"Assim que se foram os discípulos de João Batista, entrou Jesus a tecer um panegírico do seu precursor.
Realçou-lhe a firmeza do caráter e a austeridade da vida.
Remontando ao tempo em que o silencioso eremita vivia na solidão do deserto, perguntou Jesus aos seus ouvintes:
- Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?
Do meio do auditório partiram negativas. Bem se lembrava o povo da intrepidez com que o vingador da moralidade pública lançara em rosto ao real libertino da Galileia: 'Não te é lícito possuíres a mulher de teu irmão!' E saibam todos que por causa desta corajosa franqueza jazia em ferros. O caráter de João era rijo como os cedros do Líbano, e não frágil como os canaviais do Jordão.
Prosseguiu Jesus:
- Que saístes, pois a ver? Um homem em roupas delicadas? Novas vozes no auditório; risadas talvez; porque o pêlo hirsuto de camelo que o cobria não merecia, certamente, o nome de 'roupa delicada'.
Continuou Jesus dizendo:
- Com efeito, os que vestem roupas delicadas e vivem com luxo se encontram nos palácios dos reis.
O 'luxo' do Batista eram gafanhotos e mel silvestre, e o seu 'palácio real' era o deserto inóspito da Judéia...
- Que saístes, pois, a ver?
- Um profeta! - exclamou alguém.
- Um profeta? - respondeu Jesus. - Sim, digo-vos eu, e mais que profeta! Esse é de quem está escrito: Eis que envio a preceder-te o meu arauto, a fim de preparar o meu caminho diante de ti. Declaro-vos que entre os filhos de mulher não há maior do que João Batista."
Huberto Rohden, Jesus Nazareno, Ed. Martin Claret Ltda, São Paulo, 2007, p. 123.
Imagem: Pinterest.
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