"(...) Buda afirmou que os pensamentos de amor poluem a mente, enquanto o próprio amor limpa e purifica. Krishnamurti falou que quando a ação surge do pensamento não há amor. Nos seus
Comentários sobre a vida, ele disse que os sentidos de tempo, espaço, separação e dor nascem do pensar, e que só quando cessa o pensamento pode haver amor.
Buda não explicou em detalhes o que é o amor, mas explicou a causa da ausência de amor na vida do ser humano. A abordagem de Krishnamurti é diferente, mas tem por meta o mesmo estado de bondade e amor. Ele nos instiga a descobrir que o que cria a servidão não é o amor verdadeiro, mas a sentimentalidade, o apego às pessoas num relacionamento emocional. Quando existe esse tipo de sentimentalismo e de autopromoção por meio de outra pessoa, a coisa pode facilmente mudar e se tornar ira, frustração ou crueldade. Podemos encontrar muitos casos semelhantes na vida comum, quando o assim chamado amor transforma-se em animosidade e depois em ódio.
Portanto, o que chamamos de amor traz consigo complicações e tumulto interior. Krishnamurti disse: 'O que vamos fazer é descobrir o valor do conhecido, olhar para o conhecido. Quando se olha para ele com pureza, sem condenação, a mente liberta-se do conhecido. Somente então podemos saber o que é o amor.' O teste talvez esteja na sensação de perda, de solidão, se essa posse não mais for possível. E o teste maior está na morte, quando ela traz o sentimento de que tudo foi perdido.
Helena Blavatsky afirmou, num de seus escritos, que, 'quando existe amor verdadeiro, não há absolutamente qualquer senso de separação'. A pessoa pode se examinar e verificar se o senso de separação é realmente compatível com o amor, ou se ele surge junto com o desejo de possuir. Quando há o sentimento de que algumas pessoas importam tremendamente e outras não, será isso realmente amor, ou alguma forma de busca egoísta? (...)"
(Radha Burnier - Amar é conhecer - Revista Sophia, Ano 8, nº 31 - p. 25)