica positiva gradualmente retrocede e uma forma kármica negativa ganha força. Isso cria conflitos e contradições entre os seres vivos e não vivos, e faz com que esses seres e o próprio planeta fiquem fora de sintonia com o universo, levando a uma total deterioração e aniquilação. Isso é chamado de Kali Yuga, ou Era de Decadência. 

Hoje em dia, nosso pequeno planeta está sofrendo de falta de coesão, o que resulta em conflitos. Os seres sencientes estão sujeitos a medo e a incontáveis misérias. Isso se deve basicamente à forma kármica coletiva dos seres vivos, que não é fácil de ser corrigida. Porém, não podemos esperar pela transformação dessa força coletiva para resolver nossos problemas. Precisamos de uma abordagem individual para regenerar a nós mesmos e ao mundo. 

'Sair da corrente' é a única solução possível para o mundo atual. Um nadador pode não ser capaz de reverter o fluxo de uma corrente marítima, mas pode ter a liberdade e a habilidade de sair da corrente e nadar em direção à praia. Logo que tiver feito isso, poderá ajudar a socorrer muitos outros. Cada um de nós, individualmente deve cair fora da corrente da civilização moderna e compreender sua responsabilidade universal. Dessa maneira, cada indivíduo pode se sintonizar o o universo.

Gandhi disse que nossos problemas são resultado direto da ganância e do materialismo da civilização moderna. Uma ideia semelhante foi expressa pelo cacique norte-americano Seattle, há mais de 150 anos. Hoje, o mundo se depara com cinco grandes desafios:
  • Aumento incontrolável da população, particularmente nos chamados países do Terceiro mundo.
  • Disparidade econômica crescente entre ricos e pobres.
  • Violência, guerras, terrorismo e o medo de armas de destruição em massa.
  • Degradação ambiental, como aquecimento global, os danos à comada de ozônio, a destruição das florestas e a escassez de água.
  • Intolerância cultural e religiosa; a religião, que deveria ser uma fonte de felicidade, passou a causar conflitos e divisão.
Sabemos desses problemas porque os experienciamos todos os dias. Cada um deles é uma ameaça para a paz, a felicidade e o bem-estar dos seres vivos, e pode terminar com a total aniquilação da Terra. Cada desafio tem facetas diversas e inter-relacionadas. A causa última desses problemas podem ser as forças kármicas negativas, coletivas e individuais, mas a condição imediata que facilita seus efeitos negativos é a civilização moderna, ou, mais acuradamente, a descivilização baseada na ciência e na tecnologia. 

A ciência e a tecnologia modernas beneficiaram uma pequena parcela da humanidade com produção de mercadorias supérfluas, ou seja, sem relação com as reais necessidades das pessoas; e monopólio dessa produção sob a forma de capital, ou do chamado know-how tecnológico.

Esses dois fatores permitem que poucos acumulem riqueza e explorem a natureza e os seres vivos de maneira indiscriminada e constante. Gradualmente os povos se tornaram dependentes. A produção industrializada exige consumidores, e a promoção de mercado é sua consequência lógica. Os fabricantes exploram as emoções negativas da humanidade a seu favor, emoções como o desejo de conforto e a miragem do lazer.

A base para infinita multiplicação de apegos e desejos como esses são a educação e a estrutura social de competição, que desde a infância gera ódio de várias formas. Competir significa, na melhor das hipóteses, ser um adversário de outros competidores, e, na pior, ser inimigo de todos. Nas escolas, os estudantes são estimulados a serem os melhores e a derrotar os restantes. E isso é chamado de 'competição saudável'... Na verdade, competição significa 'vitória do eu sobre os outros'; isso é nada mais que egoísmo e falta de consideração. Na perspectiva budista, a competição é uma coisa imoral, um dos piores comportamentos humanos possíveis.

A exploração do desejo, do apego e do ódio é muito fácil porque estamos sob a influência da ignorância. Aqueles que produzem bens de consumo não apenas exploram nossas emoções negativas, como o desejo e o ódio, mas também nos privam completamente da sabedoria e de discernimento. As pessoas perderam o poder de discernir quais são suas reais necessidades, o que é bom e o que é ruim. Aquilo que supostamente é bom para nós é determinado pelo mercado. Assim, um homem pode facilmente ser levado a acreditar que precisa de doze pares de sapatos e de dezesseis ternos para transitar na sociedade moderna e manter o status social."

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 33/34)


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUALIDADES DO DEVOTO QUE CATIVAM A DEUS (CAPÍTULO XII)

"Aquele que está livre de ódio a todas as criaturas, é amigável e benevolente para com todos, é desprovido de possessividade e da consciência do 'eu', é equânime no sofrimento e na alegria, tudo perdoa e está sempre contente, que pratica yoga com regularidade, buscando o tempo todo conhecer o Eu e unir-se ao Espírito por meio da yoga, que é dotado de firme determinação, com a mente e o discernimento entregues a Mim, esse é Meu devoto e Me é querido. 13-14

Aquele que não perturba o mundo e que não pode ser perturbado pelo mundo, que está livre de exultação, ciúme, receio e preocupação, ele também Me é querido. 15 

Aquele que está livre de expectativas mundanas, que é puro de corpo e mente, que está sempre pronto para agir, que permanece sem se tornar preocupado ou ser afligido pelas circunstâncias, que abandonou todos os empreendimentos motivados pelo desejo e originado no ego, esse é Meu devoto e Me é querido. 16

