" (...) O sofrimento nem sempre é útil e pode mesmo ser quase totalmente inútil, quando não contribui para tornar o indivíduo melhor ou para levá-lo a considerar a vida sob aspecto mais elevado. Assim, há indivíduos que arrastam uma doença por anos e anos, a procurar a cura em consultórios médicos, em sessões espíritas, ou em santos milagreiros. De que valerá curarem-se, ou de que valeu o seu sofrimento, se a alma continuar doente, presa aos mesmos vícios, à mesma ignorância, aos mesmos preconceitos, ao mesmo egoísmo? A alma doente irá gerar novo corpo doente nesta existência ou em outras posteriores.
Igualmente, há indivíduos que se debatem em situações aflitivas, a procurar resolvê-las na parte material, sem procurar analisar a causa de seu sofrimento e, por isto, sem chegarem a compreender que a dor presente é o resultado do egoísmo e do desconhecimento das leis divinas.
Conhecer o Carma intelectualmente muita gente o conhece; a maior dificuldade, porém, não está em conhecer a lei, mas em ter a convicção íntima de que ela existe, de que age. Assim, podemos dizer à criança de um ano de idade que não se chegue ao fogo, porque se queimará. Ela tem o conhecimento disto, mas não tem a certeza. Desde que se queime, nunca mais o fará, porque já tem a certeza de que aquilo acontece.
Da mesma forma, sabemos que o mal atrai o sofrimento e o bem atrai a felicidade. Sabemos que se infringirmos as leis divinas teremos o sofrimento, não por castigo ou vingança, no sentido literal do "olho por olho e dente por dente", mas como consequência inelutável de uma lei. Mas, não temos convicção disto e, esperamos também... encostar a mão no fogo e não nos queimarmos... Isto se dá mesmo na vida cotidiana, com assuntos materiais. Sabe-se que o fumo e o álcool fazem mal. Mas todos aqueles que fumam ou bebem, pensam que para eles nada acontecerá, ou procuram não pensar nas consequências de seu vício. Irão ter a certeza íntima e dolorosa, diante da úlcera de estômago, do câncer, do coração arrasado, do sistema nervoso abalado etc. ...
Numa existência, estamos, naturalmente, presos a uma série de contingências resultantes de existências anteriores. Nascemos com numerosas limitações físicas, intelectuais e morais, com dificuldades, econômicas dependentes do meio e da família em que nascemos. Ora, cumpre-nos colocarmo-nos na posição da pessoa que, embora reconhecendo suas limitações e dificuldades, procura superá-las, para não vê-las repetidas em outra vida.
A evolução e o carma são leis divinas, cósmicas, as quais devemos conhecer e respeitar. Assim como se domina a natureza ao conhecer e obedecer às suas leis, o mesmo acontece com o carma."
(Alberto Lyra - O Ensino dos Mahatmas - IBRASA, São Paulo - p. 209/210)