Aquele que não sente regozijo nem aversão em relação ao que é alegre ou triste (nos aspectos fenomênicos da vida), que está livre da mágoa e dos desejos, que expulsou a consciência relativa de bem e mal, e que é atentamente devotado, esse Me é querido. 17

Aquele que é igualmente sereno diante de amigos e adversários, em face da adoração e da ofensa e diante das experiências de calor e frio, prazer e sofrimento; que renunciou ao apego, e considera iguais a censura e o elogio; que é calmo e se contenta com facilidade, não é apegado à vida doméstica e tem disposição tranquila e piedosa, esse Me é querido. 18-19

Mas aqueles que se mantêm, com amor e veneração, nesta religião (dharma) imortal, revelada até aqui, impregnados de devoção, supremamente absortos em Mim, tais devotos Me são extremamente queridos." 20

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 140/141)

  

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

ACUSAÇÃO E CRÍTICA - V

"Desconfiamos dos outros? Temos medo da intimidade? Sentimo-nos pouco à vontade quando comunicamos nossos mais profundos pensamentos e desejos? Tememos a rejeição ou tememos ser possuídos por alguém?

Todos nossos temores vêm de uma falta de confiança em nós mesmos e não nos outros. Só podemos temer nos outros o que não vencemos em nós mesmos. Se tememos o controle dos outros é porque não nos sentimos no controle de nossa própria vida. Se tememos a rejeição, é possível que tenhamos rejeitado algo muito querido em nós mesmos. Se desconfiamos dos motivos e ações dos outros, provavelmente duvidamos dos nossos. Se reprovamos a hipocrisia dos outros, talvez estejamos nos condenando por não vivermos à altura de nossos mais altos ideais e expectativas. 

Tomás Kempis, um monge e escritor místico alemão do século 15, escreveu: 'O que está em perfeita paz não desconfia de ninguém, mas o que está descontente e perturbado é sacudido por muitas suspeitas. Ele não fica tranquilo nem permite que outros se tranquilizem'.

Hoje deixe-me lembrar a mim mesmo que não é a desconfiança dos outros que devo temer, mas a desconfiança em mim mesmo.

Assim que você confiar em si mesmo aprenderá a viver.
- GOETHE

(Por Liane Cordes - O Lago da Reflexão, Meditações para o autoconhecimento - Ed. Best Seller, 3ª Edição - p. 88)


terça-feira, 25 de maio de 2021

A BUSCA DA VERDADE - excertos 3 e 4

"3.  O mundo não tem substância própria. É apenas a vasta concordância das causas e condições que tiveram sua origem, única e exclusivamente, nas atividades da mente, estimulada pela ignorância, falsas imaginações, desejos e estultícia. Não é algo externo sobre o qual a mente tenha falsos conceitos: não tem nenhuma substância. Apareceu com os processos da própria mente, manifestando suas próprias delusões. É baseado e construído pelos desejos da mente, sem seus sofrimentos e lutas incidentais à dor causada por suas próprias cobiça, ira e estultícia. Os homens que buscam o caminho da Iluminação devem estar prontos para combater esta mente, para poderem atingir seu objetivo.

4.  Ó mente! Por que pairas incansavelmente assim sobre as cambiantes circunstâncias da vida? Por que me deixas tão confuso e inquieto? Por que me incitas a coligir tantas coisas? És como o arado que se quebra em pedaços antes de começar a arar; és como o leme que se desmantela, no momento em que te aventuravas neste mar da vida e da morte. Para que servem os muitos renascimentos se não fazemos bom uso desta vida?

Ó mente minha! Uma vez me levaste a nascer como rei, e outra, me levaste a nascer como um pária e a mendigar meu alimento. Às vezes me faz nascer em divinas mansões dos deuses e a morar na luxúria e êxtase, depois me atiras nas chamas do inferno. 

Ó minha tola, tola mente! Assim me conduziste por longos e diversos caminhos e sempre te fui obediente e dócil. Mas agora que ouvi os ensinamentos de Buda, não mais me perturbarás ou me causarás sofrimentos. Busquemos juntos a Iluminação, humilde e pacientemente.

Ó mente minha! Se pudesses aprender que tudo é não substancial e transitório; se pudesses aprender a não te apegares às coisas, por elas não ansiares, a não dares vazão à cobiça, ira e tolice, então, poderemos caminhar em paz. Se rompermos os grilhões dos desejos com a espada da sabedoria, se não nos abalarmos com as mutáveis circunstâncias da vida, com a vantagem ou desvantagem, com o bem ou mal, com a perda ou lucro, com o louvor ou o abuso, então, poderemos viver em paz.

Ó mente querida! Foste tu que primeiro despertaste em nós a fé; foste tu que sugeriste a nossa procura da Iluminação. Por que, facilmente, dás lugar à cobiça, ao amor pelo conforto e ao prazer novamente?

Ó minha mente! Por que saltitas para cá e para lá, sem um definido propósito? Cruzemos este bravio mar da delusão. Até aqui agi como desejaste, mas agora deves agir como eu quiser e, juntos, seguiremos o ensinamento de Buda.

Ó mente querida! Estas montanhas, estes rios e mares são inconstantes e fontes do sofrimento. Onde, neste mundo de delusão, poderemos encontrar paz? Sigamos o ensinamento de Buda e atinjamos a outra praia da Iluminação."

(A Doutrina de Buda, Bukkyo Dendo Kyobai, Terceira edição revista, 1982, p. 305/309)